27 - Seu cheiro

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Pov Maraisa 

Minhas bochechas estavam vermelhas, meu cabelo, uma bagunça desgrenhada e eu parecia estar exatamente como estava: fodida. 

Corri para o banheiro, assim Marília poderia atender a porta do escritório. Olhando no espelho agora, não havia dúvida de que tinha feito a escolha certa. Estava ainda mais certa disso quando ouvi a voz de Luísa. Ótimo, a vice-presidente de recursos humanos acabou de entrar na sala de Marília, que provavelmente ainda cheirava a sexo. 

A serenidade que eu senti menos de três minutos atrás foi substituída por sua amiga, a paranoia. 

Fizemos muito barulho? Gemi alto? O escritório inteiro ouviu?  

O que eu estava fazendo? Estabeleci regras básicas e as quebrei na primeira vez que Marília pressionou um pouco. Não tinha aprendido nada com meus erros? 

Vulnerável, fui, na ponta dos pés, até a porta e encostei a orelha contra ela. 

— O que você estava fazendo? — perguntou Luísa. 

— Estava ao telefone. 

Sua voz soou suspeita. Imaginei que ela semicerrava os olhos enquanto falava. 

— Com quem? 

— Um fornecedor. Não que seja da sua conta. O que você quer, Lu? 

A voz dela se tornou mais distante e tive que me esforçar para ouvir. Ela deve ter caminhado até a janela ou para a área de estar, do outro lado da sala. 

— A detetive Balsamo me ligou nesta manhã. Ela está procurando você. 

— Estive ocupada. 

— É por isso que estou aqui. Não é como se você deixasse para lá qualquer coisa relacionada a Lauana. Houve um tempo em que eles não conseguiam tirar você da delegacia, de tanto que estava envolvida.  

— Foi na época em que larguei meu trabalho e passei a maioria das noites bêbada. Não quero voltar àqueles dias. 

— Entendo. De verdade. Mas queria ter certeza de que nada mais estava acontecendo. Você parece... diferente ultimamente. 

— Diferente? Como? 

— Não sei. Mais jovial, acho. 

— Jovial? E eu sou o quê? Uma velha gorda alegre que anda em um trenó? 

— Algo está acontecendo com você. Eu sei. Está saindo com alguém? 

A sala ficou quieta por um minuto, e me perguntei como ela responderia. Parte de mim queria que ela dissesse que estava, só para ouvi-la declarar em voz alta para um de seus amigos mais próximos. Mas ela estava falando com a vice-presidente de recursos humanos do trabalho – provavelmente não era a melhor pessoa para fazer essa declaração. 

— Não que diga respeito a você, mas, sim, estou. 

— Alguém com quem você já saiu antes? 

— Não vou falar sobre isso. 

— Quando vou conhecê-la?  

— Quando eu estiver pronta. 

— Isso significa que você espera que ela fique por perto? 

Marília bufou. 

— Tem algo realmente importante que você tenha vindo discutir? Porque eu estava ocupada quando você apareceu. 

— Tudo bem. Mas você ama minhas interrupções, sabe disso. 

Ouvi passos se aproximarem, seguidos do clique da maçaneta da porta, mas depois ficou silêncio de novo sem que a porta tivesse se fechado. 

A voz de Luísa estava séria quando falou e, por algum motivo, eu a visualizei, parando e olhando por cima do ombro. 

— Estou feliz que você siga em frente, Marília. Espero que dê certo e que eu a conheça. 

Ela parou por um segundo e, depois, falou suavemente: 

— Talvez seja hora de tirar o santuário também. 

Esperei alguns minutos antes de abrir a porta, hesitante. Marília abriu as janelas e estava olhando o anúncio no prédio do outro lado da rua. 

Ela não se virou para mim quando falou. 

— Desculpe por isso.  

— As coisas foram longe demais hoje. Não deveríamos ter... — Eu parei. 

Ela estava quieta. Assumi que a mudança de humor era por causa do que eu ouvira. Embora nunca tenha tido ex-noivo, imaginei que falar sobre a ex-noiva morta era um tabu dos grandes. Então ela me surpreendeu quando se virou e falou: 

— Eu quero isso. 

— Sexo no escritório? 

O canto do lábio dela se contraiu. 

— Também. Mas não foi o que eu quis dizer. 

— Não? 

Ela balançou a cabeça. 

— Quero isso. Eu e você. Luísa veio aqui conversar sobre Lauana. A detetive do caso ligou para ela. Está na época da ligação anual, na qual ela me diz que ainda estão trabalhando no caso, mas nada de novo surgiu. 

— Sinto muito. Ela telefonou na semana passada, certo? Deve ser difícil. 

Ela assentiu. 

— Sempre foi difícil. Não estou dizendo que é fácil agora. Mas normalmente vou para um lugar sombrio depois da menção do caso. Eu quase esperava me sentir miserável depois que Luísa saiu pela porta, esperava que me atingisse mesmo. Respirei fundo, e sabe o que aconteceu? 

— O quê? 

— Senti seu cheiro em mim. 

Pisquei algumas vezes. 

— Não entendi. 

Ela deu de ombros. 

— Eu também não. Mas amei sentir seu cheiro. 

Ela parecia sincera, mesmo que fosse uma coisa bizarra de dizer. 

— E sentir o meu cheiro fez você se sentir melhor? 

Seu sorriso era torto. 

— Aham. 

— Tudo bem, então. — Tentei evitar o rubor. — Eu realmente deveria voltar ao trabalho. 

— Jantar hoje à noite? 

— Seria ótimo. Que tal se eu preparar algo em casa? 

— Melhor ainda. Assim não perco tempo levando você para casa para tirar sua roupa.

Talvez não volto mais hj gente 😶‍🌫️

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Minha Chefe Criativa - Malila | G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora