25 - Quando? E se...?

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Pov Maraisa 

Acordei com Marília tentando respirar. Era um barulho ensurdecedor que parecia sair de dentro dela e não hesitei antes de acordá-la. 

— Marília, acorde. — Eu a cutuquei com força. 

Ela abriu os olhos e me encarou, mas era como se não me visse de fato. 

— Você estava tendo outro pesadelo. 

Ela piscou algumas vezes e sua visão entrou em foco. 

— Você está bem? — perguntou ela. 

— Estou. Mas você... parecia que não conseguia respirar. 

Eu não tinha certeza se era um pesadelo ou se estava realmente tendo alguma dificuldade respiratória. 

Marília se sentou. Seu rosto estava úmido de suor e ela enxugou a testa com o dorso da mão.  

— Desculpe por tê-la acordado. 

Assim como no dia anterior, ela saiu da cama e passou dez minutos no banheiro, com a água correndo. Quando voltou, ela se sentou de novo na beirada da cama; eu fiz o mesmo que pela manhã e a abracei por trás, só que agora eu estava vestindo uma camiseta. 

— Você está bem? — perguntei. 

Ela assentiu. 

— Tem algo que eu possa fazer? 

— Você poderia tirar a camiseta. Seus peitos pressionados contra minhas costas contribuem muito para aliviar os pesadelos. 

Assinalei o óbvio: 

— Hummm... você já está acordada. Não acho que isso ajudaria com os pesadelos de hoje. 

— Talvez agora não, mas sempre tem amanhã. 

Eu sorri, me inclinei para trás e tirei a camiseta. Pressionando a pele nua contra a dela, perguntei: 

— Melhor? 

— Claro que sim. 

Ficamos assim por uns bons dez minutos, nossas respirações se sincronizando no quarto silencioso e escuro.  

— O pai de Lauana foi embora quando ela era pequena e ela, a mãe e as duas irmãs fizeram todas as refeições em um abrigo por um tempo. Quando Lauana ficou mais velha, ela queria retribuir o que fizeram por ela, então se voluntariou em alguns restaurantes comunitários. Ela fez amizade com um cara, Eddie, que tinha problemas com as pessoas se aproximarem muito dele e, por isso, se recusava a dormir nos abrigos. Eddie estava sendo agredido por um grupo de adolescentes. Eles apareceram à noite em um acampamento em que havia muitas pessoas que não tinham onde dormir – e começaram os problemas. Era um jogo dos garotos. E todos os dias Eddie aparecia com um corte na cabeça ou com hematomas. 

— Que horrível! 

— Sim. Lauana foi à polícia, mas não fizeram muito. Eddie não falava mais que uma ou duas palavras aqui e ali, e Lauana não podia deixar quieto. Ela começou a segui-lo à noite para ver onde ele estava dormindo, pensando que, se desse mais detalhes à polícia, eles investigariam o caso. Eu avisei que não era seguro, mas ela não me ouviu. No dia de nossa festa de noivado, Eddie apareceu no abrigo com o nariz quebrado e os olhos roxos. Lauana descobriu onde ele ficava e apareceu para ver se tirava mais informações dos outros, já que Eddie não falava muito. Ela me esperaria na estação de trem. 

— Puta merda. 

— Eu a encontrei alguns minutos depois. Eddie a estava embalando e balançando de um lado para o outro, sentado em uma poça do sangue dela. Foi um ferimento à faca. Ela deve ter ficado no caminho do jogo de bater em pessoas sem-teto. — Ela respirou profundamente. — Ela morreu antes que a levassem para a ambulância. 

Minha Chefe Criativa - Malila | G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora