23 | Uma chama frágil

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Loose lips sink ships all the damn time
Not this time

Línguas soltas afundam navios o tempo todo
Não desta vez


I know places

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— Vem se sentar comigo — Emily pede assim que adentramos o vagão do trem que nos levará de volta a Barcelona.

Ainda são nove horas da manhã. Coloco uma mão diante da boca para abafar um bocejo e assinto.

Depois olho de relance para Connie, que entra no vagão atrás de mim. Ela está com o cabelo preso e headphones ao redor do pescoço, pousados sobre os ombros. Se seus lábios estão um pouco mais avermelhados do que o normal, torço para ser a única a notar, e ergo os ombros como se a decisão de me sentar ao lado dela tivesse sido retirada de mim. Não foi. Emily entenderia se eu dissesse que quero passar esse restinho da viagem com Connie. Ah, ela definitivamente faria perguntas sobre o motivo e me provocaria sobre isso, mas entenderia.

É só que... será que não é demais? Dormir com Connie, acordar com ela e agora querer passar toda a duração da viagem de trem ao seu lado?

Agora que deixamos aquele quarto — e o chalé inteiro —, eu me sinto um pouco desprendida da pessoa que era momentos antes. Onde antes existia apenas o alívio de finalmente ter o que eu queria com Connie, restam dúvidas.

O que nós somos agora?

Amigas, certo? Amigas coloridas.

E isso significa que não posso passar uma viagem de trem inteira com a minha cabeça descansando no ombro dela. Que não posso beijá-la assim, como quem não quer nada. Então melhor não nos sentarmos juntas porque, no estado em que me encontro, não sei se conseguiria evitar.

Connie, diante do meu gesto de "ah, que pena, não vamos nos sentar juntas", só dá um de seus meios sorrisos costumeiros, que interpreto como sua maneira de dizer que está tudo bem. Nós nos separamos na metade do vagão, quando ela se senta ao lado de um estranho.

Emily segura meu pulso, me puxando até dois lugares livres mais ao final. Enquanto coloco minha mochila no bagageiro, vejo nossas outras amigas se acomodando também. A maioria precisa se sentar ao lado de desconhecidos, assim como Connie fez.

Eu me sento ao lado da janela e, quando estou colocando o cinto de segurança, Emily se aproxima para sussurrar:

— Alba e eu transamos.

Olho de lado para ela, sorrindo.

— Não diga — murmuro, num tom irônico. Ela nem se abala, só retribui meu sorriso. — Foi bom, né?

— Bom? — Ela dá uma olhada ao redor e abaixa o tom de voz: — Não acho que consigo parar. Precisei pedir para você sentar comigo porque, se eu sentasse com a Alba, não ia conseguir me conter.

Eu solto uma gargalhada. Às vezes, é como se Emily e eu fôssemos parte da mesma alma, mas divida em dois corpos.

— Sexo no trem? — provoco, como se a preocupação dela em relação a Alba não fosse a mesma que sinto com Connie. — Uau, ousado. Você deveria ter ido fundo nessa ideia, aproveitado o momento.

— Nós representamos um time, Becs. Um país, até. Não podemos ser pegas fodendo mulheres em trens.

O jeito como ela diz isso, num sussurro exasperado, me faz rir mais ainda.

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