[EXTRA] Você pediu por isso

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Olhando para o porta-retrato sobre a mesa, Albert Aldersey apertou os lábios numa linha fina. Na imagem, ele segurava Helena, ainda recém-nascida, com uma expressão contida, sem demonstrar qualquer emoção. Ao lado dele, estavam os dois filhos mais velhos; à esquerda, Jason olhava para a câmera sério, enquanto na direita, Cassandra sorria largamente, claramente empolgada com a nova adição à família.

"Você não cansa de nos contrariar, não é?", ele pensou consigo, desviando o olhar para os documentos que Henry tinha deixado em Stansted House, a pedido dele. E dada a quantidade de papel que havia dentro dela, o homem tinha trabalhado bastante nas últimas semanas em busca de informações.

Ao abrir a pasta, Albert se deparou com uma foto grande de um homem. Ele tinha um sorriso no rosto, o olhar direcionado para algum ponto à esquerda da câmera. Cabelos escuros, olhos castanhos, camisa branca com os dois primeiros botões abertos. As logos costuradas nos braços e no peito dele em fio preto eram familiares.

— Torger Wolff — ele murmurou, lendo o que estava escrito logo abaixo da imagem, junto com os créditos da foto. Nem um pouco semelhante ao nome que Andromeda tinha dito a ele quando falou sobre o encontro com Cassandra na casa da filha caçula deles.

Ele tinha percebido que a esposa não estava bem assim que a ouviu chegando em casa. Ele a escutou avisando para John, o mordomo deles, que as coisas que ela tinha comprado em Savile Row estavam no porta-malas do carro e deviam ser levadas para o closet de Albert. Ele também ouviu Andromeda avançar na direção da escada em passos rápidos, os saltos ecoando pelo corredor.

— Andromeda — ele a chamou em voz alta. O clique dos sapatos se deteve momentaneamente, como se a mulher tivesse parado por alguns segundos antes de mudar de direção e ir rumo à sala de estar. Assim que ela apareceu na porta, Albert ergueu os olhos do jornal e constatou que, de fato, havia algo errado com ela.

— Sim, Albert — ela disse em voz baixa.

— Tudo bem? — Albert a questionou, baixando a edição do Daily Mail no colo.

— Sim — Andromeda respondeu, a voz tensa. O vestido azul marinho que ela estava usando tinha uma mancha escura em destaque no tecido.

— Teve algum problema pra pegar o meu terno?

— Não, ele tava pronto. O John vai levar pro seu closet.

Um silêncio desconfortável se estendeu entre eles.

— O que é essa mancha no seu vestido?

Olhando para baixo, Andromeda apertou os lábios.

— Derrubei chá.

— Onde você foi tomar chá?

— Eu fui em Pimlico visitar a Helena. O Jack tá na Suíça, ela tá sozinha com o Tommy e eu achei que seria bom dar uma passada, ver como eles tavam — ela bufou, levando a mão até a testa, suspirando — Só que a Cassandra tava lá...

Era um nome que ele não ouvia há algum tempo e que esperava esquecer o quanto antes; era o maior erro que ele já cometeu, se é que teve alguma participação nele, o que ainda era uma incerteza até hoje.

— E o que aquela vagabunda falou dessa vez?

— Albert — a mulher dele falou, quase num tom de repreensão.

— O quê, Andromeda?

— Por favor...

Albert não se conteve. Sempre que a filha dele era citada em conversas privadas, ele não conseguia deixar de falar sobre como ela havia errado com ele.

A filha dele — se ela fosse dele, veja bem — sempre teve uma tendência à rebeldia, pensando que era boa demais para ser apenas esposa e mãe e que precisava fazer seu próprio caminho. Ela era uma aberração ingrata que tinha cuspido nas tradições e ideais que a família tinha mantido durante séculos.

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