[EXTRA] Limites

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Toto estava olhando para o teto do quarto por um tempo. O cheiro do shampoo de Cassie encheu as narinas dele, as notas de coco e algo fresco — talvez limão? — estava o mantendo desperto, apesar dele se sentir fisicamente esgotado. O mesmo pensamento se repetia na mente dele, como um disco arranhado.

"Você não podia ter feito isso".

Completamente nua e encolhida contra o corpo dele, Cassie dormia profunda e pacificamente. Mechas de cabelo ruivo caíam em seu rosto, e ela parecia tão satisfeita que quase parecia que estava sorrindo. Parecia que ela estava tendo a primeira noite de sono decente em dias.

"Você não podia ter feito isso".

Quando ele decidiu ir ao apartamento de Cassie depois de não encontrá-la na fábrica depois de voltar de viagem, ele jamais teria imaginado o rumo que a noite tomaria. Ele precisava vê-la. Ela não atendia nenhuma de suas ligações havia duas semanas e parecia evitá-lo no trabalho. Assim, ele se viu tocando a campainha do apartamento dela logo depois de sair do trabalho à noite.

Talvez ele devesse ter vindo antes, mas, ao mesmo tempo, Toto não queria parecer muito controlador, como se a estivesse sufocando ou desesperado, mesmo que fosse essa a emoção que sentia toda vez que ouvia a gravação do correio de voz dela, pedindo para que ele deixasse uma mensagem que ela responderia em breve.

Quando Cassie abriu a porta do apartamento dela para Toto entrar, ele ficou um pouco chocado. Seus olhos estavam inchados, como se ela tivesse chorado. Eles estavam fundos e com olheiras. O nariz dela estava vermelho e o cabelo estava bagunçado. Era como se ela tivesse perdido o brilho habitual que ela tinha. Vê-la daquele jeito fez o estômago dele revirar, uma estranha sensação de culpa se instalando em seu peito.

— O que você tá fazendo aqui?

— Vim ver se você ainda tá viva — Toto respondeu — Você tá bebendo?

— Sim.

— Você não devia tá bebendo, Cassandra — disse ele, repreendendo-a. Ela deveria saber disso.

— Por que não? — ela perguntou, tomando um gole desafiador — Não é como se eu tivesse grávida mesmo.

As palavras dela o atingiram como um soco. Enquanto ele estava na China, Toto estava convencido de que Cassie estava grávida. Ele não estava totalmente otimista com o processo, afinal, havia uma chance considerável de não dar certo, pelo que ele havia lido. Mas havia algo na empolgação de Cassie que o fez acreditar que havia se tornado um futuro pai após a última visita deles à clínica de fertilidade. O silêncio que se seguiu nas semanas seguintes deveria tê-lo feito colocar os pés no chão, mas Toto permaneceu esperançoso, acreditando que havia alguém crescendo no ventre de Cassie.

Naquele momento, Toto pensou, ele deveria saber que algo estava errado pelo fato de que Cassie parecia estar evitando-o. Ele sabia que ela tinha um exame de sangue agendado durante a viagem dele. Quando ele ligou uma vez, ela atendeu o telefone e desligou sem dizer uma palavra. Toto deveria saber então que os resultados não foram o que eles esperavam.

No entanto, havia uma parte dele que ainda queria acreditar que o silêncio era apenas porque ela estava ocupada, ou porque queria surpreendê-lo. Nem mesmo sua inclinação natural para o pessimismo superou sua esperança de que Cassie estivesse grávida.

Ele entrou no apartamento dela e se sentou com ela para discutir as razões pelas quais ela não havia contado a ele, ou não tentou retornar nenhum contato dele. Toto sempre procurou se colocar à disposição, participando o máximo possível do processo e, naquele momento, não conseguia afastar a sensação de que estava falhando nesse esforço. Quando Toto tentou explicar que se importava e que tanto ela quanto o bebê podiam contar com ele, Cassie explodiu.

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