[EXTRA] Quem é que você guarda nessa sua cabeça

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Parado ao lado da maca, Toto observava atentamente o movimento no ambiente enquanto segurava a mão dela. O médico lavava as mãos, enquanto duas enfermeiras olhavam alguns documentos no computador da sala, apontando para algo na tela. Em um canto, uma mulher arrumava algumas seringas com o que ele presumiu ser a medicação anestésica que seria administrada em Cassie, que estava deitada em uma mesa de exame, com as pernas em estribos e coberta por um pano cirúrgico, segurando a mão dele com força.

Os olhos dela estavam fixos no teto, os cabelos ruivos cobertos por uma touca cirúrgica. Ela não queria que ele percebesse, mas a maneira como franzia os lábios e respirava fundo era uma indicação clara de que estava nervosa.

Quem não estaria nessa situação?

Ela estava prestes a ser sedada, com as pernas abertas, para que um médico que ela tinha visto algumas vezes pudesse coletar seus óvulos. O procedimento envolvia passar uma agulha e um cateter pela parede vaginal até os ovários e retirar os óvulos um a um, com uma leve sucção. Se a descrição do procedimento parecia assustadora para Toto, ele não conseguia imaginar como soava para Cassie.

"Ela é muito corajosa", ele pensou, passando o polegar pela pele dela, tentando oferecer algum conforto. Era a única coisa que podia fazer no momento.

— Toto? — ele a ouviu dizer, baixinho.

— Sim?

Ela hesitou por alguns segundos.

— Você vai tá aqui quando eu acordar?

— Sim, Cassie. Eu não vou a lugar nenhum. Não se preocupa.

Um pequeno sorriso apareceu nos lábios dela. Era tímido, mas foi suficiente para fazê-lo sorrir também, levando a mão dela aos lábios para beijar os nós dos seus dedos.

Toto sabia que nunca seria capaz de mostrar o quanto estava grato por Cassie ter aceitado a oferta para ser o pai do filho dela. A paternidade era um de seus maiores desejos. Porém, devido a rotina caótica que ele tinha, a busca por uma companheira se tornou muito difícil. Ele chegou a receber a sugestão para que tentasse entrar em um aplicativo de namoro, mas a falta de afinidade com eletrônicos o fez descartar a possibilidade.

Ter um filho parecia um sonho quase impossível, até que Cassie apareceu.

Descobrir a ideia dela de gerar e criar um filho sozinha fez o coração dele afundar. Toto sabia exatamente como era não ter uma figura paterna. Podia parecer diferente, porque ele tinha perdido o pai, mas isso não importava para Toto. Ele sabia o quanto doía quando, no Dia dos Pais, ele precisava entregar o desenho que havia feito na escola para a mãe, que dava um sorriso triste e um beijo em sua testa, com os olhos cheios de lágrimas ao colocar o desenho em uma gaveta com tantos outros, que eram dedicados ao pai dele e não a ela.

Ouvir Cassie descrever como ela imaginava sua vida como mãe solteira o lembrou da própria mãe. Joanna tinha trabalhado duro tentando manter ele e sua irmã alimentados, vestidos e na escola. Isso custou muito da presença dela na vida dos filhos, afetando permanentemente seu relacionamento.

Ele não podia permitir que outra criança passasse por isso, não se pudesse impedir.

Oferecer-se para participar do processo foi uma atitude ousada da parte dele. Toto e Cassie eram amigos próximos, confidentes, mas não eram íntimos o suficiente para criar um filho juntos. Mas quando ela pediu um tempo para pensar, uma centelha de esperança permaneceu em seu peito.

Ela precisava de algo mais, mais um motivo.

Então, veio a ideia de mandar as fotos dele quando era pequeno. Ele não tinha muitas em casa, a maioria estava com a mãe em Viena. A resposta de Cassie veio horas depois, um simples pedido para que se encontrassem em um café no centro de Oxford.

Fácil de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora