Fácil de amar

[EXTRA] Alegria

 A imagem na tela do celular de Toto parecia saída de um sonho. Nas bordas da foto, seus dedos seguravam um pequeno retângulo brilhante com uma imagem impressa em preto e branco. Não era de alta qualidade ou definição, mas provavelmente era a foto favorita dele na Terra.

Nela havia uma bolota branca ligeiramente alongada, descansando no fundo de um oval escuro. Na parte inferior da imagem, havia uma série de linhas em picos e vales consistentes, representando um batimento cardíaco. Era a prova absoluta de que ele não estava apenas imaginando coisas. Ele ia ter um filho.

"Um filho com ela", Toto pensou, enquanto pensava na maneira como Cassie sorriu para ele ao lhe contar a notícia alguns domingos antes. A lembrança fez com que ele sentisse o peito se aquecer.

Enquanto Toto estava em Barcelona para o Grande Prêmio da Espanha, ele ligou para Cassie para saber como tinha sido a consulta na clínica de fertilidade. Ela havia agendado uma coleta de sangue e um exame naquele dia antes de iniciarem a segunda tentativa de fertilização in vitro, depois que a primeira tentativa falhou. Enquanto falavam ao telefone, Toto percebeu uma certa hesitação — talvez medo — no tom de voz de Cassie. O primeiro pensamento dele era que algo estava errado, mas ela não disse nada.

Isso fez com que todo o fim de semana se arrastasse pelo que pareceu uma eternidade. Apesar dos esforços para manter o foco em suas funções com a equipe naquele fim de semana, ele se sentia consumido internamente pela angústia e ansiedade. Durante os debriefs, ele pensou no que aconteceria quando ele fosse ao apartamento de Cassie ao voltar para Oxford. Ele temia o pior — que o que quer que tivesse causado o fracasso da primeira tentativa fosse um problema maior do que o esperado e impediria qualquer tentativa futura de concepção, pondo fim ao sonho deles.

Ele também não suportava a possibilidade de ver Cassie no estado em que a encontrou quando voltou do Bahrein. Ela tinha ficado arrasada com o fracasso da primeira tentativa, aos soluços, falando sobre o quão fracassada era. A tristeza dela naquela noite era como uma faca no peito de Toto, de tão profunda que era a dor que ele sentia por ela e por si mesmo. Ele esperava nunca mais ter que vê-la tão triste de novo, disso ele tinha certeza.

Ele se atormentou imaginando todos os cenários possíveis durante o voo de volta ao Reino Unido, bem como no trajeto até o bairro dela no norte de Oxford. Ele se preparou para ver Cassie exatamente como ela tinha estado naquela terrível noite de abril.

Quando ela abriu a porta, porém, tudo parecia bem. Aquilo aliviou um pouco o coração dele.

— Boa noite, Cassie — ele disse.

— Boa noite — respondeu ela, com uma expressão serena no rosto — Entra.

Ele entrou no apartamento e tirou os sapatos perto da porta, olhando ao redor da sala para ver se estava como da última vez, com lenços de papel descartados, garrafas de vinho vazias e várias coisas espalhadas, esquecidas por Cassie. Ele ficou aliviado ao ver que tudo parecia perfeitamente organizado como sempre, apenas uma caixa branca na mesa de centro e um episódio de alguma série que ele não conhecia pausado na tela da televisão.

Toto ouviu os passos de Cassie atrás dele e se virou para encará-la.

— Bem, eu ia vir hoje mesmo, mas você disse que precisava falar comigo, então resolvi passar aqui antes de ir para casa.

— Sim, eu precisava... Eu preciso.

— Bem, eu tô aqui.

Seu peito se apertou com o silêncio constrangedor.

— Cassie, tem algo errado? Apareceu algo no seu exame de sangue?

— Acho melhor você se sentar — respondeu ela, com a voz embargada.