nós precisamos terminar aquilo

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Depois do trabalho eu tomo um banho para ficar cheiroso para o meu amor. Não vou mentir, eu usei hidratante corporal e dei uma penteada legal no cabelo. Percebo que a gente passou tanto tempo fora que o tempo aqui já não está tão quente quanto antes, mas não estou nem aí. Visto uma camisa cuja estampa é um screenshot de uma cena engraçada da série que assisto e, além disso, ainda estou com uma calça jeans azul e dane-se. O look é básico porque já é noite e ninguém vai ficar olhando para a minha cara, pelo amor de Deus né. Vou nem me estressar com isso.

açúcar papai: miiiiiin
açúcar papai: a porta do fundo da cozinha não tá trancada
açúcar papai: entre por lá, mas depois tranque
açúcar papai: a chave está na maçaneta
açúcar papai: venha com ela até meu escritório
açúcar papai: tô te esperando ;)

Eu estou até nervoso com isso, sei lá. Já estou chegando, na verdade. Estou no ônibus e, embora eu esteja com um pouco de sono, eu fumei antes de tomar banho (claro, se fosse o contrário ele iria descobrir que fumei e ficar bravo comigo) e bebi bastante café. Estou meio alerta, por mais que meio ansioso. É o preço que se paga pela cafeína, então dane-se.

Eu respondo que já estou indo e depois ele me manda um gif dele todo fofo com os óculos na pontinha do nariz, fazendo um beicinho e sinal de "legal" com a mão esquerda. Eu fico que nem um maluco no meio do ônibus, mas a culpa não é minha se ele é uma coisinha fofa e adorável. Então eu me lembro de algo e mando uma mensagem perguntando se ele quer que eu leve algo para comer.

açúcar papai: já comi tem uma hora
açúcar papai: só vou comer de novo mais tarde
açúcar papai: desculpa não ter te esperado
açúcar papai: eu estava com muita fome, porque realmente não comi direito hoje
açúcar papai: quando chegarmos no seu apê, a gente come alguma coisa tá?

Eu respondo que não precisa se preocupar com isso, mas ele insiste porque, segundo ele, eu com certeza não comi depois do almoço. Olha, veja bem, comer uma barrinha de cereal com chocolate amargo e banana é considerado alimentação, então eu acho que está muito mais que válido. Mas não vou discutir com ele. Aceito sua decisão de que sou um mentiroso descarado e fico tentado a botar a mão pra fora da janela e bater na lateral do ônibus pra dar um susto no motorista. Que homem lerdo, credo.

Fico escutando música durante o caminho, e trezentos anos depois eu chego no restaurante. Como esperado, realmente a porta do fundo está aberta e eu entro. Tranco, do jeito que Han me pediu, e sigo até a escada que está iluminada como se me esperasse. Mesmo de longe consigo escutar a voz de Jisung, ele está conversando no telefone. Desligo a luz da escada (o andar de baixo está todo escuro) e entro no escritório que está com todas as luzes desligadas, senão pela luminária da mesa e o brilho do monitor.

Meu gatinho está sentado na cadeira de trás da mesa, empurrando a franja preta para trás e falando sobre alguma coisa envolvendo coifa quebrada. Noto que não está mais usando óculos, acredito que tenha guardado. Eu aceno assim que chego e ele acena de volta, faz um gesto apontando para o telefone e depois gesticula um "shh" silencioso para que eu fique quieto. Mas só porque eu tenho que me manter em silêncio não quer dizer que minha raba tem que ficar quieta, porque se tem uma coisa que eu amava fazer quando ele ficava aqui, era sentar no colo dele. Sou safado e sento mesmo. Han nem liga, pra falar a verdade.

Escuto uma risadinha meio anasalada quando sento-me no seu colo, e assim que me ajeito, sua mão esquerda serpenteia minha cintura com lentidão e carinho. E então, puxa-me mais para trás, porque eu estava na ponta e acho que ele detesta quando eu sento na pontinha.

— Sim... Sim... Se você puder fazer isso amanhã cedo... Sabe, umas dez horas no máximo — ele vai dizendo na chamada, agora cutucando o passador da minha calça.

crises et chocolat • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora