nós podemos ir com calma

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— Surpresa! — Seungmin exclama, todo animado, quando Lee Minho, aka my boyfriend, abre a porta do seu apartamento.

Eu não estou lá tão animado, então apenas sacudo a mão no ar.

— Vim deixar minha cria com você — Kim entrega a ele minha bolsa. — Vê se cuida dele direito, tá?

Entro sem nem ser convidado para tal, tanto que passo ao lado de Minho e ele fica olhando para mim. Tiro as sandálias dos pés, porque é mais prático na hora de se livrar, e me sento no sofá. Minho estava prestes a se despedir de Seungmin quando o meu amigo o segura pelo casaco e tenta sussurrar algo com ele. Tenta porque eu escuto tudo. O apartamento de Min é extremamente silencioso e Seungmin também não ajuda, porque nem preciso me esforçar muito para entender.

— Olha, vê se não fica deixando ele chateado, já não basta todo esse estresse com o gesso e tudo mais. Eu não quero me meter no relacionamento de vocês, mas posso sugerir que você dê um tempinho para o Han descansar, tá bom?

Se eu pudesse cruzar os braços, eu cruzaria. Eu sei que Seungmin está tentando ajudar, mas ao mesmo tempo me sinto chateado com isso e nem sei bem o porquê. E então, com uma batidinha leve no ombro um do outro, meu amigo sai acenando e depois Minho fecha a porta. Quando Min vira-se para mim, sério, solta um suspiro e eu percebo que ou ele está nervoso ou está hesitante. Ele não diz nada.

A campainha toca, então ele vai lá atender. É Seungmin de novo.

— Ah, e vê se fica de olho nele para dormir. Han não está dormindo direito. Sério, eu acho que ele dormiu por umas duas ou três horas hoje. Pela cara dele já dá pra perceber que ele está um caco!

— Obrigado, Seungmin, eu nem estou aqui escutando — falo mais alto para ele ouvir.

— De nada, Han — ele dá uma piscadela para mim e depois sai.

Minho fecha a porta de novo. Eu não olho para ele dessa vez. Eu olho para o relógio digital sobre a bancada perto da cozinha. São oito da manhã.

— Depois você me ajuda a fazer a barba? — pergunto, porque se eu não falar nada, tenho certeza de que ele também não dirá coisa alguma.

— Uhum, claro — ele senta-se ao meu lado no sofá. — Quer comer alguma coisa? Beber? Eu posso arranjar.

— Não, está tudo bem. Eu já tomei café — me encosto totalmente no sofá e puxo a franja do cabelo para trás. Meu cabelo já está bem grande.

— Hm... Ok — ele acaba fungando duas vezes e depois não diz nada.

Viro meu corpo na sua direção, olho em seu rosto. Minho parece cansado, mas deve ser só a preguiça do final de semana. Surpreendo-me com o fato de estar acordado num horário desse.

— A gente tá bem? — ele quer saber.

— A gente só... — faço uma pausa, pensando melhor no que dizer. — Só não estamos nos entendendo, mas é comum. Sabe, isso acontece mesmo, não dá para evitar. Eu achava que estávamos na mesma fase do relacionamento, mas não estamos. Eu não quero ficar chateado com isso.

— Está tudo bem, Han. Eu faço o que você quiser. Se não quiser conversar sobre essas coisas, está tudo bem também. Eu não quero me importar mais com isso, então não vou mais perguntar ou te pressionar. Eu tive uma visão sobre nós diferente da que você tem. Mas se for para ser assim, eu prefiro que seja do seu jeito. Só não quero te perder.

Olho em seus olhos e tudo que vejo é uma poça castanha de desespero. Ele literalmente está abrindo mão do seu ponto de vista para me agradar, para não ter de me perder. Eu não sei se isso é bom ou ruim. Sei que relacionamentos são muito sobre sacrifícios. Mas também não acho certo ele largar toda a sua opinião de lado por conta de mim.

— Eu percebi que... — ainda prossegue. — Eu posso esperar você ir se abrindo com o tempo... Talvez em um ano ou dois estejamos totalmente entregues a isso, né?

Um ano ou dois. Um ano ou dois. Dois. Dois anos com Minho... Dois anos namorando com a mesma pessoa...

— Uhum... uhum... Hm... Você... pode me trazer um copo d'água, por favor?

— Claro que sim — ele se levanta e apressadamente vai à cozinha.

Meu celular vibra no meu bolso. Uma mensagem da minha mãe.

mãe: me mande seu endereço. estou indo te visitar no final do mês que vem.

Isso me faz olhar para o celular com um olhar confuso. Levo tento tempo assim que mal vejo Minho aparecer com meu copo d'água. Eu pego, ainda confuso, e dou um longo gole.

— O que eu estava dizendo é que nós podemos ir com calma — é o que me diz.

Como não respondo nada e minha expressão está uma confusão tremenda, ele percebe algo de errado.

— O que foi?

— Minha mãe. Ela vai estar por aqui no final do próximo mês.

— É algo bom, não?

— Minha mãe só aparece quando alguma merda acontece — bebo outro gole longo. — Será que alguma merda aconteceu?

— Talvez ela só sentiu sua falta.

— Não existe isso de sentir falta — com mais alguns goles, termino a água e deixo o copo vazio sobre a mesinha de centro. — É o que falamos para as pessoas para mascarar que queremos algo delas.

— De novo com essas coisas? — ele me faz olhá-lo no rosto. — Falar isso prova que você se inclui. Então nas vezes que disse que sentia minha falta, você só queria algo de mim?

— Quando eu estou sentindo falta de alguém, significa que eu quero algo dela — respondo. Fico pensando em algum exemplo que amenize o peso e Minho possa entender. — No seu caso, eu queria um beijo, um abraço, estar num momento especial com você...

Tomara que tenha funcionado.

— Ah, entendi... — ele sorri. — Sua mãe pode querer o mesmo. Ela pode querer estar contigo.

— Uhum, claro... — acaba saindo mais irônico do que eu pensei. — De todo modo, é isso.

— Espero que não seja nada.

Eu balanço a cabeça positivamente e fico olhando seu rosto. Não dá pra negar que o Minho é muito bonito e eu também nunca esqueci disso. Só que às vezes eu acabo nem admirando-o tanto quanto antes. Só que não é só sobre beleza. Ele nem está exalando beleza, na verdade. Os fios estão todos bagunçados, ele está com cara de sono, as pálpebras estão levemente inchadas e ele parece meio pálido. Mesmo assim, eu o acho bonito, bonito naturalmente, do tipo que não precisa de esforço algum para me fazer ficar parado olhando-o.

— Que foi, Jisung?

— Minho, mesmo com meu gesso, ainda podemos transar?

Minha pergunta dá um susto nele, tanto que arregala os olhos e depois ri. Ele chega perto de mim e pega minha mão esquerda.

— Não, você está sentindo dor e está vivendo à base de remédios — ele tem um modo gentil de falar.

— Poxa... Queria poder fazer.

— É sério que foi o único problema que você viu nisso?

— Se eu não posso trabalhar e vou ter que ficar dois dias dentro de casa com você, no mínimo eu gostaria que rolasse umas coisas divertidas, né?

— Jisung, a gente pode assistir filmes, jogar jogos, ler livros... Podemos fazer uma cabaninha e dormir juntinhos nela...

Minho é tão brega romântico que às vezes me dá vontade de vomitar.

— Tá, já entendi — reviro os olhos.

Minho ri baixinho e se aproxima para me dar um beijo na bochecha. Eu sorrio também, mas nem faço nada. Já faz um tempinho que não estou desocupado assim para ficar de chamego com ele. Pelo menos isso.

crises et chocolat • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora