Capítulo 6

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O céu estava nublado, as nuvens estavam carregadas enquanto saio do hospital, com a ajuda da minha mãe e do Albert

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O céu estava nublado, as nuvens estavam carregadas enquanto saio do hospital, com a ajuda da minha mãe e do Albert.

Albert se ausentou por alguns dias para cuidar do enterro do seu amigo; James e só retornou após resolvido tudo, o que coincidiu com o dia da minha alta.

Minhas costelas ainda doíam, mas por conta da medicação, era uma dor suportável. A única coisa que doía mais do que os machucados em meu corpo, era o meu coração.

Ele se despedaçava um pouco mais toda a vez que me lembrava do meu irmão e de que nunca mais o veria.

Vê-lo daquela forma, com raiva, magoa e tão machucado, mudou a forma como eu imaginava o Jason na minha cabeça.

Ficava me perguntando se ele sempre foi tão quebrado assim? Se o nosso pai o atingia mesmo sem querer e eu era cego o bastante para perceber?

Será que ele também odiava o Jason, da mesma forma que me odiava?

Se era isso, Jason sempre soube esconder tudo muito bem, pois nunca percebi, até alguns dias atrás.

Duda caminhava na minha frente, segurando a mochila que trouxera para mim. Ela usava uma calça jeans justa, tênis esportivo e uma blusa de moletom, minha para variar.

Por mais simples que estivesse, a forma como seu quadril rebolava, fez uma onda de choque se espalhar pelo meu corpo e pela primeira vez em alguns dias, começava a me sentir vivo novamente.

Ela dava cor aos meus dias cinzentos.

Albert abriu a porta de trás do carro e me ajudou a entrar, Duda deu a volta e entrou pelo outro lado. Minha mãe se agachou e se despediu de mim, ela iria se encontrar com o Eduardo no fim da tarde, que estava no interior da cidade cuidando da sogra, que não estava muito bem de saúde.

Minha mãe precisava desse descanso.

— Te vejo no enterro do Jason. — falou, tentando conter a dor em sua voz.

Estávamos despedaçados com tudo aquilo, tentando juntar caco por caco.

Apenas assenti e ela sorriu, fechando a porta e murmurando um eu te amo para mim.

Albert entrou no carro e se sentou no lugar do motorista, dando partida no carro.

Estiquei o braço até ela e a puxei para mim, a sentando com cuidado em meu colo. Enfiei meu rosto em seu peito e inalei seu cheiro profundamente, meu corpo se arrepiou em resposta.

— Senti tanta falta disso. — Deslizei as mãos pela lateral do seu corpo e agarrei sua bunda com força, a fazendo gemer.

Estávamos imersos demais em nossas próprias sensações para ligar para o motorista e, além disso, já havíamos passado por muitas coisas para nos importarmos com isso.

Duda apoiou as mãos com suavidade em meus ombros e acariciou meu pescoço, provocando arrepios em mim. Ergui o rosto e olhei para ela, aprofundando nosso olhar e ficando preso em suas pupilas amendoadas.

— Você me deu forças enquanto estava naquele galpão — comecei a falar, sem desviar os olhos dos seus. — Quando pensava em desistir de tudo, você aparecia em meus pensamentos, como um anjo para me resgatar. — Apertei as mãos em volta da sua cintura e a puxei para mais perto. — Você é meu anjo da guarda.

Ela soltou um longo suspiro e respirou fundo, seus olhos brilhavam marejados e ela tentava conter as lagrimas.

Inclinei meu rosto até o dela e beijei seus lábios, devagar, queria sentir com paciência cada movimento da sua boca contra a minha. Nosso beijo foi calmo, suave e cheio de sentimentos. Ambos gememos contra a boca um do outro, dizendo tantas coisas com aquele beijo e, ao mesmo tempo, não dizendo nada.

A gente se entendia, sem precisar verbalizar uma única palavra.

A gente se completava, como um quebra cabeça.

****

As nuvens expurgavam a chuva, molhando a grama-baixa embaixo dos nossos pés. O caixão de marfim do meu irmão descia pela cova e não conseguia desviar o olhar do vidro dele. Era como se o Jason dormisse profundamente, seu rosto estava com uma básica maquiagem, escondendo os hematomas em sua pele.

Ele usava um terno azul royal que escolhi e que era o seu preferido, antigamente. Os cabelos estavam penteados para trás e seu rosto estava sereno.

As gotas caiam, encharcando o meu terno, mas, nada disso me importava. Não conseguia sentir nada, além da dor dilacerante em meu peito, a dor de perder novamente o meu irmão.

Meu grande herói.

A alguns centímetros atrás de mim estava poucas pessoas; minha mãe, o Eduardo, a Andy — que por mais que não o conhecesse, veio me dar apoio —, o Albert que mesmo com a sua postura rígida, dava para notar seus olhos marejados. Alguns funcionários antigos da Jones que conheceram o Jason e ninguém mais.

Olhei para cima e fechei os olhos, sentindo as lagrimas caírem pelo meu rosto se misturando com as gotículas de chuva. Implorei a Deus, em silêncio, que arrancasse esse tormento do meu peito, esse sofrimento que me impedia de respirar.

Por onde fosse e quanto tempo eu vivesse, essa dor seguiria comigo, fazendo companhia as outras perdas que tive em minha vida.

Decidimos não velar o corpo, pois era muita dor para um dia só. Não queria que a minha mãe passasse por tudo aquilo novamente, toda aquela dor de ter que enterrar seu filho, o único filho biológico, novamente.

Era muito para ela aguentar.

O pastor da família falou algumas palavras enquanto o caixão sumia na cova, mas, não consegui assimilar uma única palavra que saiu de seus lábios. Meu corpo estava num completo estado de torpor, adormecido pelo sofrimento.

As únicas palavras que ecoavam em minha mente, foi o último pedido dele.

— Vingue minha morte, irmãozinho.

E como se alguém lá em cima — ou lá debaixo —, me ouvisse. Vi a própria visão do inferno. Só que ao invés de ter chifre, ela tinha cabelos loiros e ao invés de ser parecido com o próprio diabo, ela era a única mulher que eu queria destruir.

Melissa.

Escondida atrás de uma árvore, olhando para o buraco onde estava o caixão do meu irmão. Ela não havia reparado que havia lhe visto. Mas quando ergueu os olhos até os meus e viu a fúria, a raiva e a vingança estampados em minhas pupilas, ao invés de se retrair, ela sorriu.

Seus lábios subiram num diabólico sorriso, como se ela estivesse esperando exatamente por isso.

Por mim.

Cerrei os punhos e fechei os olhos, tentando conter a raiva crescente que se erguia como um animal enjaulado dentro de mim. 

Quando voltei a abri-los, ela já havia ido embora e estava quase me conformando que era uma pegadinha da minha mente, se não fosse os cabelos loiros sumindo ao longe.

— Vou te vingar, meu irmão. — sussurrei. — E já sei por quem começar. 

Nosso Felizes Para Sempre | Livro 3 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora