A Rainha Prometida

~Cap 8: Raubstadt~

Algumas semanas antes...

Acordo com a respiração ofegante, sinto meus fios de cabelo suados caindo pelo meu rosto. Malditas visões.

—"Você estava tendo os seus sonhos loucos de novo, não é?" — Ela me pergunta enquanto brinca com a adaga em sua mão.

—"Não são sonhos, eu já disse." — Resmungo enquanto me sento no que deveria ser uma cama, mas na verdade é uma especie de colchão tão fino que parece mais um papelão.

—"Visões." — Ela se corrige com uma risada enquanto gira a arma na mão. — "Claro, suas malditas visões futurísticas. Você está prevendo que vamos virar bilionários ? Oh! Ou então conseguirmos comida?" — Ela pergunta com uma falsa animação. Eu reviro os olhos.

—"Elas não veem meu futuro." — Digo levemente irritado. — "São quase como memórias mas.... Eu não lembro de ter tido nenhumas delas."

—"Essas coisas não existem, Ladronzuelo, é apenas algo de sua pequena cabecinha."

—"Já disse para você não me chamar assim"

—"Oh" — Ela finge uma tristeza — "Mas você é um pequeno ladrãozinho, porque não chama-lo assim?"

—"Usa tu lengua materna en otro lugar" — Ela dá um sorrisinho.

—"Te encanta hablar español, admítelo"

—"Sólo sobre mi cadáver." — Digo a provocando, mas ela apenas sorri.

—"Se arrume." — Ela diz ficando em pé e colocando sua adaga na calça. Seus longos dreads caem por seu ombro — "Temos um longo dia pela frente."

—"Qual é, Bea, não podemos descansar por ao menos um dia sequer?"

—"Se você quiser ter ao menos um pedaço de pão mais tarde, já sabe a resposta." — Ela diz saindo do que chamamos de quarto, mas na verdade é apenas um cômodo com dois colchões finos e sujos no chão.

Suspiro e afasto os fios suados do rosto, a dor de cabeça me consumindo por completo.

Todo santo dia a mesma coisa, eu tenho essas espécies de visões, quase como memórias. Eu não me lembro de nenhuma delas.

Hoje tive alguns vislumbres do Castelo Dourado, se é que ainda podemos chamá-lo assim. O reizinho e sua mania de estragar absolutamente tudo no seu próprio reino, até seu próprio palácio, o qual antes era inteiramente dourado e cheios de luz. Agora não tem cor, é mórbido, é quase um cinza escurecido. Sem vida. Sem felicidade.

Infelizmente tenho que deixar a dor de cabeça de lado e me levantar, afinal Bea tem razão, precisamos comer no final do dia.

—"Fahren?" — Escuto sua voz ao se aproximar, e logo vejo sua pele bronzeada e olhos quase amarelos quando entra no quarto. — "Você precisa ver isso."

Eu me levanto rapidamente e vou em sua direção enquanto saímos do beco que chamamos de casa. Parece que está tendo algum tipo de assalto, uma multidão corre desgovernada aos gritos pelas ruas. Pessoas caem no chão e vejo Bea ajudar uma idosa a se levantar. Tanto caos que estou completamente confuso e não sei para onde olhar ou quem ajudar.

Logo então percebo que não é um assalto.

—"Aonde está?" — Escuto a voz raivosa e familiar a frente.

—"E-Eu não sei majestade.... E-eu juro." — Uma voz masculina diz tremendo, parecendo quase que está chorando.

Vejo Bea abrir espaço entre a multidão para observar o que está acontecendo, eu começo a fazer o mesmo e logo que vejo, a cena me embrulha o estômago. O homem está caído no chão, e vejo sangue escorrendo de sua boca.