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Lili

Eu caminhei por entre as paredes silenciosas daquela igreja vendo algumas pessoas ajoelhadas, lendo suas bíblias ou apenas parecendo esperar. O número de fiéis era inferior ao número que eu vi durante a missa de domingo. Isso poderia se dar ao fato de que estávamos no meio da semana e não tinha nenhuma missa sendo realizada.

Procurei por Cole pela igreja, mas logo deduzi que ele estava no confessionário, tendo em vista que observei uma pessoa saindo de lá e logo depois outra tomou o seu lugar. Cole estava ouvindo confissões.

Sentei em um dos bancos esperando que as pessoas terminassem, mas comecei a ficar impaciente ao ver que a fila de fiéis só aumentava. Como eu estava sem o meu celular para me distrair, achei que seria mais fácil se eu entrasse naquela fila e avisasse ao Cole do jantar lá mesmo no confessionário.

A fila foi andando e finalmente chegou a minha vez. Sentei num banco que ficava ao lado da porta de madeira que separava o padre do fiel. Apenas uma pequena janela com furinhos servia de alcance para uma conversa clara.

— Conte-me os seus pecados. — ele disse com uma voz mansa.

— Cole, sou eu, a Lili.

— Lili? Devo dizer que estou surpreso.

— Só vim para avisar que o jantar está confirmado para hoje, às 20:00h. Restaurante tailandês da avenida Belmont.

— Tudo bem, eu sei onde fica.

— Ótimo! Vou deixar que continue a trabalhar. — me preparei para sair.

— Espere! Já que está aqui, por que não faz uma confissão?

— Te contar os meus pecados? — ri sem jeito. — Eu nunca fiz isso.

— Sabe que tudo o que me disser ficará entre nós e Deus.

— E o que eu confessaria? Que eu falo muitos palavrões, minto vez ou outra, bebo demais quando estou chateada e até posso, por acaso, ter experimentado alguma droga ilícita na adolescência? — eu ouvi ele soltar um riso baixo.

— Fale-me sobre aquilo que a faz sentir culpada.

— Culpa? — respirei fundo. — Não sei... eu posso pensar muito nas coisas estúpidas que já fiz.

— E que coisas são essas?

— Não ter insistido com o meu pai quando eu era mais jovem. Sei que vamos tentar agora, mas já se passou tanto tempo... às vezes é como se eu tivesse desperdiçado uma parte da minha vida. — ele ficou em silêncio, me dando espaço para prosseguir. — Também me arrependo de ter me envolvido com o Dylan, por mais que eu tenha recebido tantos sinais antes. Como eu pude escolher ser tão cega? Agora eu penso com a cabeça em relação ao Dylan, mas se tivesse ouvido a razão antes, teria evitado todo esse conflito. E também... — suspirei, sentindo uma dor no meu peito. — Eu queria ter dito mais vezes para a minha mãe o quanto eu a amava.

— Sobre o seu pai, você não estava pronta para tentar e se tivesse forçado uma aproximação sem estar devidamente preparada, tudo poderia acabar mal, você não saberia como segurar o relacionamento. Limpe o seu coração e tenha em mente que não é tarde para mostrar aos entes queridos o quanto o queremos em nossas vidas. Sobre o Dylan, não é culpa sua. Não foi você quem mentiu, foi ele. Se tem uma pessoa que deveria ter agido diferente, essa pessoa era ele. E mais uma vez, não é tarde para aprender a ouvir a sua razão. Sobre a sua mãe, ela sabia o quanto você a amava e ainda sabe disso, porque ela pode te ver lá de cima. Realmente nunca parece ser o suficiente o número de vezes em que dizemos amar alguém. Mas não são só as palavras que demonstram esse amor. Você disse o que tinha que dizer, tenha certeza disso.

Caindo em Tentação ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora