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Cole

Levei Lili para a mesma cafeteria para a qual fomos quando conversamos seriamente pela primeira vez. Nós não trocamos nenhuma palavra desde que sugeri que fôssemos para lá até estarmos devidamente sentados numa mesa ao lado da vidraça, por onde eu observei os carros e pedestres passando pela rua em mais um dia comum de suas vidas. Como eu os invejava! Meu dia não estava nada comum até o momento.

Eu respirava fundo a cada segundo, sem conseguir olhar diretamente para ela, que eu podia perceber, por minha visão periférica, que estava roçando seus dedos uns nos outros, uma estranha mania que ela tinha quando ficava nervosa. E como eu havia notado isso tão rápido? É, eu estava prestando mais atenção nela do que o que era considerado aceitável.

— O que vai pedir? — ela perguntou com seus olhos fixos no cardápio.

— Um café forte sem açúcar. — fui direto. Ela assentiu, acenou para a garçonete e pediu dois cafés.

Depois que a garçonete anotou o pedido e se retirou, o silêncio entre nós voltou a pesar. Eu não fazia a mínima ideia do que dizer e pelo que parecia, ela também não. Não achei que precisaria falar com ela tão cedo, eu queria mesmo ter me preparado para essa conversa.

— Então... — ela começou. — Você está bem? — a pergunta me causou estranheza, se com "bem" ela queria dizer "completamente aterrorizado", então sim, eu estava bem.

— Sim, eu acho. E você?

— Um pouco confusa. O que aconteceu ontem... — a interrompi.

— O que aconteceu ontem foi um erro que não deve se repetir e deve ser esquecido. — eu vi ela arquear as sobrancelhas e abaixar os ombros como se eu tivesse a pegado de surpresa. — Fiz as minhas orações, estou lidando com isso da maneira correta.

— Tratando como se não tivesse significado nada? — soou um tanto quanto brava. Eu a analisei por alguns instantes tentando entender o que ela queria de mim.

— Lili, eu sou um padre, tenho uma missão a seguir e não vai ser um simples desejo mundano que me fará desviar do meu destino. Eu amo a igreja mais do que qualquer coisa.

— Talvez eu ainda não tenha passado tanto tempo dentro da igreja para entendê-lo. — ela estava claramente frustrada. — Por que você tem que se prender dessa forma?

— Não estou me prendendo, estou no caminho que me faz bem.

— Eu te faço bem, você me quer! — ela tentou segurar a minha mão, mas eu a afastei.

— Lili, por favor... — fechei meus olhos e respirei fundo. — Eu não quero ter que me afastar você.

— Eu... — Lili tremeu seu lábio inferior e eu não tinha certeza se ela queria chorar ou gritar comigo. — Tudo bem. — suspirou e encostou-se contra sua cadeira. — Eu respeito você. — ela parecia estar se obrigando a dizer aquilo.

— Eu não sou o Dylan e ele nunca será igual a mim, somos pessoas completamente diferentes. Eu não quero que deposite em mim a esperança de ter um Dylan "melhorado". — fiz aspas com os dedos.

— É isso o que você acha? — abriu levemente a boca. — Acha que eu finjo que você é um Dylan melhor? — arfou em indignação. — Desculpa, mas eu estou pouco me fodendo pra porra do seu rosto! — agora sim ela estava mesmo irritada. — Isso não é sobre você ser gêmeo do meu ex namorado, é sobre a forma como me sinto perto de você! — bateu a mão na mesa.

Eu olhei para a sua mão, que agora apertava a toalha de mesa firmemente e depois baixei meus olhos para o meu colo tentando procurar as melhores palavras depois desse surto raivoso dela. Não estava nos meus planos irritá-la e era por isso que eu pretendia me preparar antes de ter uma conversa.

Caindo em Tentação ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora