Acolhimento

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Descia a calçada como todos os dias.

Eu gostava de tomar café na minha pastelaria preferida, quando me deparo com o cena mais escrota da minha vida.

À porta da Sweet cafés, uma funcionária agredia um jovem mendigo com a vassoura.

- Sai daqui seu imundo.

O jovem encolhido a um canto apenas balbuciava.

- Eu só preciso de um pão.  Estou morrendo de fome.  Faz três dias que eu não como nada.

Aquilo me derrubou.

- Ein, o que tá fazendo?  O que esse jovem fez para tratá-lo assim?

- Ele é péssimo para a reputação da pastelaria.  Os clientes não entram porque ele não sai daqui.

- Isso não  é motivo para agredir uma pessoa.  Tenha mais empatia.  Amanhã pode ser você na situação dele.  Vem moço, eu pago um café para você.

- Senhorita,  isso vai acabar com a reputação do estabelecimento.   Imagina sair por aí que deixamos entrar mendigos.

- Se ele não entrar eu nunca mais volto.  Quero a sala privada para nós.

A funcionária temendo que a notícia se espalhasse logo disponibilizou a sala para eles estarem à vontade.

- E de hoje em diante quero que ele tenha livre acesso para as suas refeições.   Podem anotar na minha conta.  Eu pago tudo.

Juliette era filha única.  Seus pais eram multimilionários mas apesar disso ela não usava essa qualidade para se vangloriar.  Sempre foi muito humana e ajudava quem precisasse.

Entrou com o mendigo para a sala reservada e pediu o melhor café da manhã.

- Senhorita,  não precisava.  Bastava pagar para mim um pão e um café.

- Eu gosto de ajudar as pessoas.  Como é o seu nome?  Porque você está nesta condição de pedinte?

- Meu nome é Pedro.  É uma história muito longa e acredito que a senhorita não queira perder seu tempo me escutando.

- Eu tenho todo o tempo do mundo.

- Meu nome é Pedro.  Perdi meus pais recentemente.  Meus pais eram a minha vida e perdê-los foi o gatilho para que eu chegasse aqui.

Mergulhei no alcool, perdi casa, carro, amigos, emprego e hoje não sou ninguém.  Me tornei um estorvo para a sociedade.

- Enquanto há vida há esperança.   O ideal é querermos dar a volta por cima. Você é jovem.  Não acredito que tenha desistido de sonhos.

Os nossos ente queridos partem, mas a vida segue.    Cabe a nós fazer as escolhas certas.

Já tentou procurar novo emprego?

- Já.   Ninguém me aceita porque não tenho moradia certa.  Sou um sem abrigo.  Vivo por esses bancos de jardim.

- Mas é tão jovem e me parece saudável.  Deve haver uma solução.

- Obrigado moça.  Não sabe o bem que me fez este momento e este café.
Já vou indo, não quero incomodar mais.  Obrigado novamente.

- Espere. Dê-me o seu número de telemóvel,  talvez eu possa ajudar.

- Não tenho, moça.  Fui assaltado há algumas noites e fiquei sem nada, mas eu estou sempre por aqui no jardim em frente.

- O meu nome é Juliette Ramos.   Eu volto outro dia para a gente conversar melhor.
Você pode vir aqui pedir o que quizer para comer.  Eu vou falar com a empregada para te dar alimentos todos os dias.

- Obrigado, Juliette.  Você é um anjo na terra.

Juliette sorriu ao vê-lo partir.  Deu ordens expressas para que fosse fornecido tudo o que ele pedisse e não aceitava um não.

O estabelecimento nem questionou pois ela era uma figura pública que muito os prestigiava.  Jamais iriam negar qualquer ordem sua.

O mendigo seguiu para o seu banco de jardim e de longe viu Juliette seguir calçada acima.  Ela era tão simples que vinha à pastelaria como a maioria dos mortais: a pé.

Nessa noite ele conseguiu dormir satisfeito.  Afinal ainda há pessoas boa na terra.

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