Magoada

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Nos dias seguintes eu liguei para a Ju e ela recusou as minhas chamadas.  Mandei mensagens, ela leu mas não me deu resposta.

Já tinha passado uma semana.  Pedi à Leonor, minha secretária que me marcasse uma reunião com o pai da Ju.

Às 10 horas da manhã,  hora combinada eu estava no edifício do seu escritório.

Fui conduzido até ele.

Cordialmente mandou-me entrar e sentar em frente à sua secretária.

Dispensamos as apresentações disse Rafael, o pai da Ju.
Eu sei quem você é e você sabe bem quem eu sou.

- Sei sim e vim pedir desculpa por tudo o que aconteceu entre mim e a Juliette.   Estou certo que ela lhe contou.

- Contou sim.  Entre mim e a minha filha nunca houve segredos.

- Vim também para lhe dizer que o que fiz não foi com intenção de a magoar.  Eu já estava farto de andar com pessoas que só estavam comigo por dinheiro, espero que entenda.

- Como entendo.  Passei por isso também.   Graças a Deus encontrei a mãe da Juliette que não me decepcionou.

- Também quero pagar pelo tempo que morei na vossa casa e algumas outras despesas que a Ju teve comigo.  Tenho tentado falar com ela mas não me atende.

- Meu jovem, não me deves nada.  Eu  entendi a tua intenção,  mas vai ser difícil a Juliette entender também.

Aquela lá quando encasqueta uma coisa na cabeça, dificilmente cede.  Vais ter que comer muito arroz e feijão para a dobrar.

- Eu vou dar o tempo que ela desejar.  Não vou pressionar, mas também não vou desistir.  Só precisava que você soubesse.

- Vai em paz meu jovem.   Só pelo facto de estares aqui já diz muito do teu carácter.  Tem paciência.

- Obrigado Sr. Rafael,  um bom dia para o senhor.

- Só Rafael, Rodolffo.   Bom dia também para ti.

Saí um pouco mais aliviado.  Pelo menos o pai dela não me odeia.

Havia uma semana que Juliette não saía de casa.  Hoje resolveu reagir e foi até ao Centro.

Ana levou-a até à sua sala.

- Como estás?

- Estou bem Ana.  Um pouco magoada mas vai passar.

- Não deixes essa mágoa dominar a tua vida.  Dá-lhe uma chance.  Ele é um homem bom.

- Eu sei.  Quando ele te contou?

- No dia em que saíste de viagem.   Estava tão agoniado.  Foi nesse dia que fiquei a saber que o milhão era dele.  E continuou a vir até arranjar o Saul.

- O Saul tem um menino autista, não é?

- Sim.  Vem com ele todos os dias.  O Saul e funcionário do grupo Pestana.   Só presta serviço aqui.

- Eu sei que ele é boa gente.

- Então?  Releva.  Ele só queria uma pessoa que o amasse e não ao dinheiro.

- Por enquanto não consigo.   Quem sabe no futuro.

- Não demores muito.  A fila anda depressa.

- Está bem.  Vou para o refeitório.

- Vou contigo.   Vou apresentar-te o Saul e o filho.

Nos dias seguintes Rodolffo mergulhou a fundo no trabalho.  O escritório passou a ser uma extensão da casa.  Por vezes já nem ia dormir.  Tirava um soneca de uma hora ou duas ali mesmo no sofá.

Por várias vezes Leonor ao entrar de manhã encontrava-o a dormir, todo torcido no sofá.

A cara dele mostrava o cansaço.  Olheiras fundas e a barba um pouco descuidada.  Levantava-se tomava um duche ali mesmo, trocava de roupa que em alguma altura trouxe de casa, tomava um café simples e pouco mais e embrenhava no trabalho.

Ao almoço pedia um suco e uma sanduíche e assim seguia o dia.

Por vezes Leonor trazia algo mais nutritivo mas raramente comia tudo.

Assim foi durante dias, semanas e hoje completam-se 4 meses do ocorrido.

Não piseOnde histórias criam vida. Descubra agora