O trabalho

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Juliette chegou no dia seguinte para almoçar. 

- Bom dia.  Trouxe um bolo brigadeiro para sobremesa.

- Eu fiz mousse de café.

- E para almoço?

- Frango no forno com batata, arroz e salada.

- Onde aprendeste a cozinhar?

- Vivi muito tempo no exterior.  Sózinho a gente aprende a se virar.

- Eu ajudo-te a por a mesa.

- A menina é convidada.  Não tem que fazer nada.

- Trara-me por tu senão começo a tratar-te por senhor.

- Vem.  Vamos comer.

Pedro serviu o prato dela e depois o dele.  Juliette reparava que os seus movimentos eram de uma pessoa habituada à etiqueta.  Não era qualquer sem abrigo que sabia usar os talheres de servir e além disso a mesa estava posta com um certo requinte.

- Uhmmm!  Isto está muito bom.

- Gentileza a tua.  É apenas frango.  Um almoço simples.

- O primeiro de muitos.  Ainda te vejo a montar um restaurante.

- Em que instituições fazes voluntariado,  Juliette?

- Num centro para autistas e no hospital às vezes.  Também num lar de idosos.   O centro de autistas tem muitas carências.  Têm falta de verbas e de pessoal.  É difícil vontratar pessoal que queira trabalhar lá.

- Podemos ir lá?  Quem sabe eu arranjo lá um emprego.

- Eles não podem pagar grandes salários.

- Eu também não preciso de grande salário.   Ainda ontem vivia na rua e não tinha dinheiro para comer.  Se eles me derem comer e um pouco de dinheiro para mim chega.

- Vamos lá a seguir?

- Sim.

A conversa durante o almoço fluiu e ambos riam das histórias que contavam.   Pareciam dois amigos que se conheciam há anos.

Lavaram a loiça em conjunto e ficaram no sofá  cada um com sua fatia de brigadeiro e uma chávena de café.

- Ainda bem que eu não como assim todos os dias. - disse Juliette.  
Ficava redonda num instante.

- Ficavas nada.  Tu és muito elegante.   Fazes academia?

- Não tanto como devia.  Acho uma seca.  Vou na força do ódio.

- Eu fazia diáriamente.   Tenho saudades.

- As coisas vão melhorar.  Logo voltam as coisas boas.

- Olhando o dia de ontem, hoje estou no paraíso.

- Vamos lá ver os meus amiguinhos?

Pedro entrou no carro de Juliette e seguiram até ao Centro de autismo.

Um grupo de crianças assim que a viu veio a correr abraçá-la.
Tia Ju, tia Ju!

- A coordenadora Ana logo veio separá-los e levou-nos para uma sala.

Juliette contou parte da história de Pedro e de como ele queria ajudar.

Ela estava muito apreensiva e disse mesmo que o centro corria sérios riscos de encerrar portas, mandando todas aquelas crianças para casa, privando-as de todos os apoios.

- Precisamos de um motorista e de 4 auxiliares mas ninguém aceita ficar depois de ver o salário que podemos pagar.

- Está assim tão mau? questionou Juliette.

- Para resolver todos os problemas precisamos de perto de 500.000 reais.  Isso seria o ideal.

A verba que o seu pai nos envia todos os meses dá para os salários actuais e para as despesas básicas.  Temos outras ajudas extra de menor valor mas não são suficientes.

- Eu posso ser motorista só pela alimentação.

- Isso seria óptimo.   É que com motorista os pais pagam um pouco mais pelo transporte dos filhos.

- Está resolvido.  Amanhã começo a que horas?

- Venha às 9 horas.  A essa hora as crianças já chegaram e podemos informar os pais que quiserem aderir ao transporte.

Terminaram com uma visita às instalações e de seguida aproveitaram que as crianças estavam nas salas de aula e saíram.

Pelo caminho Juliette foi explicando a Pedro como era o apoio que o pai dela dava e também de como às vezes ela conseguia angariar algumas verbas junto dos amigos do pai.

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