Capítulo 7

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Residência Pritchett, Los Angeles
Petra Pritchett
17 de fevereiro de 1995, 21:11

   — NÃO! — grito desesperada. Estou em um lugar escuro e algo está me puxando pelos meus pés. Em segundos fico de ponta cabeça amarrada pelos meus pés — SOCORRO! — grito, mas minha voz ecoa no vazio. Estou sozinha, pendurada de cabeça para baixo em um lugar desconhecido. O medo se instala, mas eu tento manter a calma. Tudo se clareia de repente. Michael está amarrado deitado no chão. Sua cabeça está sangrando e ele está desacordado. Tento me soltar, mas, não consigo. Está muito apertado e minhas pernas estão começando a adormecer.

   — CONTINUE FIRME PETRA! — escuto uma voz grossa. Daniel. É DANIEL. Mas, sinto meu corpo amolecer e eu mal consigo manter meus olhos abertos. Escuto um estrondo. Daniel corre para Michael e o desamarra — O LEVEM IMEDIATAMENTE EU NÃO CONSIGO SENTIR O PULSO!

   — Petra, acorde! — abro meus olhos repentinamente — Você está bem? — Jéssica pergunta, preocupada.

   — Sim, eu estou bem — respondo, tentando recuperar o fôlego — Foi apenas um pesadelo — me sento na cama. Sinto as lagrimas inundarem meus olhos.

   — Você quer falar sobre isso? — Jéssica pergunta, sentando-se ao meu lado na cama.

   — Não, eu estou bem — digo, dando um sorriso cansado — Vou caminhar um pouco pela casa — me levanto e ando até a porta. Saio. Fecho a porta e me sento no chão. Então, foi por isso que me separei dele. Eu não podia colocar sua vida em risco daquela forma. Me separei para o proteger.

   Fico ali, sentada no chão frio do corredor, abraçando meus joelhos. Eu sei que fiz a escolha certa. Eu tinha que proteger Michael, mesmo que isso significasse acabar com o que tínhamos.

19:15

   — Você está diferente hoje, foi por causa do sonho? — Jess pergunta enquanto leva um pouco de sua salada até a boca.

   — Sim, foi o sonho — respondo, olhando para a mesa à minha frente — Me fez lembrar de coisas que eu preferiria não saber.

   — Petra, você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, certo? — Jess pergunta.

   — Sim — sussurro — Como as coisas funcionavam entre nós? Eu realmente te contava tudo? Não estou me sentindo confortável em ter que ficar te falando tudo sempre.

   — Petra, nós sempre fomos honestas uma com a outra — Jess responde, olhando para mim com um olhar suave — Mas isso não significa que você tem que me contar tudo. Você tem o direito de manter seus pensamentos e sentimentos para si mesma se isso é o que você precisa.

   — OBRIGADA! — me levanto da mesa — Estou me sentindo sufocada. Não posso ficar de mal humor. Não posso me fechar. Não posso nada. Eu era assim tão sem liberdade antes também?

   — Petra, você sempre teve a liberdade de ser quem você é — Jess diz, olhando para mim com um olhar de compreensão — Você sempre foi uma mulher forte e independente. Você sempre teve a liberdade de fazer suas próprias escolhas. E ainda tem. Não se sinta pressionada a fazer algo que não quer. Me desculpe se estou te sufocando, apenas estou preocupada.

   — Então não se preocupe! — falo firmemente e me afasto da mesa. Ando em direção à saída e em seguida rumo ao escritório.

   Entro no escritório e fecho a porta logo atrás de mim. Paro e encaro tudo. Caminho em direção à mesa e me sento na cadeira. Me aproximo da mesa, tem uma foto emoldurada. É uma foto minha com Michael e nossos filhos. Eles estão sorrindo. Eu estou sorrindo. Michael está sorrindo. Todos nós estamos felizes. Ao lado, uma minha com Jéssica. Somos felizes.

   — Por que não consigo me lembrar? — pergunto a mim mesma, olhando para a foto de Jéssica e eu. Nós parecemos tão felizes. Mas, por que não consigo me lembrar de nada disso? Por que não consigo me lembrar de nós?

   — Petra? — escuto a voz de Jéssica do outro lado da porta — Posso entrar?

   — Sim — respondo, ainda olhando para a foto. A porta se abre e Jéssica entra. Ela se aproxima e se senta no meu colo.

   — Você está bem? — ela pergunta, olhando para mim com preocupação.

   — Sim, eu estou bem — respondo calmamente.

   — Petra, você não precisa se forçar a lembrar — Jess diz, pegando minha mão — As memórias virão com o tempo.

   — Eu sei — digo, olhando para nossas mãos entrelaçadas — Mas é frustrante não lembrar.

   — Eu entendo — Jess diz, apertando minha mão — Mas você não está sozinha, Petra. Estamos juntas nisso.

   — É, eu sei — suspiro, cansada de tudo isso. Eu sei que ela está comigo, ela já disse.

   — Tem algo que vai te animar — ela desce do meu colo — Vem, Baby — ela diz enquanto vai até a porta. Abre e um enorme cachorro preto entra — Essa é a Baby, sua mastim tibetano! — eu me lembro dela. Me levanto da cadeira e vou até Baby. Ela está tão feliz. Me ajoelho e a abraço. Meus olhos se enchem. Eu sei quem ela é, o que ela gosta de fazer e até quem me deu ela. Daniel. Eu me lembro de Daniel e de tudo o que já fizemos juntos. Tudo.

   — Daniel! Eu preciso conversar com ele! — não o vejo desde não sei quando, a última lembrança que tenho dele é em uma floresta onde tinha fogo, muita fumaça. Ele pode me ajudar. Ele pode.

The Girl Is MineOnde histórias criam vida. Descubra agora