Capítulo 28

30 5 16
                                    

Michael Jackson
Hotel Hichello, Paris
17 de março de 1998, 20:53

   Uma taça de vinho pode revelar mais do que uma garrafa inteira de uísque. Olho para o líquido rubi na minha taça, girando-o lentamente. A cor profunda me faz pensar em quantas verdades já foram contadas sob a influência de um simples gole. Enquanto meus fãs gritam por meu nome lá embaixo, eu devago entre pensamentos que vêm e vão. Minha cabeça está tão agitada; preciso acalmar meus pensamentos urgentemente. Por fora, estou muito bem. Voltei a abrir um sorriso, mesmo sem estar realmente feliz ou confortável; isso não acontecia há alguns anos. Eu tinha aprendido a viver comigo mesmo. Estava muito bem até entrar em toda essa loucura.

   Deixo a taça de vinho na mesinha lateral e caminho até a sacada. Os gritos se intensificam, como se eles conseguissem arrancar os murmurinhos de dentro da minha cabeça. Meu coração parece que vai explodir de amor sempre que os ouço gritar meu nome. Sou privilegiado, mesmo em dor. Junto as duas mãos e sinalizo para eles que estou indo dormir. Eles sempre respeitam e fazem silêncio absoluto. Eles sempre vão ser minha melhor companhia.

19 de março de 1998, 17:00
Coquetel no Restaurante Hichello Na Torre Eiffel

   Coquetéis, reuniões e leilões beneficentes. São todos por uma boa causa, mas eu já estou farto. Não aguento mais um segundo dessas palhaçadas. É a primeira vez em toda a minha vida que quero ficar em minha casa, recluso, sem precisar olhar para mais ninguém.

   — Entediante? — Petra pergunta, enquanto segura um docinho na ponta dos dedos. A imagem dela, toda elegante, mas se rendendo a um docinho, me faz rir.

   — É, bem entediante — suspiro — Preciso de outra buceta para me prender em um mar de ilusões. Sou mais feliz planejando surpresas românticas, comprando anéis de noivado e esperando ansiosamente pelo momento em que vou poder pedir minha doce e meiga buceta em casamento! — arqueio uma das sobrancelhas e levo meu copo de suco à boca.

   — Eu te entendo, também preciso de uma — ela diz em um tom incrivelmente tranquilo.

   — Volta com a Jéssica! — digo, fazendo uma careta para ela, que apenas ri.

   — Não, muito obrigada. Acho que já tive o suficiente; da última vez não acabou bem. Nós somos ótimas juntas, mas ela precisa entender algumas coisas sobre mim. Sinto que, sem perceber, ela tenta me mudar, sabe? Não sei bem te explicar.

   — Acho que entendo. Qualquer pessoa que entrar na sua vida vai tentar te mudar, porque você tem essa cara de quem precisa de ajuda — Petra arqueia as duas sobrancelhas para mim, segura um sorriso e enfia o doce inteiro na boca, certamente para não me dar um tiro.

   — Vou fingir que você está apenas de mau-humor — ela ri — Você tem conversado com as crianças?

   — Thomas decidiu voltar para a faculdade, está fazendo direito, e Lily, bem... como toda filha de rico, foi viajar pelo mundo — Petra, com a boca quase cheia, começa a rir, chamando a atenção de todos para nós.

   — Você está ótimo assim — ela gargalha, e as pessoas parecem fascinadas por poderem ver esse lado dela.

   — Por que você gosta tanto do meu lado mal-humorado? — pergunto, fazendo uma careta. Ela volta a rir e não me dá resposta alguma. Talvez porque fico mais parecido com ela.

   — Lá vem o Dan — ela fala, quase sem fôlego, se recuperando da crise de risos. Se aproxima de mim e se posiciona ao meu lado esquerdo.

   — Meninos — Dan fala em um tom forte e sereno — Quero vocês dois na mesa principal. Vou fazer o anúncio do novo vinho em trinta minutos! — ao final da frase, ele relaxa os ombros e se aproxima mais — Estou tão ansioso, e se não for bom o suficiente? É a primeira vez que faço parceria com a Joana. Será um vinho e um uísque, e as pessoas vão poder comprá-los juntos por um preço só. Fico preocupado que isso não pegue bem. Enfim, não estou nada confiante — ele olha para cima e tenta respirar, mas parece quase impossível.

The Girl Is MineOnde histórias criam vida. Descubra agora