Capítulo 11

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Petra Pritchett
Rancho Neverland, Los Olivos
3 de maio de 1996, 00:33

   — Sabe, Petra — Michael começa, sua voz suave cortando o silêncio — Não importa o que aconteça, estarei sempre aqui por você. Seja para ajudar a recuperar suas memórias ou simplesmente para apoiá-la em seus novos caminhos. Você não está sozinha — olho para ele.

   — Obrigada, Michael — digo, deixando um sorriso sincero brotar em meus lábios — Às vezes, sinto como se estivesse tentando reconstruir um quebra-cabeça sem ter todas as peças — confesso, desviando o olhar por um momento antes de voltar a encará-lo — Mas é bom saber que não estou sozinha.

   — Você nunca estará sozinha, Petra — ele murmura. Tem uma certa intensidade em seu olhar.

   — Obrigada — murmuro, minha voz um sussurro — Por estar aqui, por ser quem você é — balbucio. Sinto sua mão descansar em meu joelho.

   Seus olhos encontram os meus, faiscando com uma intensidade que me deixa sem fôlego. É como se ele estivesse prestes a dizer algo mais.

   — Michael — chamo suavemente, sentindo meu coração acelerar apenas por dizer seu nome.

   Ele se inclina um pouco mais perto, tão perto que posso sentir sua respiração quente contra minha pele. O mundo ao nosso redor parece desaparecer, deixando apenas nós dois no centro de tudo.

   — Petra — ele sussurra, sua voz suave e rouca enviando arrepios pela minha espinha — Desde tudo isso, tenho lutado contra sentimentos que pensei ter enterrado há muito tempo. Mas estar perto de você, compartilhar esses momentos, me fez perceber que talvez esses sentimentos nunca tenham ido embora de verdade.

   Minha respiração fica presa em minha garganta enquanto eu o encaro, perdida nas profundezas de seus olhos escuros. Há uma intensidade ali, uma paixão que queima tão brilhantemente que é impossível ignorar.

   — Petra, eu sei que pode ser complicado, e que há muito a se considerar, mas — ele para por um momento, como se estivesse reunindo coragem para continuar — Eu gostaria de saber se você sentiria o mesmo, se talvez, apenas talvez, houvesse uma chance para nós dois.

   — No momento, quero me concentrar apenas em lembrar de quem sou e, claro, me permitir viver tudo o que desejo... viver o momento e essas coisas! — Michael acena positivamente, prestando atenção em cada palavra que sai da minha boca.

   — Eu entendo, mas a minha proposta de um lar com um marido carinhoso e paciente sempre estará de pé — ele murmura com um enorme sorriso no rosto.

   — Obrigada — isso significa muito para mim. Gosto de como ele simplesmente me permite tomar decisões sem ficar chateado por eu não atender às expectativas. Nos últimos meses, recebi muitas expressões de raiva por eu não conseguir ser o que esperam que eu seja.

   — Vai, toma um gole! — ele me incentiva a tomar um gole do uísque em minha mão. Sigo seu conselho, levando o copo aos lábios e o sentindo queimar suavemente enquanto desce pela minha garganta. O sabor é amadeirado. É um Daniel 55, Joana Barkoff o lançou em 1977 quando sua filha com Daniel nasceu... Eu me lembro.

   Ele sorri enquanto observa minha reação, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e ternura. É bom ter alguém com quem compartilhar momentos simples como este, alguém que compreende e aprecia cada pequeno detalhe.

   — Gostoso, não é? — ele comenta, seu tom descontraído e amigável, como se estivéssemos apenas dois velhos amigos compartilhando uma conversa casual.

   — Sim, é — respondo, devolvendo-lhe o sorriso — Mas, pra mim, já está ótimo só esse gole — entrego o copo para ele que ri. O pega aproveitando para acariciar a minha mão enquanto tira o copo.

   — Michael, preciso compartilhar algo com você — ele assente com um aceno e me observa atentamente, e eu tomo fôlego para continuar — Jessica... ela dedicou dois anos da vida dela a mim, e mesmo nessa loucura de meses sem memória, ela esteve ao meu lado — faço uma pequena pausa, sentindo um enorme peso em meu peito — Eu terminei nosso noivado, e isso não é fácil para nenhuma de nós. Preciso honrar o tempo que passamos juntas e o apoio que ela me deu — Michael acena, compreendendo totalmente a complexidade dos meus sentimentos — Por isso, peço que me respeite. Agora, enquanto eu navego por este novo e louco capítulo da minha vida, peço que você me dê espaço emocional e tempo para me curar e refletir. Não é apenas sobre seguir em frente, mas sobre fechar um capítulo com a dignidade que ele merece.

   — É claro, eu entendo P! — Michael diz calmamente enquanto coloca sua mão em meu ombro e suspira profundamente — Eu não esperava menos de você — ele abre um enorme sorriso e coloca seu braço ao meu redor — Devíamos zerar aquele jogo que você gostou — ele muda de assunto.

   — Estou livre agora mesmo — digo entre risos para ele que se levanta e estende sua mão para mim e com um sorriso, aceito a mão estendida de Michael e me levanto. Enquanto caminhamos em direção à sala de jogos, sinto uma leveza que há muito não experimentava. A compreensão de Michael me dá conforto, e a perspectiva de uma noite descomplicada, jogando e rindo, parece ser exatamente o que eu preciso — Vamos ver se você ainda lembra como se joga — brinco, o desafiando.

Lily Pritchett
Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos
7 de maio de 1996, 14:16

   Lentamente caminho ao lado do meu pai e da minha mãe. Meu pai, o grande Michael Jackson, está usando um terno preto com direito a gravata e cabelos soltos em seus lindos cachos curtos. Minha mãe, bem, ela está usando um vestido longo com mangas compridas. É acinturado, mas nada demais. É simples e de cor amarela... Minha mãe, dona Petra, chefe do pentágono, está usando um vestido longo amarelo e um penteado de princesa em um cabelo longo. Só mesmo uma perda de memória tão grande faria algo assim.

   Estou usando uma calça de alfaiataria com uma camisa branca aberta na medida certa. Não muito aberta a ponto de me expulsarem da reunião e nem muito fechada.

   Hoje, nos encontraremos com influentes figuras do cenário econômico global para dar início ao projeto de Jéssica, que tem como objetivo empoderar mulheres de baixa renda que dedicaram suas vidas à criação dos filhos e ao zelo por maridos que, sob a fachada de sustentadores, esgotaram suas energias e juventudes. Este projeto visa proporcionar a essas mulheres as ferramentas necessárias para reconstruírem suas vidas com independência e dignidade.

   Esse projeto já estava em desenvolvimento por elas antes mesmo de começarem a se relacionar. Foi o que as aproximou, e meu pai as apoiou muito na época. Eu o ouvia chorar em seu quarto todos os dias desde então. Agora, parece que estão se acertando aos poucos. Primeiro, estamos na fase de amizade; logo, espero começar a ouvir rizadinhas pela casa e canções do ABBA ecoando pelos corredores.

The Girl Is MineOnde histórias criam vida. Descubra agora