Capítulo 15

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Jéssica Pimentel
22 de novembro de 1996, 23:15
Hotel Hichello, Manhattan

   O som da minha mão batendo na madeira da porta ecoa por todo o corredor vazio. Michael sempre pega todos os quartos do andar. Sempre. Após alguns segundos, finalmente, a porta se abre lentamente, revelando o rosto familiar de Michael, seus olhos cansados refletindo uma mistura de surpresa e preocupação.

   — Jéssica? O que faz aqui tão tarde? — ele pergunta, seu tom de voz carregado de exaustão e curiosidade. Eu engulo em seco, lutando para controlar as emoções que ameaçam transbordar a cada segundo.

   — Preciso falar com você, Michael. É importante — minha voz soa fraca e trêmula, uma sombra da confiança que costumava ter.

   Ele franze o cenho, seu olhar penetrante estudando meu rosto por um momento antes de dar um passo para trás e abrir espaço para que eu entre.

   — Claro, entre. O que está acontecendo? — ele pergunta, fechando a porta atrás de mim. Respiro fundo, tentando encontrar as palavras certas para expressar o turbilhão de pensamentos e sentimentos que se agitam dentro de mim.

   — Eu quero entender o que fiz de errado para ela pensar que eu não aguento... você sabe, esperar por ela e a apoiar — sou interrompida pelo choro que escapa. Michael com seu pijama azul de seda se aproxima e me abraça suavemente.

   — O problema não somos nós, Jê, é ela — ele respira profundamente, e eu me sinto tão frágil em seus braços — Você sempre esteve ao lado dela, Jéssica. Sempre. Mas ela, às vezes, simplesmente não consegue ver isso. Ela tem essa ideia fixa de que precisa enfrentar tudo sozinha, como se aceitar ajuda fosse um sinal de fraqueza.

   As palavras de Michael ressoam em meus ouvidos, uma mistura de consolo e frustração. Ele sempre foi meu porto seguro, o único que realmente me entende, mesmo quando eu mesma não entendo. Mas agora, sinto-me perdida, à deriva em um mar de dúvidas e arrependimentos. E isso é uma merda.

   — Eu só queria que ela entendesse que não desisti naquele elevador, por escolha própria, mas porque a amo demais para vê-la sofrer. Eu poderia ter lutado mais, mas, não consigo — confesso em um sussurro. Michael me olha nos olhos, seu olhar carregado de uma compreensão silenciosa que corta mais fundo do que qualquer palavra poderia. Só de pensar que o odeie durante tanto tempo e agora o entendo.

   — Você precisa dizer isso a ela, Jéssica. Ela precisa ouvir isso de você — ele diz com uma convicção tranquila, mas firme. Seu toque é reconfortante, uma âncora em meio à tempestade que ameaça me engolir.

   — Eu sei, mas, não quero. Quando ela decide algo, acabou, é aquilo e pronto! — murmuro, lutando contra as lágrimas que ameaçam transbordar — Eu só queria entender porque ela sempre volta para você — ele dá de ombros e desvia seu olhar para longe.

   — Não podemos controlar os caminhos que o coração escolhe seguir, apenas podemos aceitar as reviravoltas da vida e encontrar a paz dentro de nós mesmos — Michael fala em um tom firme e cansado. Ele volta a olhar para mim. Seu olhar está mais carregado. Mais, tenso. Ele desce seu olhar para minha boca e em seguida de volta para meus olhos como se estivesse tentando evitar algo.

   — Talvez, no final das contas, seja isso que nos une — murmuro, e me distancio lentamente dele. Mas, ele segura meus dois braços com delicadeza antes que eu me afaste completamente.

   — Ainda está com a mesma roupa de ontem — ele desce seu olhar para meu corpo e lentamente volta seu olhar para meu rosto — A mala de Lily está aqui, vocês usam o mesmo tamanho. Ela não vai se importar se você pegar algumas peças de roupa dela — aceno positivamente para ele e tento me afastar, mas, ele não me solta — Me desculpe — ele se afasta com um sorriso envergonhado — Vou te mostrar a mala! — ele anda até perto de sua cama e traz consigo uma mala de mão pequena — Essa é a de emergência, ela só tem roupas que ela nunca usou... bem, filha da Petra — abro um sorriso e aceno positivamente para ele.

   — Elas se parecem muito, mas, Lily tem um equilíbrio lindo de vocês dois, ela não é muito parecida com nenhum, ela é um pouco dos dois — respiro fundo — Então, vou levar para o quarto da frente, volto aqui para dizer oi antes de ir amanhã. Michael acena positivamente e me acompanha até a porta. Quando a porta se fecha, caminho depressa para o quarto da frente que está com a porta destrancada. Entro. Solto a mala no chão e coloco as duas mãos no peito. O que foi aquilo e o que é isso que estou sentindo? Eu gostei da atenção dele.

   Vou até o banheiro do quarto e ligo o chuveiro, deixando a água esquentar enquanto tiro minhas roupas rapidinho, ansiosa para sentir o calor da água. Debaixo do chuveiro, deixo a água quente relaxar meus músculos e lavar toda a tensão do dia. É um momento só meu, sem preocupações.

   Depois de alguns minutos, desligo o chuveiro e saio, sentindo-me renovada. Me enxugo com uma toalha macia e volto para o quarto, deitando-me na cama. Amanhã será um dia melhor. Entendi que não posso controlar meu destino, então decidi aceitar o que vier.

23 de novembro de 1996, 08:54

   O som de alguém batendo na porta me acorda. Nua, me sento na cama e tento acordar aos poucos. Após alguns segundos, me coloco de pé. Pego a toalha que deixei no chão na noite anterior e me enrolo nela. Caminho até a porta e a abro. Michael com um enorme sorriso levanta uma cesta cheia de bolinhos e doces, com ele, também tem um carrinho do serviço de quarto.

   — Café da manhã! — ele diz com um enorme sorriso. Aceno positivamente para ele com um sorriso e dou espaço para que ele entre. Michael me entrega a cesta e entra com o carrinho.

   — Obrigada — digo entre risos — Tem pão de queijo aqui dentro? Está fresco? — pergunto para ele que acena positivamente enquanto arruma tudo em cima de uma mesa perto da janela — Eu amo esse hotel!

   — Dan faz esse pão de queijo todos os dias quando ele está presente nos hotéis ou restaurantes, amo ir quando ele está por isso — ele ri. Michael está usando um sobretudo preto com detalhes em vermelho nas mangas, tem alguns botões dourados também. Seus cabelos estão presos com alguns fios em frente ao seu rosto. Ele vai viajar? Está tão arrumado.

   — Você vai para algum lugar hoje? — pergunto curiosa enquanto me aproximo da mesa e me sento na cadeira ao lado da que ele escolheu se sentar.

   — Tenho um show em Melbourne amanhã, se quiser me viajar comigo, vai ser bem-vinda — ele diz em um tom sereno e começa a colocar um suco em um copo, ele me passa o copo e coloca outro suco para ele. 

   — Austrália? — pergunto antes de colocar um pedaço de melão na boca — Tenho uma reunião com investidores em Sydney amanhã! — abro um sorriso para ele que ri pela coincidência.

   — Não vou poder ir hoje, tenho algumas coisas para resolver, mas, acho que poderíamos nos encontrar. Vou pensar sobre isso — respondo, enquanto tento escolher o que comer.

The Girl Is MineOnde histórias criam vida. Descubra agora