Capítulo 29

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Mariangel Lancaster
Residência Barkoff (Chèvreville, França)
20 de março de 1998, 11h00

    — Você trouxe aquele seu vestido de pedrarias? — Jess pergunta, enquanto joga minhas roupas para fora da mala. Solto o secador, saio do banheiro usando apenas uma toalha e, pulando por entre as roupas espalhadas no chão, vou até ela para impedi-la de fazer mais bagunça.

   — Para de bagunçar as minhas coisas! — digo entre dentes, tentando parecer séria. Ela se senta no chão com o pijama desleixado, uma camisa larga e um short que vai até abaixo dos joelhos.

   — Eu quero usar o vestido — ela choraminga, fazendo um biquinho irresistível.

   — Você vai usar um vestido de pedrarias numa reunião no meio da tarde? — pergunto, franzindo a testa para ela, que fica olhando para um ponto fixo por alguns segundos, antes de cair na gargalhada.

   — Vou te emprestar um vestido longo, florido, com um belo decote e só! — digo rindo, balançando a cabeça com a escolha excêntrica dela.

   — Tá bom, tá bom... aceito o florido — ela diz, revirando os olhos, mas com um sorriso no rosto. — Só queria me sentir um pouco mais glamourosa, sabe?

   — Jess, você é glamourosa até de pijama desleixado — respondo, enquanto me ajoelho para recolher as roupas espalhadas. Ela solta uma risada suave, se jogando de costas no chão, os braços abertos.

   — Não sei o que seria de mim sem você, Mari — ela murmura, com o olhar fixo no teto, como se estivesse refletindo sobre algo profundo.

   — Provavelmente usaria um vestido de pedrarias à tarde — brinco, jogando uma camiseta em cima dela. Jess ri, segurando a peça e jogando de volta em mim.

   — E qual seria o problema? Ia arrasar! — ela retruca, piscando pra mim.

   — Sempre arrasa, Jess — respondo com sinceridade. — Mas hoje vamos manter as coisas um pouco mais simples, ok? — Ela suspira dramaticamente, mas acaba se levantando, se rendendo à ideia.

   — Tá, tá... me mostre o tal vestido florido — diz, enquanto me ajuda a terminar de organizar a bagunça.

   Enquanto ela mexe nas roupas, eu não consigo evitar uma sensação de nostalgia. É bom tê-la por perto, compartilhando esses momentos bobos e descontraídos, como se o tempo tivesse parado para nós duas. Há muitos anos eu não passava tanto tempo com minha melhor amiga.

15h03

   Com uma taça de vinho rosé na mão, continuo a caminhar pelo jardim, saboreando cada momento em que a brisa suave se mistura com o perfume das flores. Tomo outro gole do vinho, sentindo o sabor delicado e refrescante que faz jus ao clima agradável dessa tarde. Daniel realmente pensou em tudo.

   Ajeito a barra do meu vestido branco, longo e ombro a ombro, enquanto atravesso o gramado. Meus passos são lentos e contemplativos, até que paro diante de um canteiro exuberante de rosas-vermelhas, brancas e amarelas. Daniel sempre teve uma paixão por rosas, mas nunca imaginei que ele as cultivava com tanto carinho nas propriedades de seus amigos.

   — Está admirando as rosas ou o dono delas? — Marjorie sussurra ao se aproximar, com um sorriso travesso nos lábios. Seguro o riso e volto meu olhar para ela, que parece resplandecer à luz do sol com seus longos cabelos dourados. Seu rosto angelical contrasta perfeitamente com o vestido midi rosa que veste, realçando ainda mais sua beleza delicada.

   — Um pouco dos dois, talvez — brinco, virando-me para encará-la completamente. Daniel está ocupado conversando com um grupo de pessoas próximo às roseiras, mas, na verdade, eu nem estava pensando nele quando me aproximei.

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