Capítulo 22

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Michael Jackson
Centro Médico Kendrick, Sydney
23 de setembro de 1997, 13:13

   Sentado em uma cadeira perto da cama de Petra, eu a espero acordar. Jéssica e seus pais estão na sala de espera com Thomas e Lily. Ela não ficou feliz por eu decidir ficar com Petra após a cirurgia que ela teve que fazer assim que chegou aqui, mas não disse nada.

   Jéssica não está com ciúmes de mim, está com ciúmes dela. E eu a entendo. Também tenho ciúmes dela. Morro de ciúmes.

   Respiro fundo e olho ao redor. O quarto está cheio de flores. Lily e Thomas estão mais confiantes agora. Eles têm certeza de que ela vai ficar bem. A doutora Molly Paxton, prima de Petra e Jess, fez a cirurgia e foi um sucesso. Agora, é só esperar e torcer para que ela realmente esteja bem.

   — Não devia estar com sua namoradinha? — Petra murmura, ainda sem abrir os olhos. Me aproximo e seguro sua mão — Ela é ciumenta, não deve estar gostando nada de o homem dela estar fazendo companhia pra ex — ela suspira dolorosamente.

   — Jess não é tão ciumenta assim comigo — falo entre sussurros para ela, que sorri e abre os olhos lentamente.

   — Ela é sim — diz baixinho — E ela gosta de você, por isso está pegando leve — ela ri baixinho — Jéssica não gosta de pular de relacionamento em relacionamento, ela gosta de segurança. E você é a segurança que ela precisa. Então, ela nunca vai te soltar.

   — Eu sei — balbucio — Às vezes sinto que ela não me ama, só está comigo porque é confortável — desabafo.

   — Também senti isso enquanto estava sem memórias. Mas, como ela estava apegada a mim, não me deixava ir. Tive que ir derrubando tudo para que ela me deixasse sair — fala metaforicamente.

   — Então, você se lembra do período que ficou sem memórias? — ela acena positivamente e me encara bem nos olhos.

   — Me lembro de tudo agora, é como se tivessem atualizado o meu sistema — ela ri — Olhando para trás, não gostei de como nada terminou. Nem de como eu e você terminamos. Sinto que temos que fazer um encerramento e com Jéssica o mesmo.

   — Prefiro não ter um encerramento com você, temos crianças envolvidas — digo entre risos para fazê-la rir.

   — Nossas crianças já sabem amarrar os próprios sapatos — ela se esforça para se sentar na cama — Temos que colocar um fim, Michael. É óbvio que sinto algo forte por você e Jéssica, mas quero um futuro com alguém que vá me ajudar a esconder um corpo e não me encher de culpa por matar algum maldito!

   — Entendo — suspiro — E Daniel, ele é a sua alma gêmea — abro um sorriso para ela, que acena positivamente para mim.

   — Nick quer falar comigo, sinto que ela não gosta de mim e da filha dela juntas — olho para nossas mãos — Agora, até eu estou em dúvida.

   — Não deixe ninguém ficar entre você e a sua garota, lute por ela. Problema deles se não gostam de você. Eles que lidem com isso. Se a Jéssica vive a própria vida e não os deixa se meter, por que você vai deixar? Eles já estão vivendo a vida deles, com as escolhas deles, eles não têm direito nenhum de se meter na sua. Não deixe. Não converse com ela. Se ela quer ser a porra da sogra bruxa, problema dela! — Petra diz tudo de uma vez.

   — Teve problemas com ela? — arqueio uma das sobrancelhas para ela, que fecha os olhos e respira fundo.

   — Não, é que — ela abre os olhos e me encara — Ela só é parecida demais com meu pai — puxo o ar pelo nariz e solto pela boca. Agora entendi por que ela está tão chateada.

   — Olha, não se preocupe, não vou abrir mão dela. Vou continuar com ela até o dia que ela não me quiser mais — Petra suspira profundamente e aperta minha mão.

   — É isso aí — ela puxa minha mão mais para perto e beija delicadamente — Ninguém vai cuidar daquela teimosa melhor que você.

   — Petra — ela olha para mim — Você a ama muito, não é? — ela olha para o outro lado — Não está apenas sendo teimosa, não é?

   — Eu sei quando é o momento certo de parar de dar dor de cabeça, Michael. Tudo o que aconteceu já foi o suficiente para ela. E foi apenas em poucos anos. Ficamos juntas só dois anos e foi o suficiente para acontecer um milhão de coisas — ela olha para o teto — É cansativo. E eu sei que ela também está cansada.

   — Se você não quer mais, eu entendo e apoio. Mas decidir por ela... não é a melhor coisa a se fazer. Ela é adulta e devia poder decidir sobre sua vida amorosa livremente — ela olha para mim e, pensativa, morde o lábio inferior com força. Ela sabe que estou certo.

   Ela suspira e fecha os olhos novamente. O silêncio no quarto é interrompido apenas pelo som dos monitores médicos. Eu a observo por um momento, refletindo sobre tudo o que foi dito. Petra sempre teve uma maneira única de ver o mundo, um jeito que muitas vezes me desafia, mas também me ensina.

   — Michael — ela chama meu nome suavemente, abrindo os olhos de novo — Não quero mais brigas, não quero mais complicações. Estou cansada. Quero paz. Quero que todos nós encontremos a felicidade, de um jeito ou de outro.

   — Eu também quero isso, Petra — digo sinceramente, apertando sua mão — E farei o que for necessário para que isso aconteça. Mas precisamos ser honestos um com o outro e com nós mesmos aqui — ela olha para baixo. A porta do quarto se abre e a doutora Molly entra. Cabelos loiros, jaleco branco e um ar de superioridade que faz qualquer um se virar o pescoço para a olhar.

   — Como estamos aqui? — ela pergunta, olhando para Petra com um sorriso encantador.

   — Estou melhor que o maldito Dr. Harris vai estar daqui uma semana — ela fala em um tom forte e firme.

   — Oh, eu estava com saudades dessa voz e dessa raiva toda — falo em um tom cômico — Me arrepio todo! — digo as fazendo rir.

   — Vou fingir que não ouvi sobre um possível futuro assassinato — Molly diz enquanto vai até os monitores e faz anotações rápidas — A cirurgia foi um sucesso, mas o pós-operatório é crucial. Precisamos monitorar de perto e garantir que não haja complicações.

   — Vou fazer o possível para seguir todas as recomendações — Petra responde, tentando sorrir apesar da dor.

   — Isso é o que eu gosto de ouvir — Molly responde com um aceno de cabeça — Agora, vou chamar os outros para que possam vê-la por um breve momento. Mas, por favor, lembrem-se de não sobrecarregá-la.

   Saio do quarto junto com Molly, deixando Petra descansar um pouco. No corredor, encontro Jéssica e seus pais, junto com Thomas e Lily. Jéssica me lança um olhar preocupado, mas não diz nada.

   — Ela está acordada e pode receber visitas rápidas — anuncio, e vejo um misto de alívio e ansiedade nos rostos deles.

   — Vamos entrar — diz Nicole, a mãe de Jéssica, segurando a mão do marido, David. Thomas e Lily seguem atrás deles, e Jéssica fica ao meu lado, hesitante.

   — Como ela está? — Jéssica pergunta baixinho, olhando nos meus olhos.

   — Está bem, considerando tudo — respondo, tentando tranquilizá-la — Ela mencionou algumas coisas que precisamos discutir, mas agora o importante é ela.

The Girl Is MineOnde histórias criam vida. Descubra agora