Capítulo 10

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Jéssica Pimentel
Portland, Oregon
2 de maio de 1996, 15:19

   — Eu sabia que na primeira oportunidade ela correria de volta para Michael o ex maridinho perfeito! — esbravejo enquanto caminho de um lado a outro da sala.

   — Não dá pra culpar ela, você realmente a sufoca! — Patrice balbucia enquanto tira as roupas de sua mala e a coloca no sofá — Vou levar essas para lavar, leve as outras malas para cima, querido! — ela murmura para seu motorista que a obedece rapidamente.

   Patrice vai ficar um bom tempo comigo. Ela e Dan estão finalizando o divórcio porque tiveram uma discussão séria há alguns meses sobre Michael e Anely estarem juntos, mas, eles nem estavam de fato juntos. O que foi esclarecido depois.

   Enfim, Dan e Michael se acertaram no fim, e Anely foi para a Itália terminar mais um de seus cursos. Ela é tão jovem, tem muito o que viver, e um relacionamento agora não seria tão bom assim. Parece que ela e Michael terminaram de um jeito bom e com portas abertas para o futuro. Isso é ótimo, para todos nós. Até mesmo para Patrice e Dan. Eles já assinaram os papeis do divórcio, mas ainda vão ser amigos. Não há mágoas.

   — Eu apenas estava preocupada com ela, Patrice, pode fazer muito mal pra ela se lembrar de tudo aquilo! — digo entre suspiros — Ela está tão leve, tão tranquila. Nem é a sombra daquela mulher triste e amargurada!

   — Jess, foi por essa mulher triste e amargurada que você se apaixonou. Talvez, você tenha se apaixonado pela nova versão dela e se esqueceu o quanto pode ser agoniante não ter memórias de 17 anos de sua vida! — ela suspira — Se coloque no lugar dela e a deixe viver e fazer o que quiser. Ela vai cair por si em algum momento, ela não é uma criança.

   — Mas é difícil, Patrice! É difícil ver Petra escolhendo relembrar o passado com Michael em vez de construir um futuro comigo — desabafo, sentindo um nó se formar em minha garganta. Patrice se aproxima, colocando uma mão em meu ombro. Seu toque é gentil, como sempre foi.

   — Eu sei, Jess. Mas o coração dela está confuso. Ela precisa encontrar suas respostas — ela murmura.

   — Eu sei que deveria ser mais compreensiva. Eu sei. Mas é tão difícil quando o amor que sinto por ela grita dentro de mim, pedindo para que eu a segure e nunca a deixe partir — confesso, com a voz embargada. Patrice me abraça. Ela sempre foi meu porto seguro, minha âncora nos momentos turbulentos da vida.

   — Você é forte, Jess. E Petra também é. Deixe que ela siga seu caminho, mesmo que isso signifique caminhar ao lado de Michael — Patrice sussurra, suas palavras acariciando minha alma. Nem parece que há alguns meses estávamos todos brigando feito loucos quando descobrimos que Patrice não era filha de Sylvester, e sim de um romance de verão de Ellie em Paris.

Petra Pritchett
Rancho Neverland, Los Olivos
19:37

   — O quê? — pergunto entre risos, quase sem acreditar no que Tom está dizendo — Impossível! Eu teria sentido se isso fosse verdade, com certeza! — exclamo, segurando minha barriga dolorida de tanto rir.

   — É claro que é verdade, mãe você sempre perdeu pra mim em todos os jogos! — ele insiste com um semblante sério, o que só me faz gargalhar ainda mais.

   — Ah, então foi por isso que separamos nossas duplas, é? Você sempre foi um trapaceiro! — retruco, entre risadas, e ele não consegue segurar o riso.

   Michael se junta a nós, sentando-se ao meu lado. Desde que cheguei, ele fez questão de estar sempre ao meu lado, depois de um tempo que cheguei, ficamos aqui no chão jogando videogame com Tom. E eu sabia que Michael estaria aqui, esperando para conversar.

   Ele é diferente, preocupado comigo de verdade, querendo que eu recupere minhas memórias, sabendo o quão importante isso é para mim. Ele se importa, mas também sabe respeitar meu espaço e meu ritmo.

   Michael já me mostrou fotos antigas, nossas histórias em quadrinhos favoritas, e até mesmo o quarto que tenho aqui onde guardo meus documentos e anotações. Ele fez questão de deixar claro que nunca mexeu em nada lá dentro.

   Juntos, entramos no quarto, e eu o deixei bisbilhotar tudo à vontade. Com ele ao meu lado, revi alguns documentos e anotações, e aos poucos, consegui recuperar algumas lembranças. É como se um peso estivesse sendo tirado dos meus ombros, e finalmente estou começando a entender quem sou de verdade. Estou começando a me sentir confortável em minha própria pele.

   — Mãe! — Lily murmura ao entrar na sala, com uma animação contagiante — Pensei que estivesse em Oregon com a Jessy! — ela diz, cheia de empolgação, antes de se sentar ao meu lado e me abraçar. Quando ela me abraça, sinto os braços de Tom e Michael se juntando ao redor de nós. É reconfortante estar cercada por pessoas que me amam pelo que sou, não apenas pelo que já fui ou pelo que represento agora.

23:52

   — Como você e Jéssica estão? — Michael pergunta enquanto me entrega um copo de uísque com dois cubos de gelo. Eu beberia essa coisa destrutiva?

   — Estamos bem de saúde — murmuro enquanto pego o copo com as duas mãos, trago-o para perto do meu queixo e examino minuciosamente cada detalhe do gelo. Não quero falar que nosso noivado acabou, mesmo que eu não sinta nada romântico por ela, eu respeito o que tivemos, mesmo que eu não me lembre. Passei meses tentando me encaixar no que ela esperava e queria, mas não funcionou, e a minha paciência acabou.

   — Eu sei que estão bem de saúde — Michael fala entre risos — Se não quer falar sobre isso, tudo bem, eu entendo — ele se senta ao meu lado. Estamos na piscina com os pés dentro da água fria. 

   Tomei um banho há alguns minutos e vesti um vestido acinturado. Ele é bem delicado, e esse rosa clarinho combina com minhas unhas longas, que estão pintadas da mesma cor. Meus cabelos, que estão abaixo da linha do sutiã, estão soltos, e o vento da noite gelada os faz voar delicadamente para a frente do meu rosto.

   — Ainda não me acostumei com você tão delicada — ele balbucia enquanto enche sua taça de vinho. Escuto-o colocar a garrafa de volta no chão perto dele e sinto o olhar dele em mim. Ainda estou olhando fixamente para o meu copo por alguma razão.

   Meus instintos estão procurando por alguma coisa. É tão difícil assim desfrutar de um momento com tranquilidade sem achar que alguém tão próximo quanto Michael está tentando me envenenar? Vou ter que começar a ver um psicólogo.

   — Eu jamais te envenenaria — Michael balbucia enquanto sutilmente retira uma mecha do meu cabelo que estava quase entrando no copo e a coloca para trás da minha orelha — Jamais te faria mal algum — sua voz é rouca e carregada. Seus dedos escorregam para minha bochecha, e ele acaricia minha bochecha direita com muita ternura.

   — Eu sei, Michael — respondo com um suspiro, sentindo o toque suave de seus dedos em minha pele. Por mais confuso que tudo isso possa parecer, ainda há uma conexão entre nós, algo que transcende as memórias perdidas e as incertezas do passado. É um conforto saber que, apesar de tudo, ele está aqui, ao meu lado, com gentileza e compreensão.

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