Capítulo 27

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Jéssica Pimentel
Rancho Neverland, Los Olivos
2 de novembro de 1997, 03:17

   Sentada na grama perto do lago, termino uma garrafa de uísque. Estou perdendo o controle de mim mesma. Simplesmente não me reconheço mais. Fecho os olhos com força e tento não chorar, mas é inevitável. Estou tão confusa, tão perdida.

   Por que estou assim? Por que tudo parece estar desmoronando ao meu redor? Lembro-me dos momentos felizes, dos sorrisos, mas agora parecem tão distantes, quase irreais.

   Aperto a garrafa vazia com força, sentindo o vidro frio contra minha pele. Talvez seja isso que eu mereça, estar sozinha, perdida no meu próprio labirinto de dor e arrependimento. O vento gelado sopra, trazendo consigo memórias que preferia esquecer, mas que se recusam a ir embora.

   No fundo, sei que preciso de ajuda, de alguém que me resgate desse abismo. Mas quem? Quem estaria disposto a mergulhar na minha escuridão e me puxar de volta para a luz?

   Ouço passos atrás de mim, mas não me viro. Estou cansada demais para enfrentar mais uma batalha. Talvez seja melhor assim, deixar que a noite me envolva e me leve para longe de toda essa dor.

   — Jéssica? — uma voz suave chama meu nome, trazendo-me de volta para a realidade. Não respondo, apenas deixo que as lágrimas continuem a cair, esperando que, de alguma forma, elas lavem a dor que sinto.

   Sinto braços grandes e fortes me envolverem em um abraço. Um abraço confortável e familiar. O perfume amadeirado faz com que meu choro se intensifique. Abraço de volta, afundando meu rosto em seu peito, e choro como nunca, como se alguém importante houvesse morrido. É um choro do fundo da minha alma, e só esses braços podem me consolar. Só esses braços me lembram constantemente que não estou sozinha.

   — Vai ficar tudo bem, querida — meu pai fala enquanto me aperta em seu abraço terno e confortável.

Michael Jackson
Hotel Barkoff
Moscou, Rússia
12 de novembro de 1997, 20:51

   É a minha primeira vez viajando sozinho desde que comecei a namorar Jéssica, e eu não consigo sentir falta dela. A rotina sem ela tem um sabor estranho, misto de liberdade e vazio. Caminho pelo quarto do hotel, olhando pela janela a cidade iluminada, e a ausência dela parece não pesar tanto quanto eu esperava.

   Nosso relacionamento tem sido uma montanha-russa, com altos e baixos que me deixam exausto. Jéssica, com sua intensidade e ciúmes, sempre foi um desafio, mas eu sempre a amei. O que há de errado comigo? Por que me sinto aliviado com a distância dela? Será que estou deixando de lado algo importante? Tento me concentrar na música suave tocando no rádio, mas meus pensamentos vagam, retornando aos últimos dias, às discussões, ao seu olhar cheio de insegurança. Estou farto.

Almoço oferecido por Joana Barkoff
13 de novembro de 1997, 11:03

   Usando um terno preto, camisa vermelha e calça preta, caminho pelo jardim da enorme propriedade Barkoff. Hoje, Joana está lançando mais um uísque. Ela é a melhor nesse ramo e é muito respeitada. Sempre achei que ela e Daniel têm tudo a ver um com o outro. Ele produz vinho e ela uísque, ambos com uma qualidade incrível. É uma pena que não deram certo e que o que tinham acabou antes mesmo de Anely nascer, em 1977.

   Levo meu copo de uísque com gelo até os lábios e olho ao redor. Daniel e Patrice estão por aqui; se cumprimentaram de maneira sutil e cada um seguiu para um lado. Parece que realmente acabou tudo entre eles, mas é bom saber que ainda se respeitam e se gostam. É triste quando um casamento se acaba porque uma das partes deixou de amar. Embora eu não consiga entender como se deixa de amar alguém que esteve com você por quase vinte anos.

The Girl Is MineOnde histórias criam vida. Descubra agora