[𝟎𝟑] 𝐈𝐍𝐄𝐅𝐀𝐕𝐄𝐋, au pejão

dezenove

PEDRO AUGUSTO, point of view
São Paulo, Brasil

passei o dia todo sozinho, pois joão tinha uma reunião sobre seu novo álbum. e como eu ainda não voltei ao meu cargo na ufo, não me senti confortável em ir.

o problema é que ele chegou tarde, mais tarde do que havia me dito.

muito mais tarde.

eram tipo umas onze e alguma coisa da noite quando eu estava em sua cama, com os gatos espalhados em minhas pernas.

ele falou que chegaria às duas da tarde.

e eu ouvi a porta se abrir às onze da noite.

odeio essa insegurança que me faz tirar conclusões precipitadas, e odeio como isso me faz repensar muito se devo ou não morar com joão.

não acho que ele tenha me traído, mas também não sei o que pensar. até porque não temos nada além de uma relação de "ex que se pegam".

que piada, até parece que eu enxergo nossa relação assim.

ele pareceu colocar algo de papelão no chão da sala e tirar os sapatos, andando até o cômodo que eu estava.

eu não me movi naquele quarto. não pretendia levantar e surtar consigo ou procurar explicações do porquê sua demora. eu apenas me virei contra a porta, respirando bem fundo.

— coração? – disse baixinho, assim que entrou no quarto. — 'tá acordado ainda?

a base de uma relação, qualquer que seja, é a conversa.

essa frase ecoa na minha mente.

então eu apenas murmuro um "uhum".

— me desculpa ter demorado, a reunião demorou mais do que eu esperava e eu ainda encontr–

— não precisa se explicar, boa noite. – interrompi, enfiando o rosto no travesseiro.

e foi ao ouvir seu suspiro que eu notei a burrada que fiz: quase imediatamente eu voltei para a noite do baile de formatura.