Meu opala vermelho saiu da oficina em grande estilo, meu braço estava pro lado de fora dando uns tapinhas na lataria no ritmo de Crazy Train do Ozzy Osbourne, um Marlboro pendurado no canto da minha boca e o outro atrás da orelha...Eu havia pago o conserto a vista com o dinheiro que consegui do Peter, e ainda tinha me sobrado uma boa grana depois de vender o relógio que ele tinha me dado, então eu decidi que naquela sexta feira eu iria comemorar ostentando pra caralho, comprei muita cocaína, heroína e tabletes de maconha...
Estacionei em frente a um brechó de luxo no centro daquela cidadezinha de merda e entrei andando como um cafetão, me sentindo uma estrela do rock por finalmente ter algum dinheiro naquela vida fudida.
Experimentei várias jaquetas de couro, calças jeans rasgadas e até um sobretudo de pele, eu fazia cara de mal em frente ao espelho encarando a vendedora que me admirava através do reflexo, fiquei tão confuso sobre o que comprar que acabei comprando tudo que provei, e comprei a vista, no fim dei uma piscadinha pra garota que sorriu com timidez...
Eu e Agnes passamos o dia cheirando cocaina no meu trailer, ouvimos música e transamos algumas vezes, quando anoiteceu ficamos prontos pra ir pra uma balada que ficava afastada da cidade, em um grande galpão abandonado...
...
Assim que chegamos, fui até a porta do passageiro e abri pra Agnes, beijei a mão delicada dela e entramos sentindo como se fôssemos os donos do mundo, ela estava linda naquela noite, com seu cabelo preto repicado, maquiagem escura ao redor dos olhos, e roupas de couro e jeans, formávamos um casal perfeito, estranhamente perfeito...O DJ ficava em uma espécie de altar, era um cara punk que tocava músicas alternativas pesadas, a galera toda vibrava no efeito das drogas, nos cantos haviam várias pessoas se pegando, fazendo boquete, eu e Agnes fomos para o bar e compramos um combo de vodka, depois encontramos um sofá duvidoso e sentamos pra encher a cara, eu e ela virávamos direto do gargalo quase competindo sobre quem ficaria doidão primeiro, e ela era uma puta alcoólatra que aguentava bastante apesar do pouco peso...
-Como é que tu arranjou tanta grana? - perguntou Agnes, de repente.
-Fiz negócios com um cara - fiquei desconfortável pra responder.
-Que cara? - ela cruzou as pernas e me encarou, olhando nos olhos - Aquele que tirou a gente da pista?
-Não importa porra - eu ficava irritado quando me sentia coagido - O que importa é que temos grana, depois de tanto tempo fodidos!
-Tom - ela segurou meu rosto pra olhar pra ela - O que tá acontecendo? Por que aquilo aconteceu?!
-Porra Agnes - empurrei a mão dela agressivamente - Tu é da polícia agora?!
Ela ficou de pé, furiosa, já era o álcool agindo e deixando ela estranha:
-Somos parceiros seu cuzão, não só na vida como nos negócios, e esse cara tentou matar a gente, e depois tu aparece cheio de dinheiro? Tem alguma coisa muito errada rolando, eu não sou idiota!Me levantei também e bati de frente com ela, indo pra cima e peitando:
-Não tá gostando? Caí fora então!Agnes me deu um tapa no rosto, e eu devolvi com o dobro da força, ela cambaleou pra trás e depois me encarou com olhos arregalados e a mão cobrindo a lateral aonde eu havia batido:
-Vai pro inferno, seu desgraçado!Ela então deu as costas e partiu pro meio da multidão, mostrei o dedo do meio e depois me joguei no sofá, peguei o litro de vodka e virei, vários goles seguidos sem parar pra respirar, a bebida desceu ardendo mas eu não parei, quando terminei atirei a garrafa na parede, ela se espatifou mas o som foi abafado pela música, então repeti a mesma coisa com as outras duas garrafas, no fim, quando tentei me levantar senti o mundo girando muito rápido, tropecei nas minhas próprias pernas e caí de novo no sofá, fechei os olhos e senti uma náusea absurda, então peguei a cocaína que estava no meu bolso e despejei no sofá, fiz uma carreira com o dedo mesmo e cheirei ali, tombei a cabeça pra trás com a boca aberta e rindo igual idiota, mas não tinha adiantado de nada, eu continuava muito chapado pra raciocinar ou ficar de pé, e estava prestes a perder a consciência quando senti uma mão apertar meu ombro, era um aperto muito forte pra ser a Agnes, e ao olhar pra cima, vi aqueles olhos felinos do Peter me hipnotizando... E então, tudo ficou escuro e silencioso...
....
Acordei em uma cama enorme, com lençóis brancos e macios, sentia uma dor lancinante de cabeça e fiquei me revirando na cama até conseguir me sentar na beirada, coloquei a mão na testa e suspirei de dor, a ressaca estava infernal, e foi só quando fiquei de pé que minha ficha caiu, eu reconhecia aquele quarto, meu coração disparou e comecei a olhar ao redor quase paranóico, até que fui até a porta e sai pro corredor, a mansão estava silenciosa e bem iluminada com o sol da manhã que entrava pelas janelas enormes, eu estava só de cueca, desci as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível e ao passar por outro corredor no primeiro andar, cheguei na cozinha, e lá estava Peter tomando café enquanto digitava no notebook, ele sorriu ao me ver:
-Está se sentindo melhor?!Fiquei boquiaberto, sem acreditar que aquilo estava acontecendo, e o quanto ele era sínico:
-Por que caralho eu tô na tua casa?!Peter deu um gole do café e continuou a digitar enquanto falava:
-Ontem você passou do ponto, fiquei preocupado que tivesse um coma alcoólico, ou até uma overdose sei lá - ele falava como se fôssemos amigos - Então te trouxe pra cá, cuidei de você a noite inteira.-O que tu fez comigo? - comecei a prestar atenção se eu sentia alguma dor, se tinha alguma marca no meu corpo - É melhor que não tenha....
Peter semicerrou os olhos, ele parecia um predador, mas eu tinha que admitir que ele era um cara bonito, principalmente quando me fuzilava com os olhos verdes e tensionava o maxilar:
-Não abusei de você - ele franziu o cenho - Acha que sou um monstro? Eu só vou abusar de você enquanto estiver acordado, quero que você sinta entrando tudo, bem devagar, cada centímetro...
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𝑩𝑫𝑺𝑴𝑨𝑵
Romanceeu sempre fui um marginal, desde a adolescência cometendo crimes e usando drogas, até que naquela noite eu decidi invadir a casa errada.