𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 20 (fim)

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A casa era alta e pontiaguda, os telhados na Europa eram assim por conta do excesso de neve dos invernos rigorosos, a janela estava embaçada enquanto eu assistia televisão deitado no sofá bebendo uma cerveja, alguns meses haviam se passado e eu estava me acostumando a morar naquela casa...

Durham era uma pequena cidade na Inglaterra, lá nossos rostos não estavam nos jornais e nós éramos apenas um casal homossexual americano que havia se mudado pro bairro, ninguém desconfiava de nada e as pessoas sempre cumprimentavam com um aceno de cabeça, a vida estava sendo tranquila durante aqueles primeiros meses, eu tinha conseguido um emprego em uma oficina mecânica e Peter tinha comprado uma sociedade com um escritório de advocacia, nós ainda tínhamos muito dinheiro em uma conta ilegal, nossos trabalhos eram apenas pra distrair a cabeça e manter uma imagem normal...

Naquela noite, o farol do carro iluminou a sala e logo em seguida escutei as botas de Peter na varanda, ele entrou em casa tirando a neve do casaco e deixando no cabide, arrancou a toca e se sentou ao meu lado no sofá, entreguei uma garrafa de cerveja pra ele e trocamos um beijo.
-Vai acontecer de novo, Tom.
-O que? - franzi o cenho.
-Encontrei um garoto, ele trabalha no bar próximo ao escritório, mora sozinho em uma casa velha.
-Não é melhor esperar mais um pouco?
-Preciso fazer isso, e quero fazer junto com você.

Eu nunca dizia não pro Peter, ele era o amor da minha vida, também era o pai que eu nunca tinha tido antes, subimos pro segundo andar e preparamos nossas roupas especiais, a blusa preta e a calça camuflada, as balaclavas, as facas afiadas penduradas no coturno....

....

O garoto saiu do bar as 01:00, ele trancou as portas e partiu pelos fundos, fumando um cigarro com a outra mão no bolso do moletom, ele andava apressado pois estava muito frio, e como morava a alguns quarteirões ele tinha o costume de ir embora andando, mas naquela noite, ele não percebeu que estava sendo seguido por um carro de faróis apagados...

O garoto tinha em torno de dezenove anos, cabelo preto e muito liso, era pálido e tinha um nariz comprido e fino, lábios pequenos e olhos grandes, magro e alto, Peter me contou que era muito simpático e atencioso, e que só de olhar pra ele ficava de pau duro, imaginando a expressão de sofrimento no rosto dele...

A casa do garoto era pequena, dois andares de madeira velha e uma cerca enferrujada, ele tirou uma chave de debaixo do tapete e entrou em casa, acendeu a luz da sala e depois a da cozinha, descemos do carro e andamos sorrateiramente até o terreno dele, pulamos a cerca baixa e começamos a espionar pelas janelas... Ele estava fazendo macarrão com queijo e tinha ligado a TV em um programa de auditório, pegou uma cerveja e se deitou no sofá com os pés na mesinha enquanto o macarrão cozinhava...

Foi aí que decidimos colocar nosso plano em ação, fui até a porta principal e bati na porta, com uma mão atrás das costas segurando a faca... Contei os passos dele conforme se aproximavam, e assim que ele abriu uma fresta eu dei um chute muito forte na porta que atingiu o rosto dele, ele cambaleou pra trás dando um urro de dor, no mesmo instante eu entrei e fechei a porta, já lhe dei um chute na boca do estômago e ele arfou, caindo de joelhos pro lado e escorando na mesinha, ele tentou falar:
-Que porra é ess... - mas eu lhe dei outro chute, dessa vez na clavícula e ele caiu de costas, rolou no chão e tentou se arrastar pra cozinha, mas lá estava Peter segurando um punhal se aproximando lentamente...

-Por favor NÃO - ele gritou - sem saber pra qual lado fugir, se escorando na escada pra tentar levantar - Quem são vocês?!

-Nós? - riu Peter, brincando com o punhal na mão, e andando lentamente - Somos a sua morte, viemos te buscar pro inferno!

-Não - o garoto chorou, de joelhos - Eu imploro, se eu fiz alguma coisa, vamos conversar, por favor!

Peter parou na frente dele, e segurou seu queixo o fazendo o olhar pra cima:
-Seu único erro, foi ser muito bonito e também muito azarado, por ter cruzado meu caminho - ele então cravou o punhal na garganta do garoto - É uma pena, que só posso te matar uma vez.

Enquanto o sangue jorrava após Peter puxar a lâmina, o garoto agonizava tentando cobrir com as mãos, mas tudo estava ficando ensopado de sangue fresco, Peter suspirava, deu alguns passos pra trás e tirou o pau pra fora da calça, começou a se masturbar enquanto admirava aquilo que ele mais amava:
-Vem aqui Tom - mandou ele - Tu vai ter que engolir tudo, não posso deixar meu DNA na cena do crime.

E eu obedeci, engoli seu esperma e depois nós apreciamos os último segundos da vida daquele garoto, chegamos ao clímax ao ver a vida deixar aqueles grandes olhos castanhos, e então, fugimos, saímos de lá como duas sombras e voltamos pra casa, pro nosso lar...

E assim, não demorou até que a cidade fosse assolada por uma onda de assassinatos de garotos jovens e bonitos, eram crimes difíceis de serem solucionados pois as vítimas não tinham muita ligação umas com as outras, morriam com um intervalo de em média duas semanas, haviam várias suspeitas, mas nenhuma deles voltada ao jovem casal de dois homens que moravam em uma casa simples e comum, que possuíam empregos comuns, que eram sempre educados e prestativos, participavam das atividades em comunidade e até ajudavam nas buscas quando outro garoto desaparecia na floresta...

....

Tom Braves e Peter Morgan viveram muitos anos juntos, se tornaram uma família só, apenas os Morgan, Tom já não era mais um marginal, agora era um homem trabalhador e um bom marido, Peter continuava com sua elegância e postura, acima de qualquer desconfiança, no décimo ano morando na cidade se tornou vice prefeito, os dois foram felizes por muito tempo, enquanto a cada ano aumentavam a lista de homicídios, que nunca, seriam solucionados.

FIM.

𝑩𝑫𝑺𝑴𝑨𝑵Onde histórias criam vida. Descubra agora