𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 10

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-É o seu dia de sorte - disse o carcereiro, batendo nas grades da cela e procurando a chave pra abrir - Levanta aí Tom, alguém pagou sua fiança!

Me sentei de sobressalto na cama:
-É sério? - fiquei de pé, me aproximando da grade curioso - Quem fez isso?!

O homem, que já me conhecia por outras noites que eu tinha passado lá dentro, me olhou com desconfiança:
-Parece que fez contatos importantes Tom, tenta aproveitar essa oportunidade e parar de fuder a própria vida!

Fiquei pensativo, com a testa encostada na viga fria da grade, olhei pra trás e Johnny sorriu, como se estivesse feliz por mim, eu fiquei com pena de deixar ele lá, mas eu queria muito sair daquele maldito lugar...

Depois de toda a burocracia necessária, eu estava andando de queixo em pé no corredor que levava pra saída do presídio, o último portão se abriu com um barulho alto de engrenagem e eu saí pro lado de fora, fui cegado pela luz intensa da manhã e cobri os olhos com a mão, depois desci as escadas acendendo um cigarro e reconheci um carro estacionado, encostado nele estava Peter, de braços cruzados:

-Bem vindo de volta - disse ele - Perdão a demora, só descobri hoje que estava preso.

-Por que fez isso?! - soltei a fumaça pelo canto da boca, me apoiando no carro também.

-Porque ninguém vai te algemar além de mim - ele riu tensionando o maxilar e ajeitou o paletó - Você é meu.

-Tá de zoeira, né cara? - era estranhamente confortável o quanto eu odiava Peter, mas sentia que podia contar com ele - Tu tá ligado que eu nunca vou te pagar isso né?!

-Relaxa Tom - ele girou as chaves no dedo e abriu a porta do carro - Isso não é sobre dinheiro, agora entra aí que vou te levar pra casa!

Peter subiu os vidros que eram escuros, dirigiu em silêncio pelas ruas de Brookshill, eu fiquei de cara fechada olhando pela janela, evitando contato visual com ele, era um silêncio desconfortável, eu ainda estava cheirando a uniforme de prisioneiro...

-Estou orgulhoso de você - Peter colocou a mão na minha coxa, e apertou, senti uma imediata vontade de empurrar ele, mas deixei...

-Orgulhoso de que?

-Você deixou que seu lado selvagem tomasse conta, as pessoas comentam na cidade, da brutalidade com que aquele pobre senhor foi agredido - Peter riu, assoviando a música que tocava no rádio.

-Cara, tu é um doente - eu tentava me encolher o máximo possível no canto do carro, mas eu era um homem grande - Sai fora.

No rosto de Peter se formou uma expressão que misturava sarcasmo com uma falsa tristeza:
-Não gosto quando fala assim, não sou doente, sou honesto, eu admito gostar de violência, mas eu não sou especial por isso afinal todo mundo gosta, as pessoas se deliciam com tragédias nos jornais, gozam quando descobrem que alguém foi morto em um trágico acidente, ficam sedentas por fotos e vídeos de mutilações e agressões, mas o que me torna especial é que faço parte do seleto grupo de pessoas que admitem a própria natureza sádica, nós tiramos as máscaras de vez em quando...

𝑩𝑫𝑺𝑴𝑨𝑵Onde histórias criam vida. Descubra agora