𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 8

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Estacionei opala do outro lado da pista, meu cigarro queimava lentamente enquanto eu observava a conveniência do posto de gasolina, não tinha segurança nenhuma, apenas câmeras velhas...

Coloquei o revólver na cintura e a balaclava no rosto, me olhei no reflexo do retrovisor e tive um calafrio, ainda sentia pontadas de dor no meu cu da noite passada, mas eu estava tentando apagar essas memórias nojentas da cabeça, então respirei fundo e ajeitei e desci do carro...

Atravessei a avenida com pressa, fui contando de um até dez e dei um empurrão com o ombro na porta da conveniência, o sininho tilintou avisando a minha entrada e eu dei um tiro pra cima, no menino instante as pessoas que estavam lá dentro gritaram e se deitaram no chão:
-Essa porra é um assalto - gritei - Se vocês colaborarem vai ser rápido e ninguém sai ferido!

Havia um senhor atrás do balcão no caixa, ele estava com as mãos acima da cabeça e tremendo muito, fui até ele e apontei o revólver na direção do rosto dele:
-Abre o caixa e tira tudo que tiver aí dentro, coloca em algum saco e deixa encima do balcão!

O homem obedeceu e começou a tirar as notas de dentro da máquina, virei pra trás e comecei a mirar a arma pra todos os que estavam entre as prateleiras:
-Joguem o celular de vocês pra cá, todos vocês!

Eles obedeceram, oito celulares rolaram na minha direção e eu pisei em todos, quebrando pra garantir que ninguém chamaria a polícia...

Me virei novamente pro senhor do caixa e vi que eles estava mexendo em algo embaixo do balcão, e tinha parado de colocar o dinheiro no saco preto, franzi o cenho e pulei por cima do balcão, foi então que vi que havia um botão de emergência e que ele tinha avisado a polícia do assalto...

Naquele instante, eu fiquei cego de puro ódio, era como se tudo ao redor desaparecesse e aquele maldito rosto cheio de rugas em pânico fosse a única coisa que eu pudesse ver, meu sangue ferveu e eu retorci minha boca de ódio, fechei o punho e levei a mão pra trás, peguei impulso e atingi aquele senhor com um soco violento na mandíbula, aquele som de estalo foi provavelmente provocado por eu ter deslocado uma parte do rosto dele, que caiu pra trás esbarrando no balcão e gritando de dor... Mas aquilo aumentou ainda mais a minha fúria, e eu comecei a espancar aquele idoso com a coronha do revólver, eu batia repetidamente e com muita força até que o rosto dele começou a se deformar e ficar coberto de sangue, o velho parou de resistir e desmaiou enquanto eu gritava de ódio e o chutava, foi então que eu comecei a mirar para as outras pessoas:
-Vocês vão pagar por esse velho ter fodido comigo, eu vou matar um por um!

As pessoas começaram a gritar e se encolher nos cantos, e então meus planos foram arruinados com a chegada de quarto carros de polícia com as sirenes ligadas, os policiais desceram fortemente armados e começaram a se aproximar das grandes janelas, nesse momento eu já não tinha o que fazer...

Caí de joelhos no chão e empurrei o revólver pra longe de mim, coloquei as mãos atrás da cabeça e me rendi, aquela sensação de vazio no peito me perfurou como uma bala à queima roupas...

...

Há muito tempo eu não chorava como chorei não fundo daquela viatura, algemado e com a testa apoiada no vidro da janela, era como se eu estivesse regredindo à um tempo muito sombrio, como se me sentisse uma criança novamente, aquele mesmo garoto sujo e inocente, que precisou enfrentar sozinho o bullying por ser pobre e filho de uma prostituta, que apanhou de dez garotos ao mesmo tempo e teve dois dentes arrancados em um chute, aquele garoto que chorou no caminho de volta pra casa, cuspindo sangue a cada dez segundos, com uma dor horrível nas costelas, e ainda precisou cuidar da mãe desmaiada no banheiro com uma seringa de heroína injetada no braço, eu chorei como chorava naqueles dias, quando eu pensava que não sobreviveria até os dezoito anos, que pessoas como eu estavam condenadas ao esgoto e a miséria, eu odiava ser o Tom esquisitão, tinha vergonha da minha mãe e da minha casa suja, eu queria ser como os garotos bonitos e populares, os atletas que beijavam as garotas bonitas, mas eu era um lixo, um verme, que usava todo dia as mesmas roupas sujas e tinha um corte de cabelo feio, que brincava sozinho no intervalo e batia punheta pensando na professora de artes.... Ninguém iria me proteger, eu não tinha um pai, eu não era amado em lugar algum, eu considerava que minha mãe tinha me abandonado muito antes de de fato me abandonar, pois eu vagava sozinho naquele mundo frio e cruel, e quando a tristeza se tornou raiva, e pelos começaram a crescer no meu pau, eu entendi que lamentar era coisa de bichinha, eu precisava agir e tomar de volta o que a vida tinha me tirado, eu me vingaria de quem tinha tido de mim, seria violento com pessoas privilegiadas e causaria o caos por onde quer que passasse....

Mas naquela viatura, por algum motivo estranho, eu me senti indefeso e assustado, desejando que alguém cuidasse de mim, me dissesse que tudo ficaria bem.... Mas isso, isso não iria acontecer....

...

Fui jogado em uma cela com outros caras esquisitos, eu me encolhi no canto e encarei todos eles por cima dos olhos, mostrando que eu não me intimidaria, haviam alguns brutamontes e um outro cara desenhando na parede, ele me olhou de um jeito curioso e pareceu esboçar umsorriso, mas ele tinha um rosto estranho então era difícil dizer...

Baixei a cabeça e comecei a cantarolar uma música na minha cabeça, e ao tentar me acalmar, foi como se eu me lembrasse do cheiro do Peter, como se aquela lembrança ruim fosse se entrelaçando em uma sensação de conforto e segurança, estranhamente vindas de alguém que tinha tentado me matar mais de uma vez...

𝑩𝑫𝑺𝑴𝑨𝑵Onde histórias criam vida. Descubra agora