𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 14

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Encostado no bar, eu assistia Agnes trabalhar como stripper dançando no pole dance, desde a batida de carro eu não tinha mantido muito contato com ela, Peter estava sugando meu tempo e a minha vida de uma maneira bizarra, naquela noite eu tinha decidido ir me desculpar com ela, mas assim que ela me viu entre a platéia de homens excitados, me fuzilou com o olhar e girou na barra de ferro colocando o salto de acrílico enorme pra cima, deslizou até o chão e engatinhou na minha direção, enquanto os caras jogavam dinheiro nela:
-O que tá fazendo aqui?!
-Vim te ver - respondi, dando um gole na cerveja.
-Então vai ter que pagar pelo meu tempo - ela pegou a longneck da minha mão e se levantou, começou a rebolar a bunda magra e pálida enquanto virava tudo em uma golada longa, depois chupou o cano da garrafa simulando um boquete, os outros caras vibraram e choveu notas aos seus pés....

Eu sabia que no intervalo, Agnes sempre ficava nos fundos da boate fumando um cigarro sentada na mureta, e naquele dia, não foi diferente, me aproximei dela com as mãos no bolso da calça jeans:
-Tem um pra mim?
Agnes respirou fundo e colocou um cigarro na minha boca, depois acendeu e disse:
-Eu deveria colocar fogo em você, seu traidor.

-Você não faria isso - encostei ao lado dela, na mureta, os pés dela não tocavam o chão, o salto ficava batendo de leve na parede...

-Eu sou uma otária - Agnes soltou a fumaça pra cima, a maquiagem estava borrada, o cabelo meio bagunçado pelo vento - Fiquei sabendo que você foi em cana, tentei me enganar achando que era por isso que não tinha me procurado mais...

-Foi mal - coloquei a mão na coxa dela, a meia arrastão rasgada - Um assalto que fugiu do meu controle, perdi a cabeça..

-Tá tudo estranho nesses últimos tempos - ela virou meu rosto de frente pro dela - Como é que conseguiu sair tão rápido da cadeia?!

Fiquei em silêncio, encarando ela, mas as palavras ficaram presas na garganta, eu estava envergonhado em dizer, mas ela sorriu com tristeza, inconformada, assim que entendeu tudo:
-Aquele cara né? - ela pulou do muro e terminou o cigarro numa tragada só - O esquisitão cheio da grana... Tom, isso aqui é um conselho de alguém que gosta de você, fica longe dele, nós somos os patinhos feios da história, essa gente lá de cima só usa da gente...

-Sei o que tô fazendo - baixei o olhar pro meu all star sujo - Relaxa...

-Você é um péssimo mentiroso - ela saiu andando de volta pro boate, o som do acrílico na calçada de pedra, eu admirei ela por mais alguns segundos antes que fechasse a porta...

Esperei até que o turno da Agnes terminasse, já era 03:00, quando ela riu debochando ao me ver estacionado com o braço pra fora, esperando por ela, ela usava um mini vestido, a bolsinha de lado, e estava contando algumas notas antes de guardar, se apoiou na janela do carona:
-O que ainda tá fazendo aqui?!
-Vou te levar pra casa.
-Pra qual casa? A minha ou a sua?!
-Você escolhe...

É claro que ela me fez parar em um mercadinho pra comprar mais cigarro e um litro de vodka, tirou os saltos enormes e colocou os pés cheios de calo pra fora da janela, abriu a vodka e bebeu do gargalo:
-Não aguento mais essa vida de puta.

-Eu conheço um convento...

-Vai se fuder - Agnes gargalhou, estava um pouco embriagada, falando mole - Acho que vou me casar com um velho aposentado que é meu cliente.

-Posso ser padrinho?!

-Nem fodendo, você é um pilantra, e se for pra entrar na igreja comigo tem que ser como meu noivo, não padrinho, então não fode...

Chegamos no meu trailer e ela saiu do carro cambaleando, coloquei o braço dela por cima do meu ombro e a ajudei a entrar, fomos pro quarto e caímos juntos na cama, peguei um baseado que já estava bolado na cômoda e acendi, enquanto tirava a camiseta o tênis, fiquei só de calça, Agnes deitou a cabeça no meu peito e fumou comigo:
-Eu gosto de você, Tom, queria que gostasse de mim também.
-Mas eu gosto de você.
Agnes se apoiou no cotovelo pra me olhar nos olhos:
-É diferente, eu queria ser sua, mas sei que isso não vai acontecer, se fosse pra ser, já teria sido.

Deitei a cabeça dela novamente no meu peito e beijei o topo, fiz carinho enquanto fumávamos em silêncio, eu gostava de Agnes, já ficava com ela há muito tempo, mas naqueles últimos dias, Peter havia possuído meus pensamentos, era nele que eu ia dormir pensando, e era seu rosto minha primeira lembrança ao acordar de manhã...

Eu estava perdido.

𝑩𝑫𝑺𝑴𝑨𝑵Onde histórias criam vida. Descubra agora