Capítulo 9. Pesadelo

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   Vesti meu moletom antes de abrir a porta, me deparei com Megumi parado em frente ao meu quarto, arregalei os olhos.

— Oi. — O cumprimentei, Megumi me entregou algo, um pacote. — O que é isso?

— Nobara me mandou te entregar. — Ele disse e coçou a nuca levemente desconcertado, abri o pacote dando visão de um quadro com a foto que tiramos no campo de Beisebol. — É a foto que tiramos no campo, ela achou que ia gostar disso. 

— E você?

— Eu? — Ele me olhou como alguém que viu um fantasma, seu rosto pálido demonstrava tensão.

— Você não ganhou uma também? Quer esta? — Ofereci, Megumi coçou a nuca e negou.

— Não, eu tenho uma também. Essa é sua. Só coloca em qualquer lugar e vamos comer. — Ele deu as costas e saiu. Me virei e procurei onde colocar, só naquele momento notei como havia muito espaço vazio, coloquei o quadro em cima da mesa ao lado do guarda-roupa e saí. Corri para alcançar Megumi, ele diminuiu os passos para que pudesse alcançá-lo.

— Como está o seu braço? — Ele perguntou de cabeça baixa, o balancei mostrando melhora.

— Ta de boa. — Respondi, Megumi não disse mais nada. Nos encontramos com Gojo, Nobara e Yuji. Partimos para um restaurante todos juntos e nos sentamos em um lugar no fundo, mais reservado e pouco movimentado.

Comecei a devorar meu prato com vontade, Gojo estava bebendo enquanto me observava animado com a surpresa de Yuji, Megumi e Nobara ao me ver comer.

— Vocês não vão comer? — Perguntei ao restante, Nobara afirmou e se juntou a mim.

— Pelo menos não está com aqueles dentes de vampira. — Yuji brincou, parei de mastigar.

— O que aconteceu com meus dentes? — Levantei um dos braços, empurrei uma garrafa de refrigerante para o lado, quase a derrubando no chão. Megumi passou por cima de mim e a pegou antes de cair no chão, seu corpo quase por cima de mim me fez lembrar da noite passada, quando o abracei. Por um segundo, me lembrei de chorar e abraçá-lo.

— Meu deus Fushiguro! — Nobara o repreendeu, senti meu corpo congelar, dei uma joelhada em seu estômago e Megumi voltou ao seu lugar.

— Me desculpa! E-eu te machuquei? V-você me assustou... — Tentei explicar, Megumi abraçou o estômago.

— Tudo bem. — Ele disse, Gojo soltou uma gargalhada e apontou para a minha cara.

— Cuidado lindinha, você é bem forte. Não vai machucar nosso garotão. — Gojo deu duas batidinhas no peito de Megumi, que tossiu levemente desconfortável.

— Me desculpa. — Baixei a cabeça sentindo-me culpada, Megumi cerrou os punhos por baixo da mesa.

— Eu já falei que ta tudo bem. — Ele disse num tom sério, Gojo gargalhou mais uma vez.

Me encolhi no lugar, deixei os braços abaixo da mesa para impedir mais acidentes. Enquanto comia, Megumi notou meu desânimo e colocou um sushi no meu prato vazio, ele baixou a cabeça e coçou a garganta. Peguei os palitinhos e levei na direção do sushi, Nobara o pegou e engoliu sem nem mastigar.

— Ela ta sem fome, não percebeu? Já parou de comer faz meia-hora. — Ela disse, Megumi ficou vermelho feito tomate e escondeu o rosto no moletom.

— Eu não perguntei. — Ele resmungou por dentro do moletom, Nobara riu e apontou para o meio da sua cada.

— Que isso? Ta vermelho? — Ela disse deixando-o ainda mais desconfortável, me levantei e fiquei em frente a mesa. — Akiko? O que foi?

— Eu to indo embora, obrigada pela refeição. — Acenei com a cabeça e fui até a porta, Nobara e Yuji trocaram olhares.

— Melhor alguém acompanhar ela até a escola, eu vou pedir mais uma rodada. — Gojo disse e Nobara e Yuji olharam para Megumi.

— Sem chance.

— Vai logo, você levou ela antes. — Nobara apontou, sem a menor vontade de sair da mesa.

— É verdade. Fushiguro, já fez isso antes. — Yuji apontou de boca cheia, Megumi escondeu o rosto em uma das mãos e se levantou. Ele suspirou entediado com o rumo da conversa e foi até a porta.

Assim que saiu, a porta do restaurante se fechou atrás dele. Megumi me viu parada, estática, com meus olhos no chão. Ele se aproximou e ficou ao meu lado sem expressar reação, me virei para ele.

— Fushiguro? — Eu disse, ele continuou parado, suspirei. — Me desculpa por aquilo, acho que me lembrei de alguma coisa.

— Esquece. — Ele foi direto, afirmei e me virei para o restaurante.

— Também está indo embora? — Perguntei, ele simplesmente acenou com a cabeça, afirmei e continuei andando.

Era tarde e o restaurante não ficava tão longe da escola, durante o percurso só conseguia pensar no que vi quando Megumi caiu por cima de mim. Não parecia ser uma lembrança de Aoi, até porque nossas memórias não eram compartilhadas. Megumi não parecia nem um pouco interessado, ele continuava andando como se nada tivesse acontecido. Quando chegamos na escola, não havia mais ninguém, parei em frente à ele.

— Sei que estava cansado mas obrigada por me acompanhar. — Agradeci, Megumi franziu o cenho, aproveitei o momento e o abracei. Era minha única chance de tentar me lembrar, tentei fazer com que o ato não se passasse de um simples agradecimento.

Megumi hesitou por alguns segundos, sem saber o que dizer. O ato o fez reviver a lembrança, mas eu só consegui ver em partes, o choro, e suas mãos em minhas costas.

— Me desculpa. — Me afastei dele e encolhi os ombros, Megumi não disse uma palavra. — Olha seria legal se você dissesse algo, eu me sinto falando com aqueles fantoches do sensei.

— Você chorou.

— O-o que? — Recuei, ele me encarou com seriedade. Como alguém que expressava uma sincera preocupação.

— Você chorou enquanto me abraçava. Foi só isso, não aconteceu mais nada. — Ele explicou, me abracei sentindo vergonha.

— M-me desculpa.

— Para de se desculpar. — Ele me repreendeu, soltei os braços. — Você não fez nada de errado, e eu não vou contar para ninguém o que aconteceu. Então não se preocupe.

Ele disse e passou por mim ignorando toda a nossa conversa, cerrei os punhos e continuei no mesmo lugar, tudo que Fushiguro fizera naquele momento havia me deixado em completo silêncio. Ele foi gentil mas também foi o mesmo de sempre, agiu como alguém que se importa mas como alguém que não dá a mínima. Ele me deixou confusa, mas também agradecida, ele me fez me sentir como alguém que não estava mais sozinha.

Caminhei até o meu quarto pensando nas suas palavras, sua voz não saía da minha cabeça. Megumi Fushiguro era o garoto mais misterioso de Jujutsu. Eu me irritava com ele facilmente por agir com indiferença, mas agora, tudo pareceu tão confuso. Como uma enorme bola de neve.

Entrei em meu quarto e me deparei com a fotografia do time em cima da mesa, peguei o quadro e analisei a foto. Nobara escolheu logo a foto em que Gojo acabou puxando Megumi para perto, meu rosto estava quente e úmido, senti desconforto em lembrar que Gojo o fez sentir meu suor.

— Obrigada Nobara. — Sorri e disse à mim mesma. Aquela foto me deixava feliz, senti que naquele momento não tive vontade de morrer.

Coloquei a fotografia de volta no lugar e me deitei na cama. Olhei para o teto e esperei pelo sono, eu estava cansada, exausta, mas era difícil dormir bem desde que comecei a ver as maldições. As minhas noites nunca mais foram as mesmas, era difícil fechar os olhos, porque sabia o que viria depois... um pesadelo.

BLOODBURN, Megumi FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora