Capítulo 22. Inferno

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Irmãzinha.

A palavra me fez arrepiar a espinha, senti um enjoo tão forte que vomitei ao lado dele. Mahito gargalhou, sentindo uma fascinação estranha pela reação.

— Mahito.

— Que merda você ta falando agora?! — Gritei o puxando por sua camiseta velha, Mahito não expressou reação.

— Geto nos criou. — Ele respondeu e segurou minhas mãos na gola da sua camiseta, olhei para Geto que não concordou nem afirmou nada.

— Isso é mentira! — O empurrei no chão com toda a força que pude, Mahito gargalhou sentindo uma dor na costela.

— Somos irmãos, você é minha irmãzinha.

— Cala a boca! Não me chama assim! — Gritei, ele se levantou, senti minha energia fluir pela minha pele. Tentei acertar um soco em Mahito, ele desviou tão rápido que fiz um buraco na parede, depois no armário do corredor, derrubando um vaso cheio de flores mortas e água.

— Não consegue ver? Temos a mesma energia amaldiçoada, somos iguais. — Ele dizia, saltando a cada golpe, desviando de cada soco. — Você não sabia, mas notou minha presença na maioria das vezes.

— Cala a porra da boca! — Acertei a parede do seu lado, o puxei pela nuca e o arremessei no chão. Geto não fez nada, apenas caminhou pelo cômodo fascinado pela luta repentina.

— Você quer parar e me escutar?! — Mahito tentou mais uma vez, ele me acertou um chute no estômago tão forte que voei contra a bancada a quebrando em pedaços. Senti um gosto metálico na boca, cuspi sangue. — Eles não são seus pais, são marionetes, não tem nada a ver com a gente.

— Podem ser marionetes pra vocês, mas eles me criaram. — Cerrei os punhos no chão, encarando a poça de sangue que se formava abaixo de mim.

— Uma mãe viciada em controle e um pai inseguro, pais superprotetores. — Geto dizia com sua voz calma. — E mesmo assim você tem sentimentos por eles.

— Se soubesse o quanto você pode fazer sem essas limitações humanas. — Mahito dizia, Geto apontou para ele pedindo silêncio. Me ajeitei no chão sentindo meu corpo dolorido, me virei para Geto. Ele se abaixou na altura dos meus ombros, e me encarou diretamente nos olhos.

Franzi o cenho, algo através do seu olhar não me era estranho, como se o que tinha dentro dele já me conhecesse. Tossi deixando o sangue sair, limpei a boca com o braço.

— Ela está aí dentro não está?

— E-eu não sei do que está falando. — Segurei meu estômago, ele se levantou.

— Consigo ver nos seus olhos. — Deu as costas, Mahito se levantou e me encarou diretamente.

— Você disse que tinha outra, está dentro dela? Eu posso tirar? Ela é tão... sem graça. — Brincou, Geto foi até a saída sem resposta. Mahito virou-se para mim e me acertou em cheio deixando-me inconsciente.

Tudo se escureceu, e ficou assim por um bom tempo, até que finalmente comecei a recuperar a consciência novamente. O lugar em que estava era escuro e úmido, fedia a urina de rato. Havia presença de mais de uma energia amaldiçoada, mas não conseguia ver nada além da pessoa na minha frente. Uma garota, amarrada à uma cadeira assim como eu.

Ei! Aqui! — Tentei chamar num sussurro, ela não respondeu. Me virei para a cadeira e tentei me soltar, eram correntes bem pesadas, me mantinham incapaz de utilizar minhas habilidades.

— Quer calar a boca? Estamos aqui por sua causa. — Ela disse, sua voz arrepiou todo o meu corpo. Me virei para ela, seu corpo estava inclinado para baixo, portanto era difícil identificá-la. Mas quando ela levantou sua cabeça, meu corpo estremeceu. — A pior parte não foi me separar do seu corpo nojento. Foi descobrir que somos irmãs.

— Pensei que estava morta.

— E o que? Pensou que tinha me consumido? Você acabou com meus planos, enfrentar o Sukuna seria suicídio. — Ela disse, ainda eea estranho ver Aoi bem na minha frente, em carne e osso.

—  E-então você estava comigo esse tempo todo?! Você viveu no meu corpo escondida?!

— Se está se perguntando se eu estava lá quando ficou aos amassos com seu namoradinho, sim, eu senti tudo. Incluindo aquele pacote dentro da... — Ela dizia com um olhar debochado em seu rosto, senti nojo no mesmo segundo.

— Cala a boca. — Encarei o chão, senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

— Tudo bem, você estava lá quando me diverti com Sukuna. A verdade é que ele não é tão fácil de se enganar.

— Vocês são nojentos.

— O porte físico dele é muito melhor que o do seu fantoche do Frankenstein. — Ela brincou com o apelido, cerrei os punhos por trás.

— Por que matou todas aquelas pessoas? Todo esse tempo... eu nunca entendi.

— Você consome maldições, eu consumo sangue humano. É a mesma coisa. — Aoi explicou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, neguei.

— Eu consumo maldições para acabar com elas, eu devia ter acabado com você quando tinha a chance.

— Queria consumir sua própria irmã? Que coisa feia. — Ela disse e negou, seu sorriso era de embrulhar o estômago.

— Eu vou te matar.

— Você pode tentar.

— Que bom que já estão se entendendo. — Mahito entrou saltitando, Aoi desviou o olhar, fiz o mesmo. — Já posso soltar minhas irmãzinhas pra brincar? Ual. Você é mais parecida comigo.

Ele parou em frente a Aoi, ela o encarou nos olhos e riu debochada.

— Se eu fosse igual a você, já teria me matado. — Brincou, ele riu e puxou Aoi pelo ombro para frente.

— Seu cabelo é tão macio. — Ele tocou o cabelo de Aoi, senti um arrepio na espinha, eu estava... com medo? Por ela? — Não acredito que gostei mais da humana falsa.

— O que? — Aoi disse, Mahito a soltou no chão e veio até mim.

— Vamos ver o que tem pra mim. — Ele segurou meu queixo com força, e abriu minha boca mesmo com relutância. Mahito soltou o que parecia ser uma maldição em forma de lagarta que entoou direto na minha boca. Caí para o lado, sentindo algo queimar pelo meu corpo. — Bom, agora é só esperar.

Ele saiu saltitando, Aoi se inclinou na minha direção e a arregalou os olhos. Comecei a estremecer, meu corpo parecia ferver de dentro para fora.

— Que merda é essa?! — Rosnei entredentes, Aoi parecia aterrorizada pela primeira vez.

— O dedo, ele quer o dedo do Sukuna. Você não pode deixar que essa coisa pegue ele. — Ela disse num tom baixo, comecei a me debater.

— Eu não consigo.

— Você consegue, use suas habilidades pra consumir a maldição dentro de você. — Ela dizia como se fosse fácil, neguei.

— Não dá. Não consigo.

— Escuta. Você absorve energia amaldiçoada tanto quanto consome essas maldições. É o que você faz. Então consome logo essa lagarta! — Mandou, me virei para cima, senti meu corpo se debatendo ainda mais. Fechei os olhos e continuei, era difícil conter a dor latejante se espalhando pela minha pele. — Vem aqui, vem aqui agora, vamos nos unir e usar a expansão de domínio.

— E-eu não sei.

— Não seja burra, nós duas vamos morrer se cuspir esse dedo, temos que nos unir. — Pediu, seus olhos arregalados demonstravam medo pela primeira vez.

— Não.

— Anda logo cacete! — Ela gritou, estendi meus braços algemados na sua direção, Aoi saltou de pulo em pulo até chegar perto o suficiente e tocar em mim. Antes que ela pudesse encostar, Mahito puxou sua nuca para longe.

— Nada disso lindinha, deixe que o verme faça o seu trabalho.

— Vai pro inferno!

BLOODBURN, Megumi FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora