Capítulo 18. Mordida

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   Sorte. Para mim, era uma palavra amaldiçoada. Eu já havia me esquecido da sensação de tê-la genuinamente, e Megumi a trouxe de volta quando me pediu em namoro. Nunca pensei que teria um relacionamento com o garoto mais irritante de Jujutsu, porém mais inteligente e talentoso. Não era mentira que eu o admirava, mas admitir para mim mesma desde a primeira vez que o vi foi muito difícil.

Entrei no banheiro e lavei as mãos perto da pia. Estava com um sorriso bobo no rosto, a sensação de Megumi ajeitando seu moletom em mim era reconfortante e ainda muito recente. Seu cheiro me deixava eufórica, pensar nele parecia desencadear picos de energia no meu cérebro. Me abracei e dei alguns saltinhos no lugar, esboçando uma alegria verdadeiramente imensa. Fui até a porta e saí, algumas pessoas entraram logo depois, avistei Megumi me esperando com o celular na mão e a postura esguia como sempre.

— Podemos ir? — Ele me perguntou assim que me aproximei, sorri e afirmei. Megumi passou sua mão por cima dos meus ombros e deixou um beijo no topo da minha cabeça, senti meu corpo vibrar. — Tudo bem?

A pergunta se referia mais a minha postura, a sua vontade de me guiar com suas mãos por aí como um casal de anos de relacionamento. Afirmei, mesmo com meu rosto parecendo uma pimenta. Ele parou e puxou meu rosto, seu polegar massageou minha bochecha, fazendo-me quase desmanchar no lugar.

— É alergia? — Ele perguntou, referindo-se a vermelhidão em meu rosto, puxei o capuz e me escondi.

— N-não é alergia. — Respondi e me afastei, ele riu e me segurou.

Suas bochechas também ficaram com um leve rubor, Megumi acariciou minha cabeça e soltou uma risada frouxa, o encarei seriamente.

— Você é fofa. — Ele disse, cruzei os braços. — Esta esfriando, vamos voltar.

— Tudo bem. — Respondi, Megumi saiu andando na frente, me apressei e segurei sua mão. O dia passou rapidamente com ele, as horas pareciam minutos. Nós voltamos para a academia, me afastei e me ajeitei no lugar. Ele parou e olhou para mim esperando uma explicação.

— O que foi? — Perguntou, me abracei, ainda sem graça.

— V-vão nos ver. — Sugeri, Megumi apontou para mim, franzi o cenho.

— É o meu moletom. — Ele disse como se fosse óbvio, tentei tirar, Megumi se aproximou e puxou-me pela mão.

— Fushiguro... — Hesitei, ele me levou até o meu quarto e parou em frente a porta. — Você...

— Estamos namorando agora, não me importo com o que vão pensar ou o que aconteceu antes. — Ele disse com seriedade, estremeci com suas palavras. — Você tem algo contra isso?

Sua pergunta foi tão direta que quase me encolhi até desaparecer na sua frente, balancei a cabeça de forma tímida e sem graça, ele afirmou e então deu as costas e saiu.

— Fushiguro. — Falei tão baixo que ele não ouviu, suspirei e meus olhos foram ao chão.

*

Já estava escurecendo e eu estava deitada na minha cama olhando para o teto e pensando no nosso dia, eu oficialmente havia me tornado namorada de Megumi Fushiguro. Não só o garoto mais irritante, como também o garoto mais talentoso de Jujutsu. Eu o amava em cada detalhe, mesmo exalando confiança e superioridade excessiva. Para mim, Megumi era como um aroma perfumado em um monte de lixo. Quando tudo no mundo parecia ser uma completa lata de lixo, e mesmo com nossas discussões, parecia diferente.

Fechei os olhos e tentei dormir, a noite se estendeu rapidamente. Em meio ao meu sono, imagens se passaram na minha cabeça, sangue, morte, corpos. Tudo me fez pular no lugar e acordar fervendo feito uma chaleira quente, o suor escorria pelo canto do meu rosto. Me inclinei para frente e tirei o moletom de Fushiguro, o arremessei na cadeira perto da mesa e saí. Andar pelos corredores durante a noite era de se arrepiar, me fazia pensar nas maldições.

Aquele prédio era todo defendido por uma barreira, mas ao mesmo tempo fazia com que as maldições já existentes estivessem presas conosco. Balancei a cabeça tentando afastar tal pensamento, em meio a isso, peguei uma caixa de leite e me servi com um copo, o bebi rapidamente apenas para tentar aliviar o estresse repentino. Quando olhei para o lado, um coelhinho subiu na bancada, o acariciei e sorri já imaginando o que viria depois.

— Não consegue dormir? — Ele disse num tom preocupado, afirmei.

— Tive um pesadelo. E você? — Fui direta, ele veio até mim e pegou um copo com leite. Megumi o encheu e o bebeu bem na minha frente, ficamos nos encarando por alguns minutos.

— Eu fiquei preocupado, não conseguia dormir. — Corei outra vez, ele dizia tão abertamente que nem parecíamos nos odiar antes do pedido oficial de namoro.

— Está mentindo. Você caiu da cama. — Cruzei os braços, ele desviou o olhar envergonhado, como se eu houvesse acabado de adivinhar o que havia realmente acontecido, e realmente aconteceu.

— Não caí.

— Ai meu deus, você caiu mesmo da cama? — Apontei, observei seu rosto ficar vermelho feito uma pimenta. — É-é brincadeira, não precisa levar tão à sério tudo que eu digo...

— Eu caí. — Ele afirmou, gargalhei alto, Megumi pulou e cobriu minha boca.

Desculpa. — Sussurrei, estávamos tão próximos que era quase impossível não notar a proximidade de nossos lábios. Passei por ele, Megumi me levou até o meu quarto, paramos em frente a porta. — Voltamos aqui.

— Acha que consegue dormir?

— Tenho que tentar. — Dei de ombros, ele afirmou e colocou as mãos em seus bolsos deixando a postura esguia. Me virei e segurei a maçaneta, a sensação dele encarando minhas costas deixava-me tensa. Me virei e o beijei, nossos lábios se tocaram num ritmo sincronizado, mesmo assim Megumi parecia ansiar por este momento até então.

O puxei para dentro do quarto deixando-o bater a porta atrás de nós, o virei na direção da cama deixando-o se jogar no acolchoado macio. Fiquei entre suas pernas longas, suas mãos me envolveram em uma pegada excitante. Poderia beijá-lo até mesmo depois de parar de sentir meus lábios, sua boca era tão macia que deixava-me confortável. Sua respiração tocava meu rosto na tentativa de recuperar o fôlego, fiquei com receio do meu peso deixá-lo sem ar, me afastei.

Megumi por outro lado, puxou-me pela cintura para cima dele, fazendo me sentar em seu colo. Engoli em seco, ele sentiu a hesitação e parou o que estava fazendo, desviei o olhar. Eu estava paralisada em cima dele, seu corpo esguio inclinado e seu rosto próximo ao meu. Mesmo tão perto, ele parou bem ali, virou a cabeça levemente e ficou esperando uma resposta para uma pergunta na qual não foi dita em voz alta.

— Não precisa fazer isso. — Ele disse preocupado, me virei na sua direção e o encarei, seus olhos vazios encontraram os meus. — Você parece preocupada.

— Não quero te deixar desconfortável. — Me ajeitei em seu colo, ele riu, desacreditado.

— Eu sou um feiticeiro Jujutsu, não é uma garota em cima de mim que vai me deixar desconfortável. — A forma direta e seca como ele disse arrepiou meu corpo por completo, me senti envergonhada por pensar que isso o deixaria desconfortável. — É só isso?

Afirmei, ele se ajeitou no lugar e puxou minhas coxas fazendo-me sentar completamente em seu colo. Sua mão subiu pelo meu pescoço contornando-o até minha nuca, entrelaçando os dedos em meus cabelos. Puxei o seu rosto e o beijei, nossas línguas se tocaram num ritmo confortavelmente padronizado. Sua energia amaldiçoada percorria todo o seu corpo, eu conseguia senti-la tão perto, quase a vendo a olho nu.

Fushiguro me despertava sentimentos indescritíveis, não só queria ser dele naquele momento, queria juntar nossas habilidades, queria trocar energias, queria sentir todo o seu poder sobre mim... a energia. A sua energia era tão forte, não era só o seu corpo, não era nem mesmo a forma como suas mãos desenhavam minha cintura, era ela. Era a sua energia amaldiçoada.

— Ai. — Megumi resmungou, quando me dei conta, havia mordido seu lábio inferior.

— D-desculpa. Me desculpa. — Tentei me desculpar o mais rápido possível, uma linha de sangue escorreu pelo seu queixo, mesmo de um corte tão pequeno.

Megumi passou o polegar na ferida tentando parar o sangramento e então chupou o sangue em seu dedo. Ele notou meus dentes afiados como o de um predador, seu olhar sequer hesitou. Ele não estava com medo, naquele momento ele nem se importava com a mordida.

BLOODBURN, Megumi FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora