Capítulo 29. Objeto

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   Meu corpo se arrastava para fora do metrô, depois de deixar Nanami sozinho contra uma maldição de nível desconhecido. Quantas outras maldições devem ter ficado para trás? Ele sobreviveria? Estar fugindo de toda a situação por uma mera fraqueza, isso fez me sentir impotente.

— Não. Não. — Me joguei no chão, seu ajudante tentou me levantar. Lutei para continuar. — Eu preciso voltar. Preciso ajudá-los.

— Você não vai fazer muito sem um dos membros. — Ele disse e me puxou de volta, uma explosão quase nos acertou. Os vidros se quebraram, alguns cortaram meu rosto.

— Temos que sair daqui! Levanta! — Ele me puxou, me levantei, avistei alguém do outro lado da rua. Meu coração quase parou.

O coração humano é capaz de bombear sangue para todo o corpo em apenas segundos... é uma peça tão frágil mas tão escondida por baixo do tecido. Que só nos damos conta da sua importância... quando já é tarde demais.

— Não não não... Fushiguro? Fushiguro! Fushiguro!

— Senhorita! Senhorita você vai morrer se for lá! — Ele tentou me impedir, me joguei no chão e me rastejei.

— Eu prefiro morrer! — Gritei, disparei para fora, avistei o que parecia ser Itadori. Ele estava lutando.

— F-Fushi... Fushiguro. — Me joguei no chão, toquei o seu rosto o manchando com sangue. Ele caiu em meu colo, tentei ouvir seu coração. — Fushiguro acorda! Por favor acorda! Acorda!

Então você... gosta de mim?

Eu não quero te soltar.

Você é fofa.

— Eu te amo. Eu te amo Fushiguro. Por favor n-não morre. Por favor! — Segurei suas mãos, ele não se moveu, seu corpo estava morno. — P-por favor.

Encostei a cabeça em seu peito mais uma vez, tentei ouvir, não havia um sinal de vida sequer. Deixei um beijo no topo da sua cabeça soluçando de dor, medo, ansiedade. O abracei com o único braço que me restou.

— Você não vai morrer. — Sussurrei, senti as lágrimas escorrendo quentes em meu rosto. — Eu te amo.

Usei minha energia para chegar ao seu sangue, senti meu corpo adormecer em cima do corpo de Fushiguro. Minhas lágrimas caíram em sua roupa enquanto eu lutava para me manter acordada. Senti o sangue percorrendo sua veia até tocar o seu coração, aos poucos, bombeei sangue até ele manter o ritmo por conta própria. Parei de sentir meu corpo, caí sobre Megumi desacordada.

[...]

— E-ela está...

— Quando resgatamos vocês, ela já não estava mais respirando. — Shoko explicou, enquanto Megumi olhava para o meu corpo estendido na maca metálica. — Quase ninguém voltou vivo do que aconteceu no centro, com ela não seria diferente.

— Cala a boca. — Ele cerrou os punhos, Shoko o encarou surpresa com sua resposta. — Ela morreu por minha causa.

— Então foi por um bom motivo. — Shoko cobriu meu corpo com um lençol e recolheu suas coisas.

Megumi estava estático, paralisado, tentando imaginar algum motivo para o que aconteceu. Ele sabia exatamente o que havia acontecido. Mas não contava comigo o encontrando, não depois de invocar um guerreiro para lutar no seu lugar. Ele já estava contando com a sua morte, mas a minha... o pegou desprevenido.

Quando saiu no corredor, haviam alguns alunos voltando para a escola. Haviam encarregados conversando sobre o acontecimento. A sensação era de que haviam perdido uma guerra, Itadori estava desaparecido, Satoru havia sido derrotado. Megumi não tinha mais opções, só precisa se manter ciente dos fatos.

— Nanami está morto, Satoru foi vencido, Itadori ainda hospeda Sukuna, ainda sem sinais de Maki Zenin e os outros. — Ele ouvia enquanto caminhava tenso pelos corredores. Megumi foi até o seu quarto e fechou a porta, o clima estava tenso, ele precisava de um lugar para pensar.

Ele levou suas mãos até a cabeça e quase arrancou os cabelos, estava em choque, seu corpo não conseguia reagir a tudo tão rápido, o que acabara o deixando desnorteado. Enfurecido, Megumi cerrou os punhos e foi até a porta, ele avistou um grupo de alunos no fim do corredor, cercando um outro aluno.

— Estou aqui para ajudar. — Ele disse no meio de todos, Panda o cumprimentou com um tapa nas costas.

— É bom te ver de novo Yuta.

— É bom te ver também Panda.

— Quem é ele? — Megumi perguntou, Yuta se virou e o cumprimentou com a cabeça.

— Fushiguro este é o Yuta Okkotsu, antigo aluno da academia. Ele veio ajudar.

— Minha missão é encontrar Yuji Itadori.Também pretendo ajudar as vítimas do acontecimento no centro.

— Devia ter vindo antes. — Megumi não contou tempo, Panda coçou a nuca, levemente sem jeito. — Poderia ter impedido, o Sensei não estaria desaparecido.

— Fushiguro.

— Não. Tudo bem. — Yuta disse, Megumi cerrou os punhos novamente. — Eu não tinha ideia do que está acontecendo, mas nada disso é culpa minha. Dá pra ver que você perdeu alguém importante. Eu sinto muito.

— Não quero sua pena.

— Tudo bem. Se eu puder ajudar de alguma forma...

— Quero ir com você. Preciso encontrar o Itadori.

— Isso não vai ser possível. — Yuta segurou sua katana no cinto. — Minha missão é impedir Sukuna, que atualmente está preso ao corpo de Itadori.

— Eu não vou te impedir de matar ele.

— Como sei que não vai? Vocês eram colegas de classe, amigos.

— Vai ter que confiar em mim. — Ele foi direto, Yuta trocou olhares com Megumi.

— Tudo bem. — Ele concordou, Megumi afirmou e os deixou. Panda se aproximou de Yuta.

— Você tem mais coragem do que eu imaginava. — Ele disse, Yuta seguiu Megumi com os olhos até desaparecer no corredor.

— Ele vai de qualquer jeito, é melhor que vá comigo.

— Tem razão. — Panda concordou. — Megumi é um cara legal, e vocês tem mais em comum do que você pensa.

— O que quer dizer?

— Megumi acabou de perder a namorada, e ela não era humana, igual a Rika. — Panda deixou Yuta surpreso, ele nunca imaginaria que Megumi também tinha uma namorada e que ela era uma maldição.

Naquele momento ele pareceu entender a raiva de Megumi, e então decidiu confiar nele como a lâmina cega de uma espada. Yuta se preparou, e encontrou Megumi terminando de apertar seus cadarços.

— Qual é o plano?

— Vamos revisitar o metrô onde tudo aconteceu e rastrear as pistas através de lá. — Ele dizia jogando sua espada para trás.

— Rastrear? — Megumi perguntou, Yuta apoiou as mãos no cinto da calça e riu.

— Rika faz isso melhor do que ninguém.

— Rika?

— É a minha maldição. — Ele disse, Megumi franziu o cenho.

— O que quer dizer?

— Quando éramos crianças, eu a amaldiçoei. Pensei por muito tempo que ela se prendeu a mim pela promessa que fizemos... mas aí, descobri que na verdade fui eu quem a prendi. — Ele dizia, Megumi se sentiu afetado pela explicação, como se Yuta quisesse chegar em algum lugar.

— E o que aconteceu? Você a matou?

— Ela morreu em um acidente.

— E depois?

— Eu a levo comigo para todos os lugares. Ela sempre me ajuda, onde quer que esteja. — Ele segurou o anel em seu colar, Megumi deus as costas e cerrou os punhos.

— Então você usa ela?

— Não desse jeito.

— Se você ama alguém, não a trata feito um objeto.

BLOODBURN, Megumi FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora