Batalha no Deserto

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O cemitério estava tão tranquilo quanto sempre, apesar da correria ocasional.
Acontece que, de vez em quando, apareciam almas penadas ainda não convocadas: gente ignorante que bateu as botas por dirigir embriagada, soldados que partiram dessa para melhor (ou pior) por causa de alguma guerra estúpida e tantos outros casos.
Ninguém se aborrecia mais com esses fantasmas “que se apresentaram cedo demais” do que Dona Morte: a morte.
Seu rosto era uma antiga caveira, mas seus olhos eram sempre gentis. Sua bata e capuz negros a tornavam apavorante para aqueles que ela ia buscar, mas era mero preconceito mortal contra ela.
Sua foice sinistra era sempre limpa e afiada, mas nunca fora usada para ferir os outros, já que possuía poder muito mais divertido: qualquer pessoa que fosse tocada pela foice, transformava-se em fantasma.
Os fantasminhas do cemitério amavam Dona Morte, bem como o lobisomem, Zé Vampir (um vampiro brasileiro) e até um casal de múmias, que haviam se instalado ali a muito tempo.
O coveiro dava-se muito bem com toda essa turma, assim como o zelador (com quem Dona Morte jogava cartas às vezes).
Pode-se dizer que aquele era um lugar feliz, apesar de sua utilidade pública sinistra.
No entanto, as coisas não estavam indo muito bem naquele dia.
Acontece que um anjo viera tirar satisfação com Dona Morte acerca de um problema que estava se repetindo em alguns lugares: fantasmas estavam, simplesmente, desaparecendo.
O anjo em questão se chamava “Anjinho” e tinha cabelos loiros encaracolados, olhos azuis, pele clara, uma auréola dourada flutuando sobre a cabeça e um lindo par de asinhas brancas.
Anjinho vestia um calção negro e uma camisa azul de mangas curtas (azul celeste), onde se via um lindo botão branco no meio.
Sua aparência era de um menino de mais ou menos 8 anos, mas sua sabedoria já estava como a das pessoas grandes, pois Anjinho não era mortal como nós, mas uma criatura do Reino do Senhor.
Dona Morte sentou-se em um jazigo e perguntou o que o amigo viera fazer ali, ao que ele explanou o problema dos mortos desaparecidos:
– Segundo São Pedro, eles não estão apenas sumindo, mas voltando ao plano dos mortais: Dona Morte, alguém os está trazendo de volta à vida!
– Buscar essa gente toda de novo, vai dar trabalho… – lamentou a Morte – Quem está fazendo isso?
– Talvez eu possa esclarecer as coisas – disse alguém, com voz tranquila.
O homem se aproximou e revelou-se como Febo Abel.
Ele tinha ao seu lado duas garotas, uma  com 7 anos e outra com 15 anos.
Ambas tinham olhos castanhos, pele clara, cabelos castanhos escuros e os dentes da frente semelhantes aos de um coelhinho (acredite, eles eram muito mais fofos e bonitinhos do que você deve ter imaginado, caro leitor); não poderia ser diferente, pois ambas eram a mesma garota, porém, de linhas temporais distintas.
Apesar disso, tinham suas várias diferenças: a menininha usava um vestidinho vermelho e segurava um coelho de pelúcia, mais ou menos limpo, além de ter os cabelos penteados de tal forma, que esses parecias cachos de bananas; quanto a adolescente, essa possuía calça jeans, camiseta vermelha e um coelho de pelúcia azul, mais ou menos limpo (algumas coisas não mudam jamais).
As meninas se chamavam Mônica e viviam em um lugar chamado Bairro do Limoeiro, na cidade de Mogi das Cruzes (ainda que em épocas distintas).
Abel admirou Dona Morte, mas não esboçou qualquer expressão, fosse de alegria ou preocupação. Abel era sereno demais, como se esperava de um deus de sua ascendência.
Com tranquilidade, ele explicou sobre a crise de Hades e o problema de Aethel e seus amigos:
– Meu divino tio está determinado a reescrever a história, derrotando minha irmã, Atena, e destruindo a humanidade para sempre. Infelizmente, meu pai, Zeus, a muito se afastou das questões mortais, de modo que nem deve estar a par da situação. Além disso, meu outro tio, Poseidon, ainda está preso na ânfora de Atena, então não pode ajudar a combater Hades. Por fim, meus cavaleiros da Coroa do Sol já não estão disponíveis, devido a questões que não tenho intenção de revelar.
– Meu Deus! – exclamou Dona Morte – então é Hades quem está trazendo os mortos de volta à vida?! Mas isso é um absurdo!
– Por essa razão, cara anfitriã – disse Abel – desejo que você e seus amigos ajudem minha irmãzinha e se juntem a chamada Liga de Atena. Essas duas garotas – disse Abel, enquanto as duas Mônicas davam um passo à frente – já estão cientes da situação e aceitaram ajudar. Além delas, seus amigos também já estão na base de operações, com exceção daquele tal de “Astronauta”, cujas duas versões, de linhas temporais distintas,  preferiram se preparar antes.
– O que estão fazendo? – perguntou Anjinho.
– O Astro disse que vai buscar a ajuda da princesa Usagi Mimi e do império Karoton – respondeu a Mônica de 15 anos.
– O Astro da minha época, disse que queria ver a família antes de seguir com a gente – disse a Mônica de 7 anos.
Ainda havia certos pontos a acertar, porém, Dona Morte não fez objeções quanto a se juntar ao grupo de Abel.
De qualquer forma, a interferência de Hades estava tornando o trabalho dela muito mais difícil do que já era.
Enquanto as “Mônicas” conversavam com Anjinho e Dona Morte, Abel deu-lhes algum tempo livre e caminhou pelas sepulturas e árvores frondosas, admirando a luz do luar e a brisa fresca da noite.
– Gosta daqui? – perguntou um garoto de roupa social, gravata borboleta vermelha e capa negra: era um vampiro.
A pele amarela e as orelhas pontudas já denunciavam isso, ou talvez seus cabelos negros penteados como os de um vampiro, porém, os dentes pontudos foram o elemento que faltava para que não sobrasse dúvidas quanto a sua real identidade.
– Me chamou Zé Vampir, muito prazer.
Abel nem olhou para o vampirinho, mas comentou:
– Vampiros não deveriam ficar muito próximos do Sol…
– Bela observação – disse um anjo, que acabava de descer do céu.
Ele era aquele pequeno anjo que Abel havia conhecido antes, no entanto, de uma linha temporal diferente, já que esse aparentava ter em torno de 15 anos.
As únicas diferenças entre ele e sua versão mais nova estavam nas asas (muito maiores nele) e nas roupas (pois ele usava uma camiseta azul, sem botões, uma calça jeans branca e um par de tênis azuis).
Por fim, o anjo portava uma espada branca e reluzente que, de acordo com ele, fora um presente de seus superiores:
– Me chamo  ngelo – disse ele – Já estou ciente da situação toda. A Mônica “Teen” me contou.
– Fico satisfeito que aceitem ajudar – disse Abel – Minha irmã irá sorrir – Agora chega de conversa. Vamos até onde Dona Morte e os outros estão. Eu levarei a todos até o palácio de Aethel.

A Liga de Atena: A Ressurreição de Hades Onde histórias criam vida. Descubra agora