Vozes

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Quando Glória para pra pensar na coisa mais abjeta do mundo, a única imagem que combina perfeitamente com sua visão é a que está diante da câmera de segurança dos arredores da casa de Marieta: Chun. A mulher está parada em sua cápsula de transporte esperando para que sua entrada seja liberada na garagem.

Glória e Marieta estavam aproveitando o momento pós-sessão e aftercare para namorarem. Uma aproximação que não tinha nada sexual ou afins. Apenas faziam carinho uma na outra enquanto degustavam um cacho de uvas e um dos melhores vinhos que a terráquea tinha na sua adega. Quando esse instante mágico foi interrompido por Morgana; a nova IA da engenheira, avisando que tinham visita e pedindo permissão para liberar a passagem.

- Eu não acredito que essa mulher veio te procurar de novo! - Glória se levantou da cama sem a menor intenção de esconder sua fúria e seu ciúmes.

- Calma, meu bem. Ela deve ter um motivo importante pra ter vindo. Afinal, não conseguimos hacker nenhuma informação até agora.

- Sério? Não percebe que ela está usando isso como desculpa pra ficar te perseguindo?

- Se for verdade o que podemos fazer a não ser saber lidar com a situação. Nós estamos diante de uma negociação extremamente importante. Não há nada o que fazer a não ser ceder por enquanto.

Glória passou a mão orgânica pelo rosto nervosamente. Depois respirou fundo e encarou Marieta que a fitava com expectativa.

- Tudo bem. Mas eu vou lá recebê-la e você fica aqui.

- Está de brincadeira não é? - Marieta levantou-se e imediatamente tratou de vestir o robe. - Você sabe melhor do que ninguém que eu sei cuidar de mim mesma e não é você que vive dizendo que juntas somos mais fortes? Então! Para de ciúmes. Eu amo você. Eu sou completamente sua e não há nenhuma possibilidade de eu querer algo com a Chun novamente. O único sentimento que eu tenho por ela é desprezo, entende isso? - perguntou fixando-a profundamente nos olhos já que não dava altura de segurar seu queixo com as unhas.

Glória pensou por um breve segundo e bufou. Só tinha controle sobre Marieta no Bdsm, porque fora dele, era ela que estava sob total e deleitoso domínio daquela mulher. Por fim fez que sim. Marieta soltou um leve sorriso.

- Ótimo. Morgana? Liberar passagem de Chun. Aguardaremos na sala de estar - e dali as duas rumaram pra lá.

Chun desceu pelo elevador e quando apareceu, sustentava um sorrisinho irritante.

- Olha só, o casalzinho juntinho.

Marieta revirou os olhos. Glória se preparava pra partir pra cima dela, mas Marieta a absteve.

- Diga logo o que você veio fazer aqui. Não estamos com tempo pra sua dor de cotovelo.

Chun fingiu estar numa situação vantajosa. Podia estar corroída pelo orgulho ferido por dentro mas não demonstraria.

- Já que é assim, eu vim porque quero uma reunião com o líder de vocês, pessoalmente.

- Até parece que vamos cair nessa armadilha! - Glória riu sarcástica.

- Antes que digam qualquer coisa, meu pai está morto e todos os representantes do conselho, então vocês não têm qualquer outra alternativa a não ser negociar comigo!

- O quê? Do que caralho você está falando? - Marieta e Glória se entreolharam.

- É isso mesmo. Devem ter percebido que não conseguiram hackear os canais de comunicação, bom, foi porque eu não divulguei, foi algo totalmente íntimo.

- Mas como assim morreram? - Glória indagou descrente.

- Eu vou explicar tudo a vocês na reunião com o líder. Então, eu não saio daqui enquanto não falar com ele - Chun foi categórica e se sentou confortavelmente no sofá. - Podem ficar a vontade pra avisá-lo do meu desejo.

Na Gaiola Dos Desejos (Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora