Um sonho dentro de um sonho

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Uma das mais desesperadoras ânsias que existem é a de chegar ao cume do prazer. E era exatamente essa ânsia que a loira estava experimentando. Todos os extremos contribuíam pra intensidade do ato sexual. A negra em uma posição submissa debaixo de si estava com a mão direita amarrada na cabeceira da cama e o braço residual esquerdo ao braço direito, lhe impossibilitando de usá-los para executar qualquer ação de se autoestimular, seja através do toque alheio ou em si própria. A loira estava literalmente sentada em sua boca com a boceta completamente encaixada e com todo o peso do corpo sobre si, o que incluía sua gestação de seis meses. As pernas da negra estavam agitadas e seus pés e dedos se contorciam num misto de aflição e deleite pela asfixia erótica. A loira se sentia poderosa por dominá-la daquela maneira, por ter o poder sobre seu corpo, sua respiração e enlevo, e isso a deixava ardorosamente excitada influenciando nos seus movimentos fortes e a fricção rápida. A negra buscava ar, mas estava quase impossível respirar com todo aquele tesão se manifestando materialmente através do fluxo volumoso do  néctar viciante de sua esposa e sua boceta carnosa, quase expelindo seu colo do útero, que entopia seu nariz e enchia sua boca com o sabor dos deuses. Para complementar seu prazer, a loira pegou nos próprios seios e os massageou com força, depois beliscou os mamilos intumescidos. Sua cabeça pendeu para trás, gemendo eufórica. A atividade fez o bebê se mover e automaticamente seu colo do útero e a vagina se contraíram, e repercutiram, aumentando sua ânsia e compelindo-a ao auge do seu prazer. O orgasmo foi tão vigoroso que os vestígios da explosão  duraram intensos minutos. Seu corpo tremia por inteiro e seu leite jorrou instintivamente. Com as pernas fracas, saiu de cima da outra que puxou o ar com força e urrou com um sentimento de gratidão e frustração pairando sobre sua liberdade. Necessitava respirar, mas também necessitava da simbiose com sua mulher. Aquela separação era como uma faca cega cortando um fio invisível. A loira deitou ao seu lado e a colocou parar sugar seu peito inchado e assim aliviar a pressão que a incomodava.

— Boa menina — sussurrou em seu ouvido lhe dando carícias pelo rosto e pescoço.

Glória acordou exasperada como se algo ou alguém tivesse lhe arrancado do mundo dos sonhos. Não era a primeira vez que tinha sonhos excêntricos com aquelas duas mulheres com desejos nada convencionais. Eles sempre tinham continuação, embora algumas partes fossem aleatórias, era só encaixar as peças e pronto, tudo fazia sentido. Não seria sua vontade de ter uma vida diferente da que tinha em Salvation? Elas viviam numa terra sem governo, com grupos anarquistas lutando pelo controle total e ela era a mulher loira, casada com a negra, e ambas lideravam uma comunidade que lutava pela paz e acolhia as vítimas dessa guerra. Ambas eram mulheres lindas, fortes, ousadas, destemidas, autênticas e viviam sua vida sexual recheada de fetiches sem pudores e constrangimentos. Encontrar Medeia não lhe parecia mais ser uma coincidência sem fundamento, mas sim um propósito do destino. Mas quem nunca fantasiou uma vida completamente diferente da que tinha, buscando um escape das tribulações cotidianas? Na maioria das vezes não sabia mais diferenciar a realidade do sonho. Esfregou os olhos que ardiam por ter passado a madrugada estudando sobre BDSM e havia achado aquilo tudo bastante empolgante. Então por que não unir o útil ao agradável?

Levantou da cama meio cambaleante pela sonolência e foi até a pia da casa de banho. Abriu a torneira na esperança de haver ao menos um pouco de água para lavar o rosto, mas não, sequer um pingo. Socou e chutou a parede, irritada.

— Maldita caixa de metal! Vida miserável! Odeio esse lugar desprezível!

Alguém bateu na porta, desviando sua atenção e poupando o que ainda tinha de energia. Já era meio-sol, um sol e meio que não saía pra catar, e em Salvation, se você não produzia, não recebia e consequentemente não comia ou bebia e não fazia mais nada que dependesse de dinheiro. Seguiu até a porta, um tanto hesitante já que não era comum que alguém a procurasse. Mas agora tinha feito uma amiga. Podia ser Zara, então tratou de abrir rápido, mas não havia ninguém ali além de um pequeno baú de madeira. Madeira. Uma raridade em Salvation. Quem teria calibre para colocar aquilo em sua porta? Teria sido um engano ou não passava de um trote?

Na Gaiola Dos Desejos (Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora