Resistência

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— Isso é... Hum, algum tipo de brincadeira? — Glória investigou, recolocando sua armadura costurada a base de muita dor, amargura e desconfiança nos terráqueos.

Medeia suspirou fundo, encostando-se numa mesa de madeira de seis lugares, polida. Suas coxas grossas, as duas expostas pelos rasgos do vestido, aguçando os sentidos de Glória que ficou se perguntando o que poderia acontecer em cima dela. Estava difícil controlar a excitação.

— Eu sei o que está pensando — Medeia desabafou. — Que eu sou uma riquinha mimada que deseja realizar seus caprichos e encontrou a isca perfeita.

— E não é isso? — franziu a sobrancelha, enrugando ainda mais sua testa.

— Não. Essa é a forma que eu sinto prazer, testo meus limites e alcanço a plenitude do regozijo. Não tive sorte até te encontrar hoje. Todas as minhas relações de dominação fracassaram. Tem práticas que não consigo fazer sozinha e eu preciso de alguém. É uma entrega. Uma relação de confiança.

— É a primeira vez que nos vemos! Como pode confiar em mim assim tão repentinamente? — Glória se surpreendeu mais uma vez.

— Porque eu preciso de você e você de mim. É algo instintivo.

— E o que te faz pensar que eu preciso de você? — soltou um riso arrogante, cruzando os braços como se a sensualidade daquela mulher não pudesse lhe atingir mais do que deve.

— Porque você será contratada. Eu vou te pagar pra me dominar. Não quer uma vida melhor? Longe das trincheiras? Não quer ajudar sua família?

— Eu não tenho família. Não tenho ninguém. Sou só eu.

— Eu sinto muito... — Medeia engoliu em seco, sinceramente condolente. E após um momento de silêncio, prosseguiu: — Mas você deve pensar em você mesma, no seu bem-estar, no seu melhor. Você merece.

— E os outros não merecem? Por acaso você já saiu do seu castelo pelo menos uma vez e viu a real situação das trincheiras? — indignou-se.

— Quer mesmo discutir desigualdades sociais agora? — revirou os olhos. — A culpa não é minha se nasci no lado privilegiado da sociedade e muito menos que tem pessoas sofrendo. Eu não sou deus. Não posso fazer nada que não esteja dentro dos meus limites. Como estou fazendo agora.

— Quer que eu pense que isso é caridade?

— Mas eu não disse que é. Afinal, na caridade não há interesse próprio, pense nisso como uma retribuição e pronto.

— Você é desprezível.

Medeia gargalhou, pendendo a cabeça pra trás. Deixando seu pescoço torneado exposto. Glória engoliu a saliva. Estava perdendo a sanidade. Queria aquela mulher na sua boca para lamber cada centímetro de sua pele.

A terráquea se recompôs e caminhou ardilosamente até Glória, colocou a mão em seu ombro e deslizou por seu braço até chegar em seus dedos de carne.

— Uma desprezível que te tenta genuinamente — fitou-a, agora acariciando os contornos de seu queixo. Glória estremeceu já entreabrindo os lábios esperando se saciar naquela boca carnuda. — Ou estou errada?

Glória conseguiu forças do fundo das entranhas para se desvencilhar.

— Isso não vem ao caso. Não sou um brinquedo.

— É uma pena que veja dessa forma — deu as costas e Glória pôde admirar a visão de sua bunda se movendo. Logo ela se virou e a encarou novamente. — Mas eu não vou desistir tão facilmente de seu potencial. Vá pra casa, estude sobre o que o BDSM significa de verdade, pense, analise e só então me dê uma resposta definitiva. Apenas se permita. Deixe um mundo novo se desdobrar para você. Pense em mim como a ponte para um universo de possibilidades. Podemos combinar assim?

Na Gaiola Dos Desejos (Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora