𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐𝟐

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━━━━━• POV [nome] •━━━━━

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━━━━━• POV [nome] •━━━━━

Sabe, às vezes a dor dura tanto tempo que a gente até se esquece dela. Ela vai se espalhando, se tornando parte de nós, e acabamos nos acostumando. Então, num dia qualquer, sem motivo aparente, a consciência de sua existência dela volta e nos atinge com todo o peso do mundo.

Acho que a dor começou aos 9 anos, quando vi minha mãe partir, sendo arrancada de mim sem aviso prévio. Todos na vizinhança que conheciam minha mãe vinham me confortar, ou apenas me abordavam na rua, dizendo que um dia eu entenderia essa dor. Mas era mentira, porque aos 9 anos eu não tinha nada a aprender com a morte. Eu só queria minha mãe de volta, não aprender lições sobre a filosofia da vida. Quando fiz 17 anos, já estava apenas sobrevivendo com essa dor.

Com o passar dos anos, comecei a ter medo de tentar me livrar da dor. Se ela desaparecesse, o que restaria? Eu não tinha a menor ideia, e isso me assustava. Meu maior temor era permanecer a mesma, em mudanças, eu falei isso algumas vezes para o Choso. Tinha medo de não mudar, mas também de perder a dor... ainda assim, ela era tudo que eu tinha dentro de mim, então era difícil manter o foco na busca por uma mudança. Independentemente do estado em que eu estivesse, tudo parecia se resumir à dor.

Às vezes, eu chegava a pensar que a dor tinha até um sabor. Às vezes era salgada, outras vezes doce, e em outras, amarga, e por aí vai. No entanto, meu corpo já tinha se acostumado com essa variedade de sabores. Não era agradável na maioria das vezes, mas era parte de mim, e eu era parte dela.

Quando finalmente percebi a dor, aos 21 anos, entrei em desespero. Acho que tentei fazer algo naquela praia no domingo, um dia antes de ligar para o Choso. O desespero me atingiu como um furacão devastador, tentando me derrubar. Busquei refúgio na água do mar. Lembro-me de ficar ali parada, numa noite de lua cheia, o mar agitado para todos, mas gentil comigo. Lembrei das palavras do Choso, dizendo que eu era como o mar, e achei isso engraçado, desistindo então da ideia de me render ao repouso.

Eu sentei na areia, admirando o horizonte. Comecei a acreditar que eu tinha uma conexão especial com o mar, talvez porque éramos feitos da mesma coisa. Será que ele sentia dor? Acho que não, mas talvez pudesse entender a minha. Fiquei ali observando o nascer do sol, tão hipnotizada no momento que cheguei a esquecer dos ponteiros do relógio no meu pulso. Lá estava o sol, pintando as ondas com seus tons vibrantes, criando uma bela paisagem.

Choso era como o sol para mim, embora nunca tivesse falado isso a ele, era assim que eu o via. Ele me aquecia como um banho quente no inverno. Sem ele, não haveria noite nem dia, não existiriam invernos nem verões, e, ainda mais profundamente, não haveria vida. Em alguns dias, sua presença era mais intensa, em outros, menos, mas ele estava sempre ali, iluminando constantemente. Para mim, ele era assim, a estrela mais brilhante, e eu amava isso.

Era semana de Natal e já fazia alguns dias que não tínhamos nos falado, devido a toda a confusão com viagens e outros assuntos chatos de adultos. Eu havia decorado a casa com a ajuda de Megumi e seus amigos, Nobara e Yuji, para combinar com o clima. Todo o ambiente natalino já estava montado, e tudo o que restava antes da ceia era participar do encontro anual na igreja. Assim como o Choso, eu não era religiosa, mas gostava de acreditar que estar entre tantas pessoas religiosas me tornava mais comum, além de a instituição me trazer conforto.

𝐝𝐚𝐧𝐜𝐞 𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐝𝐚𝐫𝐤, ᴄʜᴏsᴏ Onde histórias criam vida. Descubra agora