Capítulo 54 - Tesouros de família

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Ansioso pra saber mais sobre a infância de sua filha, em passos leves, Henrique entrou no antigo quarto de Sofia. Seus olhos percorriam cada canto do cômodo, observando os detalhes.

_Papai, esse é o meu quarto. Meu e da mamãe, de quando a gente morava aqui. - Sofia gesticulava empolgada, como se estivesse apresentando seu reino encantado ao pai.

Tomado pela emoção, por instante Henrique suspirou forte. Parado, em silêncio, ele observava tudo ao seu redor. Graziele, com um sorriso doce o observava, notando o brilho de emoção em seus olhos.

_Henrique, esse é o quartinho que a Sofi e eu dividiamos. - ela disse.

_É lindo! - emocionado, ele sorria como se não acreditasse que realmente estava ali.

O quarto simples de mãe e filha, por anos foi seu refúgio aconchegante. Suas paredes eram cor de rosa, haviam sido pintadas pelo avô da menina. O piso feito de tábuas largas e gastas, estava reluzente! Foi encerado e polido por Luciana, quando preparou o quarto para chegada de Graziele. No chão, um tapete redondo, artesanal, feito de barbantes brancos, era disposto entre a cama e o pequeno guarda roupas de madeira. Em um canto, uma cama de casal coberta por uma colcha de crochê cor de rosa. Ao lado, um criado-mudo rústico guardava um abajur de luz quente, com flores pintadas. Um baú antigo, no pé da cama, servia de baú de brinquedos. Bonecas, bichinhos de pelúcia e outros brinquedos se amontoavam ali. Na parede, a menina fez alguns desenhos coloridos, com lápis de cor e giz de cera.

No geral, o quarto era simples, mas aconchegante e cheio de recordações. Era um reflexo da vida da menina e de sua mãe ali, simples, mas rica em alegria, simplicidade e amor.

Graziele, com o coração aberto para inserir de vez Henrique em sua vida, decidiu compartilhar com ele suas lembranças e mais sobre sua história, que ele ainda não conhecia.

_Henrique, quando minhas irmãs e eu viemos morar aqui na chácara com o papai, precisávamos de mais um quarto.
A casa é pequena, como você pode ver. Antes tinham apenas dois quartos, o do papai e o outro que era da Marcela, que passou a dividir com as meninas. Como não cabia todas nós naquele quartinho, tivemos que adaptar esse cômodo. - Grazi sorria saudosa, recordando os detalhes da época.

_Aqui, era a salinha de costura da minha avó, a mãe do papai. Estava cheio de coisas velhas! O papai retirou tudo, pintou as janelas, as paredes e Sofia e eu ficávamos aqui. - ela contava com a voz carregada de emoção.

_Sua avó morou aqui?! - Henrique perguntou, em busca de saber mais sobre a família.

Graziele narrava como tudo aconteceu.

_Sim! Os meus avós moraram aqui por muitos anos. O papai foi criado nessa casa. Antes, tudo isso aqui era um sítio. A vovó morreu, e meu "vô" continuou morando aqui por mais uns anos. Quando ele faleceu, deixou o sítio para o meu pai e meu tio Francismar, que mora nas terras ao lado. Eles dividiram o terreno por igual, mas o papai se mudou para cá, quando veio de Palmas, após se separar da mamãe. Ele tinha dívidas feitas por ela, precisava pagar a pensão das três filhas, e não conseguia refazer sua vida. Foi aí que ele se viu obrigado a vender parte de suas terras para o meu tio. Hoje, meu tio tem um sítio aqui ao lado, e o papai, como ficou com poucas terras, transformou o pouco que sobrou nessa chácara. - ela contava e Henrique e Sofia ouviam atentos.

Saudosa, Graziele se sentou na cama, acariciando a colcha de croche cor de rosa, que era a mesma que usavam quando moravam ali.

_Quando eu vim pra cá, grávida da Sofia, o papai transformou esse cômodo em mais um quarto. É o menor de todos, mas sempre foi suficiente pra mim e pra Sofi. Não é, filha?! - Grazi sorriu e Sofia assentiu.

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