30 | Visão periférica

3.8K 404 173
                                    

You were so magnetic, it was almost obnoxious
Flush with the currency of cool
I was always turnin' out my empty pockets

Você era tão magnética, era quase ofensivo
Em alta entre os descolados do momento
E eu estava mostrando meus bolsos vazios


Suburban Legends

━━━━●─────

⇆ㅤ ㅤ◁ㅤ ❚❚ ㅤ▷ ㅤㅤ↻


Estou em abstinência. Não deveria ceder ao vício, apenas aguentar as próximas horas de tremores e coração palpitante, mas só consigo pensar no meu celular guardado no vestiário, esperando por mim. Claro que não é do celular que estou em abstinência. É de Connie, que com certeza me mandou alguma mensagem nas últimas três horas, mas não pude ver.

— Mais quantos minutos? — pergunto para o assistente de fisioterapia, soando mais como uma criança birrenta do que como a adulta que sou.

— Só cinco, Rebeca — ele resmunga, igualmente mal humorado.

Estou imersa em uma piscina funda e estreita, com água e gelo ao meu redor. Meus músculos já se acostumaram ao frio, a temperatura do meu corpo se adequando a ele, e em outro momento eu poderia estar até relaxada aqui.

Mas e se Connie achar que estou ignorando as mensagens dela de propósito? Ela não tem como saber que, depois do treino com a Seleção, eu fiquei envolvida em uma conversa de uma hora com o nosso técnico, tentando entender como performar melhor como uma meia-atacante sem alterar muito a estratégia que estamos adotando nesses jogos preparatórios para as Olimpíadas. E ela não sabe que, depois disso, ainda acabei aqui, imersa em uma piscina inflável cheia de gelo.

— Ela está te infernizando, né, Jorge? — ouço a voz animada de Alana alguns segundos de ela passar pela porta, já usando apenas um short e top. — É porque ela quer stalkear a namoradinha dela no TikTok. Pesquisa aí Connie Ember no seu celular e deixa na frente da cara dela que, te juro, ela fica bem quietinha.

Eu estreito os olhos para a minha amiga. Ela está com o cabelo loiro preso em um coque alto e bagunçado. Tem tatuagens pelo corpo inteiro, até nos calcanhares, e tenho a leve impressão de que ganhou ainda mais músculos só nas semanas em que ficamos sem nos ver.

— Ela não é a minha namoradinha — digo, em minha defesa. Como estou de mau humor, soa como outra reclamação.

— Mas você gostaria que fosse. — Alana dá uma piscadinha.

Tenho vontade de, por puro despeito, responder que, se eu quisesse, Connie seria minha namoradinha mesmo. Mas não sei se isso é verdade e, de qualquer forma, teria explicações para dar. Então me limito a encará-la em silêncio, atirando flechas com o olhar.

— Pode olhar o quanto quiser, gatinha — ela provoca, sorrindo. Depois faz uma careta conforme entra no próprio banho de gelo. Como eu, fica apenas com a parte de baixo do corpo submersa, até o umbigo, mas sei bem que é o suficiente para gelar até o nosso último fio de cabelo. — Caralho, Jorge, você caprichou nessa merda.

— Vocês duas são impossíveis — Jorge reclama. Ele estava tentando ler um livro de autoajuda, daqueles que mandam tacar o foda-se para alguma coisa, mas desiste, colocando o livro de lado. Olhando para mim, pergunta: — Vai funcionar mesmo? A estratégia dela?

— De me mostrar vídeos da Connie?

— Uuuh, ela é só "Connie" agora — Alana comenta, sorrindo de lado. Eu ignoro.

As Novas Românticas ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora