Capítulo 20

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Duas semanas passam com rapidez e Mark realmente tem cumprido sua promessa. Desde domingo da nossa conversa, ele tem me ligado todos os dias, atolado ou não em sua mesa de trabalho. Minha mãe também me passou a mandar mensagens, embora de um modo mais cauteloso e como a conheço sei que está com vergonha.

Hoje é sexta-feira a noite e opto por ficar em casa, usufruindo da minha própria companhia. Acabo de deligar a ligação do meu pai após nos despedimos e tenho toda minha atenção voltada à televisão, onde Annalise está em cena, em uma aula à sua turma de direito. Enquanto assisto, afago Gato em meu colo.

A casa estava vazia. Gavin como de costume havia saído e avisado que dormiria fora, já Gabe, nem havia chegado do campus e já eram quase dez horas da noite.

Ignorá-lo tem sido fácil, estamos em um ponto do semestre em que mal temos tempo para respirar. Tenho ficado na universidade mais tempo do que o habitual e quando estou em casa, só saio do meu quarto para comer alguma coisa rápida e tomar banho, muito ocupada com as matérias a serem estudas. 

Nossos encontros se limitam apenas aos cafés da manhã e alguns momentos durante a noite. Eu nem dirijo o olhar para ele, embora sempre sinta seu olhar queimar minha pele. 

Meu desejo era apenas ficar quieta, descansando o suficiente para reduzir um pouco da exaustão que sinto, cada vez mais drenada pela quantidade de coisas a serem feitas e minhas tentativas de equilibrar minha vida social junto a elas.

A psicóloga tem sido de boa ajuda, ter alguém com quem me abrir é um alívio grande e sempre saio de sua sala com novos pensamento e ideias, disposta a roubar uma joia do infinito se necessário ou escalar o monte Everest.

Cogito assistir minha série no quarto para evitar ver Gabe mas, assim que seguro o controle, a porta se abre. Olho sob meu ombro ligeiramente, somente para confirmar que realmente se trata dele. O gato salta do meu colo e corre para recepcionar seu dono, em um miado.

Desligo a TV e me levanto, ansiando em fugir para meu quarto tão acolhedor em vista do que a sala agora é.

- Oi - Escuto a voz fraca de Gabe. Lanço um rápido olhar em sua direção e não digo nada. Ele parece cansado, com olheiras profundas, e estende a caixa quadrada que tem em mãos, sorrindo de um modo tímido - Imaginei que poderia estar em casa e trouxe pizza.

- Eu já comi - Falo. 

Lhe dou as costas e vou para o meu quarto. Deixo de lado a ideia de terminar o episódio que assistia e ligo meu computador para jogar um pouco de the sims.

Meia hora se passa e uma batida vibra contra a porta do meu quarto. Suspiro, abandonando meus fones. Levanto e abro a porta em um solavanco.

- O que foi? 

Seus olhos castanhos se estremecem.

- Oi, Amelie - Apenas franzo a testa. Ele engole em seco - Só queria te falar, eu não comi a pizza toda e caso queira comer, está na geladeira. É de quatro queijos, seu sabor favorito - Coça a nuca, claramente acanhado.

- Não, obrigada - Fecho a porta e volto ao meu computador.

Gabe não era uma pessoa atenciosa, longe disso, mas foi somente passar a ignorar para que ele me fizesse questionar esse fato. Nos não erámos mais amigos e estava fazendo jus a isso e ele o contrário. Com o passar dos dias sem nos falarmos se demostrou incomodado, tentando criar enredos ali e aqui, tendo a iniciativa de me cumprimentar e sempre me oferecendo comidas ou ajuda nos estudos.

Sentia falta do amigo, isso era óbvio, mas estava contente em passar um tempo comigo mesmo, com toda a atenção e a descoberta da minha pessoa. É isso o mais importante.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora