2 - CAFÉ

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Estar sozinho nem sempre remete à solidão, mas foi assim que Charles se sentiu por um tempo. Por muito tempo, aliás.

Foram muitas cenas de risadas e estradas com amigos e inimigos entre matérias e aulas escolares. Anos e anos vivendo a doçura infantil e o calor juvenil escolar.

Toda aquela alegria e fogo que temos ao sermos jovens.
Inocentes se achando inteligentes.
Até que ele descobriu que tudo passa...

Aliás... Vamos repetir isso mais à frente.

Por enquanto, preciso manter minha mente calma para não pular os fatos. Até porque, tudo é assim. Pulado, corrido... Arrastado quando estamos tristes, mas acelerado quando estamos felizes.

Em um piscar de olhos, o garoto já estava desesperado para trabalhar, ter seu dinheiro e autonomia. Ser dono de si... Da própria vida caótica transformada em algo calmo. Em alguma coisa que ele pudesse chamar de sua.

Tudo se arrastava... Não existia nada feliz além dos seus livros, séries, animes e músicas... Até que num piscar de olhos...   

"Olá... Bem-vindo ao Café Star..."
Ele se tornou um atendente de um dos maiores restaurantes do país.

Muitos vão imaginar um jovem, agora atrás do balcão e pensar: "Caramba Charles, não tinha algo melhor não? Vender Café e Almoço?" Mas o rapaz não pensou em nada disso quando começou.  

Aliás, não pensou em nenhuma coisa.
Era uma nova temporada na sua vida!
O que poderia dar errado?

É aqui que começamos tudo. Onde tudo nasceu...

Jeremias era seu amigo de trabalho mas podemos chamar de colega pois amizade mesmo só surgiria futuramente.

Eles estavam muito animados para o primeiro dia... Corriam ao descer a escada quando ouviram alguém gritar:

— Ei! Vocês dois! Por favor... Poderiam recolher esses papelões aqui fora? Não podemos deixar a loja suja para nossa inauguração! — A Coordenadora de Plantão estava colocando tudo em ordem.

E logo depois ali estavam os dois, pequenos catadores de lixo no primeiro dia...

Que honra!

Eram a melhor dupla recolhendo tudo aquilo. Não durou dois minutos e já estava tudo na casinha de lixo ao lado do restaurante. E logo depois eles voltaram para dentro e se olharam orgulhosos de si mesmos.

— Eu já sei quem vai ser minha dupla.

Jeremias exclamou, meio fofo porém ofegante. Charles sorriu.Não sabia o que falar. Seu olhar era tão animado! Estavam apenas fazendo uma tarefa tão comum...   

Então de onde vinha tanto entusiasmo e alegria?

Tinha tanta vida naquele garoto...

Nosso menino nunca tinha sentido tanto vindo de alguém antes... E talvez... Ele nunca mais sentisse.

E assim, no coração do Café Star,
cercado pelo aroma de hambúrgueres
e pelo alegre bate-papo dos clientes
Charles encontrou consolo. Ele
encontrou um amigo, um confidente,
um farol de luz na vasta extensão da
solidão.

Sua amizade floresceu em meio à
gordura e à sujeira do restaurante de
fast-food, uma prova da resiliência
do espírito humano. Eles aprenderam
a apreciar a beleza no mundano, a
encontrar alegria na companhia um
do outro.

E no final, foi essa conexão
recém-descoberta que salvou Charles
das garras sufocantes da solidão.

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