Um conto SOBRE NÓS

14 - CULPA

Ao contrário do que muitos pensam, maturidade não tem muito a ver com infantilidade. As duas não andam de mãos dadas.

E é por isso que se cada um dentro de um relacionamento tiver pelo menos um desses atributos, mesmo que tentem se segurar, suas mãos ficarão escorregadias.

Jeremias tinha uma ideia, enquanto ajudava os amigos a organizar tudo o que tinham comprado antes de chegar à casa de praia, que Charles não precisava ter ficado chateado com sua brincadeira.

Naquele instante, até parecia que estava tudo bem. O garoto brincava, já tinha voltado ao humor normal. Mas não com ele... A conexão estava abalada. Mesmo que tentasse se distrair, o sentimento de culpa e arrependimento invadiam o menino, ao ponto de fazê-lo sentir medo.

E Jeremias odiava esse sentimento.

No fim da tarde, eles não foram de mãos dadas até a praia. A ideia era subir algumas pedras, pegar algumas trilhas até locais específicos e magníficos daquele local maravilhoso.

Durante o caminho, Charles não se dirigiu muito a Jeremias, mesmo que seus amigos perguntassem e ele afirmasse que estava tudo bem.

Sem diálogos, sem muita brincadeiras e... Caramba... O nosso menino nem queria entrar na água.

"Tudo bem..." Jeremias pensou. "Eu preciso fazer alguma coisa."

Foi então que ele saiu da água, enquanto via seu amado andando para cima e para baixo, sentou na pedra onde as bolsas, roupas e tudo mais estavam jogados, e chorou.

Ele odiava se mostrar vulnerável, mas estava...

Não aguentava mais aquilo e sempre que Charles mudava de humor, ele pensava em sua ansiedade, no quanto ele poderia estar sofrendo com aquilo e em como a culpa com certeza era sua.

— Está tudo bem? — Agora que Charles percebeu a tragédia. Ou que pelo menos pensou que Jeremias estava refletindo sobre o ocorrido, ele se aproximou e sentou ao seu lado.

— Eu faço tudo errado... Com você... Com todo mundo...

— Ainda é sobre o vinho? — Charles perguntou. — Porque se for, fica tranquilo. Você não sabia...

Não adiantou muito abafar os sentimentos. Enquanto já anoitecia, Jeremias chorou ainda mais. Agora com os braços de seu amado em seus ombros, ele se sentia ainda mais com medo, ao invés de seguro.

— Eu vou sempre te machucar.

— Não pensa assim...

— Como não? — Seus olhos com ondas de lágrimas encaravam o rosto do garoto a quem ele tanto amava. — Eu não sei ser bom. Para ninguém... É assim que estou me sentindo...

Diante do silêncio que Charles agora deixava pairar entre os dois, Jeremias desabafou sobre tudo.

Tanta coisa que a mente dos dois foi tomada pela neblina e pensaram que juntos, poderiam passar por aquilo e que daqui a pouco já estaria tudo bem...

Mas estaria mesmo?

Eles saberiam muito em breve, principalmente quando Charles decidisse perguntar, se um término naquele instante, quem sabe não seria uma boa decisão!