30 - ORAÇÃO

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Quando uma nuvem cobre o sol, a sombra  que vem como resultado pode esconder um pouco do que o verdadeiro dia estava sendo. 

Por um instante, podemos acreditar que o calor diminuiu ou até mesmo que vai chover. Até que aquele grande algodão doce se afasta do cadeirão e o calor fervente volta a clarear tudo.

Podemos admirar o dia novo, bonito e brilhante. Ou reclamar e até mesmo nos frustrar porque na verdade queríamos que chovesse.

Assim, como tratamos uma ilusão reflete mais do que estamos sentindo no momento... E não o que realmente está acontecendo.

Nossa mente, falha e limitada, vai pregar ansiedade em nós quando simplesmente não somos atendidos com o que queríamos, quando na verdade a única coisa que precisávamos era de um dia quente com um lindo céu azul!

Naquela manhã os dois meninos estavam de folga mas ainda não haviam se falado até o meio-dia.

Charles pensava em mandar mensagem, estava com vontade de tê-lo por perto, sentir sua presença e ser amado. Em sua mente, eles mereciam a companhia um do outro e estavam bem. O contrário, com toda certeza, do que ele havia sofrido em seu pesadelo.

O garoto fez uma anotação mental de que não contaria ao parceiro sobre o sonho... Se fosse para viver ilusões, um bom filme já bastaria.

— Te encontro às 19h, no shopping...

— Você tá falando sério?! — Charles ativou o modo viva-voz e deitou o celular sobre a cama. — Vamos ver qual filme?

— Ah cara... Eu nem sei. — O riso de Jeremias do outro lado era um pouco nervoso. — Na verdade está tendo uns problemas aqui em casa e eu...

— Você não precisa ir. Se não quiser.

— Vai almoçar agora? — A mãe de Charles lhe perguntou assim que o viu sair do quarto.

— Quem é?
 
— Sua sogra! — Charles pegou o celular sorrindo e deu a sua mãe.

Que simplesmente orgulhosa do seu filho estar amando alguém, pegou o rumo de uma conversa aleatória com Jeremias.

Do lado de fora da casa, enquanto já pegava alguma roupa seca para tomar um bom banho, Charles olhou para o céu e pensou no universo... Ele não sabia o porque... Já estava afastado a todo momento disso que já não mais sabia como agir. Ignorou a intuição e seguiu para o banheiro.

— Vocês vão sair? — Sua mãe perguntou.

— Ele disse que sim né... — respondeu sorrindo. Levando seus melhores produtos para o banheiro e se preparando para uma das melhores noites que ele queria proporcionar.

Algumas horas se passaram e Charles não queria demonstrar sua ansiedade mandando muitas mensagens. Apenas esperou o ônibus e partiu, levando a benção de sua mãe e a esperança de uma noite feliz.

Chegando ao Shopping, o som da notificação no celular o despertou.
 
Era uma foto.

— Meu Deus amado, parece que vai a um casamento! — Ele falou em voz alta em um áudio como resposta.

Passando por lojas e corredores, a foto que antes estava na memória agora era carne e osso e estava de braços estendidos vindo correndo para o abraçar.

O calor, perfume e coração acelerado de ambos os encontraram e agora sim... Não era mesmo possível que aquela noite fosse real!

Mas foi...

O filme em cartaz era O Gato de Botas 2.

Era animador e contagiante ver como automaticamente a criança interior daqueles dois garotos pularam de alegria junto com o comprovante de ingresso que já carregavam em mãos juntos com a pipoca.

O filme, até então feito só para animar, passou a mensagem de o quanto precisamos de alguém em momentos de ansiedade mas também falou sobre o quanto quem amamos pode nos esperar, mesmo que a gente fuja dela o tempo todo.
 
— Você ficou tão silencioso durante o filme. — Charles pontuou aquilo ainda segurando a sua mão, firme, igualmente como tinham ficado em todas as cenas. — O que está rolando em casa?

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