23 - SALVAÇÃO

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O silêncio no amor deveria ser algo normal: prático, dinâmico e que não trouxesse nenhuma noite de choro.

Amar com calma, um ao lado do outro, sem gestos exagerados o suficiente que fizessem você provar a todo momento que ama, deveria ser natural.

Mas pelo visto, as pessoas não são assim.

Elas precisam, a todo custo, serem colocadas à prova.

Presentes, um "eu te amo..." ou apenas um segurar de mãos, são obrigatórios no dia a dia.

Sem tudo isso, as coisas se tornam frias, congelam e morrem.

As pessoas não sabem mais viver sem sentir algo.

Não sabem escolher amar sem ter as borboletas no estômago e encarar aquilo como uma escolha.

Precisam que tudo seja como fogos de artifício explodindo em alto mar. Se não houver explosões, elas preferem afogar o amor tão profundamente que nunca mais possam encontrá-lo novamente.

Charles estava entupindo os ouvidos de músicas tristes, eram seu consolo, o que o fazia chorar até se jogar no chão do banheiro antes de começar a trabalhar.

Jeremias mantinha a mesma energia, animado e sorridente.

Mas seu sorriso não encontrava seu amado, apenas seu olhar o procurava a todo instante, pois não era mais possível encontrá-lo.

Não havia mais sincronia, emoção ou nem mesmo pequenas palavras...

Charles se movimentava e trabalhava como um robô. Frio.

Ele tinha decidido dar o castigo do silêncio, uma grande forma de tortura dentro do relacionamento.

Depois da noite sem palavras, vinham o choro e o desmoronar na cama quando chegava em casa.

Noites de choro, enquanto ele sabia que seu amado apenas descansava. Então... Tudo se transformava em mensagens apagadas.

"Eu... Ainda te amo tanto. Sabe. Não queria que as coisas tivessem terminado assim. Queria você comigo! Aqui. Para sempre... Me casar com você. Ter você."

MENSAGEM APAGADA.

Duas músicas tristes...

Digitando...

"Jeremias. Está dormindo? Desculpa as mensagens. Só queria que soubesse que te amo, tá?... Não esquece. Para sempre seremos nós!"

Essa vai ficar. Ele pensava.

Logo depois...

MENSAGEM APAGADA.

Uma música triste. Charles guarda o celular. Não adianta. Ele não pode mais fazer nada.

Uma semana se passou. E o silêncio do amor ainda era o mesmo. Aquilo doía tanto que ele já não conseguia suportar.

Chegando no trabalho com suas músicas amargas, ele chorou novamente no banheiro, se trocou e desceu com o semblante pálido.

— Onde está Jeremias?

— Eu não sei. — Carol, sua amiga, o olhava preocupada.

— Tá acontecendo alguma coisa? Parece que ele chegou mas não estava bem e então foi para o hospital.

— Hospital?

O coração de Jeremias agora eram fogos de artifício.

— Como assim?! Ele está bem?!

— Charles. Você está bem?

— Eu estou. Onde está Jeremias? Me fala!

— Charles! Respira!

Na mente do garoto, ele só perguntava e perguntava... Mas por fora, seu corpo tremia e ele não parecia mais conseguir respirar.

Era uma crise de ansiedade.

Todos do trabalho já estavam à sua volta, o abanando, oferecendo água e tentando lhe dar o máximo de ventilação. O chamando de volta.

Ele já estava longe, sua mente demoronava e as explosões em seu peito não paravam. Seu amado não estava bem. Seu ar já não existia.

Jeremias precisava de ajuda. Seu coração disparava e seu choro por socorro era alto.

Finalmente o amor estava fazendo barulho.

Nada de silêncio, mas sim uma crise altamente barulhenta.

Uma enorme explosão e nenhuma mão para segurar.

Charles estava à beira do colapso e do precipício. Mas ele só pensava em uma coisa:

Jeremias precisava ser salvo!

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