31 - DESPEDIDA

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A dependência emocional existe e precisa ser curada antes que o amor se torne uma tragédia.

Na manhã seguinte, Charles lembrava-se constantemente da sensação que teve ao sair do hotel com Jeremias.

"Eu te amo..."

Ele havia dito as mesmas palavras para seu amado, que anteriormente havia deixado claro que não estava pronto para amar.

Diante disso, o rapaz, imerso em pensamentos ansiosos, não conseguia mais definir o tipo de relacionamento em que estava envolvido.

Em sua mente, só passavam ideias de que agora ele estava impedindo Jeremias de viver, de se relacionar com outras pessoas.

Na cabeça de Charles, ele imaginava que estava namorando o namorado de outra pessoa e não o seu. Jeremias não era algo que lhe pertencia, mas algo que ele deveria quebrar uma promessa que ele mesmo havia feito.

"Eu nunca vou desistir de você!"

Dizer isso para Jeremias ia além do "Eu te amo." O garoto também não estava acostumado a não ser abandonado e, de certa forma, isso explicava porque ele tinha tratado o amor verdadeiro de Charles daquela forma por todo esse tempo...

Ele sabia que, a qualquer momento, alguma tragédia aconteceria e tudo teria um fim trágico, o que o faria sofrer pelo resto da vida.

"Eu quero pedir demissão..."

O chão sumiu debaixo dos pés de Charles quando ele ouviu aquela frase vinda da gerência. Ele não queria acreditar que aquela era realmente a voz de seu amado.

Ele saiu correndo pelas escadas e voltou a trabalhar normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Durante o expediente, várias vezes ele se aproximou de Jeremias e percebeu que, de certa forma, ele estava feliz...

Mas por quê exatamente?

Já haviam se passado algumas semanas desde que estiveram juntos pela última vez e, apesar de algumas crises ainda constantes, Charles sentia que o namoro entre eles estava indo bem... Até certo ponto.

— Tchau, amado. Preciso ir. — Charles tentou abraçá-lo, mas antes disso, viu em seus olhos que ele tinha algo para contar.

— Charles... — Ele começou. Em seu semblante estava escrita aquela palavra que tantos odeiam... Despedida. — Eu quero dizer que te amo muuuuuito mesmo e que te agradeço por todo apoio até agora.

— Mas o que houve? — Os corações de ambos disparavam sincronizados.

— Passei em um concurso importantíssimo que havia estudado há alguns anos e a partir de amanhã não estaremos mais juntos. Pelo menos no trabalho...

— Eu não acredito!

Charles estava feliz, mas seu mundo também estava desabando na mesma intensidade.

— Isso quer dizer que não vamos mais nos ver?

— Talvez sim... Mas podemos tentar.

— Não...

O semblante de Jeremias ficou petrificado, mas ele queria que Charles terminasse de falar o que tanto queria.

— Meu único desejo agora é que você viva e seja feliz.

— Mas eu quero que seja ao seu lado.

— Eu também quero isso. Mas se não for possível...

— Podemos nos casar. — Jeremias falou, nem reconhecendo as palavras em sua boca.

— Sim. — Charles concordou. — Mas também podemos entender que seremos tudo o que quisermos... Porque sabemos criar isso.

— Então isso é um Adeus? — Jeremias perguntou, subindo as escadas para pegar seus pertences.

A mesma escada que, oito meses antes, tinha descido junto com seu amado e vivido uma das melhores memórias de sua vida.

Naquele instante, ele subiu sozinho, para buscar seus pertences e descer sozinho também...

Seu último dia de trabalho no Café.

Sua derradeira oportunidade de viver um verdadeiro amor.

— Isso não é um Adeus... — Charles respondeu, com o mesmo dom que tinha para concluir assuntos que pareciam encerrados. Depois, enquanto observava seu amado segurar a porta de saída pela última vez, finalizou dizendo:

— É um até breve!






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