18 - PESADELO

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O maior mistério do universo é como ele organiza o roteiro da nossa vida para simplesmente nos ensinar as coisas. Tipo, não é tudo simplificado e, por incrível que pareça, é você quem deve tomar as decisões e aprender com elas.

Naquele dia, Jeremias chegou em casa, brincou com o cachorro, riu, respondeu o "Boa noite, amado." que Charles havia mandado apenas com um "Boa." e depois de tomar banho e comer, foi dormir.

Com o passar das horas, a escuridão de seu sono foi tomada pelos movimentos que ele fazia para os lados, com pressa e a respiração pesada. Jeremias já estava em outra fase do sono e sua mente estava preparando o filme que iria passar...

Em seu sonho, ele acordou.

— Maninha? — Ele se levanta, vai até a porta do quarto e abre desesperado ao ver que sua irmã não estava ao seu lado. A garota, com a mesma roupa de ontem, estava na cozinha, com algo brilhante e pontudo na mão...

Uma faca!

Jeremias não pensa duas vezes, porém, mesmo sendo rápido, não consegue evitar que a garota ainda encoste a ponta do instrumento no pescoço e faça um pouco de sangue descer. Quando o vermelho invadiu sua imaginação, seu coração acelerou junto e seu corpo pulou da cama automaticamente, até se acalmar ao perceber que tinha acabado de sair de um pesadelo e que sua irmã estava ao seu lado.

Dias depois, quando ele resolveu contar isso a ela, Charles também tinha virado assunto... Mesmo que ele não tivesse nenhum envolvimento entre os dois.

— Eu tentei fazer algo parecido... — Ela confessou, enquanto se ajeitava no sofá.

Como assim? Então aconteceu alguma vez? Você se machucou?

— Não... — Ela rebateu, respondendo enquanto seus olhos ardiam e a vontade de chorar invadia seu peito.

— Como assim? Explica isso melhor. Me perdoa! — Ele a abraçou desesperado. — É que o Charles...

— Espera. Não... — Ela rebateu. — Você não pode colocar ele nisso.

— Sim... — Ele disse. — Eu sei disso. Mas eu não deveria ter soltado o seu lado.

— Você não tem culpa!

— Tenho sim...

— Para e pensa... — Ela pegou em suas mãos e parece que aquele toque era tão especial, que o abraço não havia conseguido, mas aquilo fez suas lágrimas caírem dessa vez. — Estamos vivos!

Eu não posso perder você! — Jeremias queria desabar. Mas não podia. Em sua mente só existia o foco do quanto sua irmã precisava dele naquele instante.

— Não pode perder seu amor também...

Aquela resposta tinha deixado claro. Que de alguma forma, existia uma pressão ali para que Jeremias fizesse uma escolha.

— Eu não posso te perder...

Ele repetiu. Agora, enquanto as lágrimas caíam. Para cada uma, um espaço de tempo. Onde Charles largava do trabalho e lembrava tudo o que aconteceu entre eles.

Mais uma vez, ele envia alguns textos e citações para que Jeremias se sentisse amado.

Não houve retornos ou respostas. Porque nosso menino não tinha ideia que ao longe, Jeremias já havia decidido qual corda ele seguraria.

Agora, existia uma prioridade importante.

Ele jamais iria permitir que seus pesadelos se tornassem realidade.

Algo bom, porém ruim para Charles, que nunca poderia nem pensar em ser protagonista de um sonho onde ele seria a perda de alguém.

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