25 - TEMPO

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A consciência humana é frágil e perigosa. Ela está cada vez mais propensa a imaginar que é o centro de tudo.

Quando paramos para observar, nada e nós mesmos dependemos de outro ser vivo para sobreviver.

Todos se sustentam sozinhos, mas ninguém é o centro.

Para ser algo no universo, precisamos ser um deus. E na realidade, somos apenas seres cada vez mais fracos e em perigo, tentando sobreviver...

Depois de várias batidas de palmas e chamando seu amado em voz alta, Charles não resistiu aos vizinhos já incomodados e resolveu sair da frente da casa de Jeremias.

Várias coisas passavam em sua mente e seu peito queimava de agonia... Ele já não sabia se deveria ou não voltar.

Porém, a vontade de não desistir do seu amado era maior, então ele decidiu esperar.

Ali, próximo à casa de Jeremias, havia uma praça, então ele decidiu se sentar e ouvir um álbum de seu cantor favorito até dar a hora em que com certeza o garoto se acordaria para buscar sua irmã na escola.
Uma hora depois...

"Bom dia, amado... Desculpa. Acabei dormindo. Você está bem?"

"Oi..."

Finalmente, ele tinha acordado. Já era meio-dia e Charles estava com fome.

"Estou bem."

Ele continuou digitando.

"Te esperei mais de uma hora e você não acordou. Então eu decidi vir até aqui."

"Aqui?! Onde? Na minha casa?"

"Sim..."

"Meu Deus... Então espera aí que já estou indo!"

Charles não tinha ideia se ele estava bem. Se suportaria tudo o que ele queria conversar, mesmo assim esperou... Ele ainda veria o seu amado, o dia não estava perdido.

Alguns minutos depois, Jeremias veio caminhando e seu rosto era devastador. Ele não estava triste, nem feliz... Estava simplesmente sem vida.

Charles se levantou e não o segurou, o abraçou ou beijou. Apenas se convidou a acompanhá-lo até a escola.

Como todas as vezes, não sabia o que falar quando estava ao seu lado, então preferiu pegar o texto que havia escrito em seu celular e entregá-lo para que ele lesse:

O texto no bloco de notas foi rolando nas mãos de Jeremias:

"Bom dia, universo... Então, essa é a última vez em que eu vou te mandar uma mensagem falando sobre isso. Pois não quero que... Não podemos repetir nada disso. Tínhamos realmente um império a construir, e eu não sei como tudo se arruinou ou como toda essa porcaria afundou... Amei mais... Fui emocionado e me entreguei demais diante das centenas de promessas. Desafiei a mim mesmo e venci... Não sei quando tudo foi verdade ou quando foi mentira. Mas na última vez que te abracei, senti o frio. Não foi como o primeiro abraço. Aliás, nada é como antes... Estamos quebrados. Mas você está bem, e fico feliz por isso. Eu, apenas eu vou chorar quando lembrar que talvez tenha sido e ainda sou idiota por manter o que estou sentindo. Mas aprendi que tudo passa. Tudo vai passar. Espero que tenhamos, eu tenha, aprendido muito com tudo isso. Que nossas vidas não sejam tão cruéis quanto estamos sendo com nós mesmos. Mas que possa nos levar para um bom caminho. Um onde possamos ficar bem... E um dia lembrar de tudo o que vivemos com um breve sorriso. Você vivendo a sua, e eu a minha... Dói sentir a solidão de novo, saber que a alegria de ter alguém correndo do lado mudou porque agora eu vou correr sozinho atrás dos objetivos. Tudo vai doer... Tudo vai virar uma grande tragédia! E por mais que eu ache injusto ou não queira... Não existem regras nesse jogo. Apenas quem perde... E eu perdi. Eu espero que se cuide, fique bem. E um dia possa ser grande como sempre sonhou! E quando chegar lá, pule, comemore, grite para o mundo que VOCÊ CONSEGUIU! Pois você merece. De algum lugar, eu vou estar torcendo e comemorando a sua vitória. Pela última vez... Obrigado por tudo! Se cuide..."

Talvez Charles tivesse escrito aquilo há muito tempo, apenas esperando aquela bendita oportunidade. Mas ver seu amado lendo aquilo ao seu lado foi intenso.

— Me desculpa... É porque eu só não consigo focar nisso agora. — Jeremias devolveu o celular a Charles e parecia que estava entregando sua vida nas mãos dele.

— Eu também peço desculpas. Porque querendo ou não, fiz uma promessa de não desistir e estou aqui... Sendo rude sobre isso.

— Charles... Não quero que se culpe. Você foi o melhor e sempre vai estar no topo. Só não é a hora e eu não me sinto bem.

— E o que você sente exatamente...?

Jeremias respirou fundo enquanto eles atravessavam a rua e do outro lado respondeu:

— Nada... Só uma vontade de focar no meu profissional e no meu futuro.

— Mas isso é bom! Não é como se você estivesse morrendo...

— É sim! – Jeremias rebateu.

— Por que?

— Pelo simples fato de que você, Charles, sempre foi minha esperança. E te perder agora não me dá muitas vantagens. Me faz sentir como se não tivesse mais nada!

— Mas você não precisa me perder. – Charles falou isso com uma imensa vontade de segurar as mãos que já conhecia tanto como se fosse uma parte de seu corpo.

— Eu já te perdi...

O silêncio no meio do caminho só não era completo pelo leve sopro das árvores próximas à escola da irmã de Jeremias.
Ela correu para abraçar Charles quando o viu. E na volta do caminho, eles estavam sorrindo. Ela, Charles e Jeremias... Brincando juntos.

Atravessando a mesma rua novamente, Jeremias olhou para Charles e disse as mesmas palavras que estavam em seu pensamento, porém em voz alta:

— Acho que estou voltando a sentir algo novamente!

Então assim, a missão estava quase concluída e nosso garoto ficou feliz por não ter desistido de seu amado.

Ele estava de volta, com vida e alegria.

Eles voltariam para casa, ficariam felizes e mais uma vez não se importariam com o anoitecer.

Apesar de em nenhum momento Charles ter dado sinais a Jeremias sobre o relacionamento, o que importava para ele agora era a alegria de estar com os amigos e seu amado no fim do dia.

Todos felizes e principalmente Jeremias de volta, com vontade de viver.

Amanhã, ele falaria sobre o amor.

Conversaria sobre o que tinha acontecido.

Hoje a noite fecharia com chave de ouro, e ele voltaria para casa cansado, mas satisfeito, pois havia curado quem o amava muito.

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