27 - PENSAMENTOS

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Renunciar a algo porque aquilo não lhe acrescenta é a mesma sensação de arrancar algum dedo aleatório das mãos.

Não é questão de importância ou por que você não precisa, mas sim porque, tirando aquela parte que pode estar machucada ou doente, vai te ajudar a sentir apenas a maior dor da despedida ao invés do sofrimento constante de cuidar de algo que não vai mais conseguir melhorar. 

Naqueles dias, Charles ainda não estava preparado para o abandono.

Então seu coração disparou com a mensagem, suas esperanças renasceram e tudo voltou a como estava antes.

No trabalho, alguns dias antes, ele tinha entrado em acordo com sua gerente para que naquele fim de semana ele pegasse em um horário mais tarde, o mesmo que Jeremias. Que, para sua alegria, ficou extremamente feliz em saber que trabalharia mais tempo ao lado de seu amado e teriam um pouco de chances para se resolverem e conversarem.

Passaram o dia trocando mensagens sobre isso, buscando matar a saudade que o tempo e a tristeza de Jeremias haviam plantado entre os dois.

O rapaz por si, sentia talvez no dever de dar algo para Charles. Não físico, mas com sentimentos, para de certa forma preencher aquele vazio que ele mesmo havia criado.

— Oi...

O som daquela voz o fazia estremecer.     

Nesse instante, Charles estava sentado no banheiro, ainda ofegante por ter corrido para abrir a porta quando ouviu a campainha tocar e já sabia que Jeremias havia chegado.

— Quer dizer que você vai ficar comigo hoje. — O sorriso de canto de Jeremias demonstrava sua satisfação.

— É o que parece! — Charles respondeu devolvendo um sorriso carinhoso também.

— O que achou da mensagem?

— Normal.

Jeremias parou de tirar a roupa. Sua farda já estava fora da bolsa.

— Normal?

— Sim. — Charles rebateu. — De certa forma, eu também ainda penso em você...

Agora, só de cueca e sem medo que alguém abrisse a porta, Jeremias se aproximou do seu amado ao entender naquela frase que ele ainda o amava.

Sem mais palavras, apenas suspiros ansiosos e iguais a várias vezes, os dois se beijaram e suas mãos voltaram a dançar sobre suas peles. Era o mesmo calor, as mesmas emoções e as mesmas reações de prazer.

Claramente, tínhamos dois jovens que se amavam.

Ou o amor e prazer são coisas diferentes? 

Para Charles, as questões não importavam.

O que realmente o fazia feliz agora era que depois que se beijaram e supostamente se amaram, os dois estavam lindos de farda novamente e brincando sobre quem sairia do banheiro primeiro para que nada parecesse suspeito entre os dois.

Já sentados e esperando somente o horário para começarem a rotina, eles se olhavam apaixonadamente...

— Aqui estamos! Prontos para conversar sobre tudo... De novo...

— Charles. — Jeremias segurou sua mão — Eu realmente quero construir um império ao seu lado e eu não vou desistir disso tão fácil.

— Mas... Eu preciso que você tenha certeza que é isso que quer.

— Eu sempre tive certeza. Desde o início.

— Então por que quis desistir de tudo?

— De mim. – Jeremias corrigiu.

De nós... — Charles apertou sua mão.

O olhar de Jeremias não discordava e também não apoiava aquela reação do rapaz porque sua mente, enquanto estavam juntos, só conseguia sentir paz.

— Vamos ao Marco Zero amanhã. — Jeremias deu a ideia, se levantando e indo bater o ponto. — Ver o amanhecer, recomeçar de novo e ficarmos juntos. Não vamos estragar nada dessa vez...

Charles, calado, se levantou e o acompanhou enquanto batiam o ponto juntos para começarem a trabalhar, também juntos, também unidos.

Enquanto mais uma vez os dois amados desciam a escada, um deles com certeza tinha em seu coração aquele desejo de que tudo continuasse assim. Em sincronia e união, iguais...

Até que finalmente o amanhecer chegasse.

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